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Música, Rui Reininho, 20.000 Éguas Submarinas
©Afonso SerenoRui Reininho

Rui Reininho: “A minha praia é o pop-rock. Não tenho pretensões”

Os concertos de apresentação de ‘20.000 Éguas Submarinas’ são retomados em Lisboa. Falámos com o cantor sobre gongos, taças e vibrações.

Hugo Torres
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Hugo Torres
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Opus musical, literário e cinematográfico, 20.000 Éguas Submarinas é um mergulho no imaginário imenso de Rui Reininho, nas suas inquietações e deslumbramentos – e nas suas lutas. É um álbum como nenhum outro em que o tenhamos ouvido, nem a solo nem com a banda de sempre. Está noutra sintonia, embora o tenha concretizado com dois antigos companheiros dos GNR. O teclista Paulo Borges, que integrou a formação como músico convidado na segunda metade da década passada, produziu. O fundador e guitarrista Alexandre Soares “apareceu imenso” durante as gravações e acabou por completar o “núcleo duro”. “Acompanhou tudo e aconselhou imenso. Ouvia as coisas todas”, recorda Reininho. “Voluntariou-se.” É esse o trio que tem feito os concertos de apresentação, que são retomados esta sexta-feira na Culturgest, em Lisboa, e sábado no gnration, em Braga, com mais dois músicos: o percussionista Pedro Oliveira e o saxofonista Julius Gabriel.

Nas mãos de Rui Reininho não veremos apenas o microfone, como habitualmente. Veremos também gongos e taças tibetanas. “Estou com um pé nos Suicide e outro no Pierre Henry e na Beatriz Ferreyra. Ver aqueles sintetizadores com as cavilhas que depois as pessoas não sabiam onde as meter, só talvez o Keith Emerson. Ele tinha descoberto o moog. Um gongo é um moog, é uma coisa incrível. Se uma pessoa tiver paciência, se não tiver mais nada que fazer naquele fim-de-semana senão concentrar-se naquilo, as gamas sonoras que aquelas coisas têm, para mim é um prazer.” Reininho tem as frequências todas anotadas num caderno, para evitar vibrações disruptivas. “Não posso fazer asneiras.”

Música, Rui Reininho, 20.000 Éguas Submarinas
©Afonso Sereno

“São uns sons tão primordiais, tão antigos”, frisa. “Não é aquela coisa do healing, porque somos paz e alegria [risos]. São instrumentos milenares, [que funcionam] da mesma maneira que os sinos chamam para a missa. As pessoas obedecem àquela vibração. Não podemos ter desprezo pelas medicinas alternativas e aquelas coisas, porque aquela vibração tem a ver com a vibração humana. Tenho escrito nos apontamentos, os hertz estão todos lá. Cuidado que isto é a frequência gástrica, esta é do coração, é muito perigosa. Quase como o Kill Bill, dois movimentos e lá se vai o nosso Carradine. Mas não é verdade? As pessoas que ainda estão ligadas a essas coisas ouvem um sino e dizem: olha, morreu alguém. O soar do sino é diferente. Dlim-dlom-dlim-dlom. Olha um casamento! No Oriente é assim. Ouvir e saber.”

Rui Reininho esteve no Nepal há cerca de três anos, num grupo conduzido pela terapeuta de som Jacomina Kistemaker, fundadora do Centro Punta de Couso, na Galiza, que o cantor frequenta desde 2002. Tanto a viagem ao Annapurna Sul, em que sentiu aquelas vibrações de perto, como a experiência com a “maestrina” são elementos centrais em 20.000 Éguas Submarinas (ed. Turbina). “A Jacomina tem discos editados em todo o mundo, com músicos de healing meditation, e quis ter um registo com ela. Só entra no início, mas a presença está lá sempre, através do monocórdio, um instrumento fantástico com 30 cordas afinadas no mesmo tom – o dela, o meu tem só 23, é mais baratinho.”

Há mais no álbum, o segundo a solo depois de Companhia das Índias (2008): a relação com o mar, com a literatura fantástica e de ficção científica, com o cinema. Desde logo as Vinte Mil Léguas Submarinas que dão origem ao título, embora devidamente enquadradas nas memórias de Reininho, que está mais ligada ao filme de Richard Fleischer (1954), com Kirk Douglas, do que ao livro de Júlio Verne. Este é, de resto, um disco com ligação directa ao período pré-GNR, à música de vanguarda da Anar Band. É um regresso? “Apenas pela persona. Dou-me conta que aquele anarca de 17, 20 anos continua na minha cabeça, com complacência. Continuo com os meus princípios, um pouco como a Revolução Francesa: Liberté, égalité, fraternité – e imbécillité. O espírito está lá.” Como estão lá muitas das referências duradouras de Reininho, que nem sempre puderam vir à tona nestas décadas. “Há ali quase um caderno de anotações, coisas muito antigas que fui buscar. E há um lado lo-fi que queria manter, não queria ser pretensioso. Porque de facto a minha praia é o pop-rock. Não tenho pretensões a mais.”

Culturgest. Sex 21.00. 20€.

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