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Sá Aranha & Vasconcelos
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Sá Aranha & Vasconcelos: que histórias contam estes objectos?

Ao fim de “40 anos a inventar peças”, a Sá Aranha & Vasconcelos revisitou o arquivo e lançou a primeira colecção de objectos prontos a levar para casa.

Mauro Gonçalves
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Mauro Gonçalves
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Em 2005, quando Carmo Aranha e Rosário Tello compraram o armazém colossal onde hoje entramos, o Braço de Prata era um ermo. Ainda hoje, quase duas décadas depois, a Rua do Vale Formoso parece um mundo à parte do alvoroço lisboeta. Aqui, as fundadoras da Sá Aranha & Vasconcelos (1985) albergam uma equipa de quase 30 pessoas, um armazém de dimensões generosas, escritórios, um showroom e os ateliers onde a magia acontece, por entre centenas de amostras de tecido, mood boards e protótipos.

A mais recente novidade? Uma linha de mobiliário e decoração, criada a partir de um arquivo quase infindável de camas, mesas, sofás, estantes e toda sorte de apetrechos desenhados para ajudar a tornar um espaço habitável. “Ao longo destas quase quatro décadas, fizemos sempre peças específicas para os projectos. E repare: 40 anos a inventar peças é muita peça. Todos os anos, fazemos muitas centenas de peças diferentes, sem nunca termos posto a possibilidade de fazermos mais do que uma igual. Uma estante até se pode repetir, mas não na mesma cor, não com os mesmos pés, ou estes podem repetir-se mas noutra posição. Isso acaba por ser um espólio gigante”, explica Carmo Aranha, a visão estratégica que guia o negócio. “Às vezes, tenho pena – as coisas são giras para serem feitas uma vez, mas também para serem feitas mais vezes”, continua.

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Já Rosário Tello, a criativa de serviço, começou por resistir à ideia. “A mim, o que me dá pena é repetir”, exclama em conversa com a Time Out. Vencido o estigma da reprodução – ainda que alguns desenhos tenham sido ligeiramente alterados para darem origem a peças inéditas –, há agora um showroom repleto de possíveis compras. O cenário é de revista, nada de novo para um estúdio que se especializou em projectos residenciais e em criar ambientes prontos a habitar.

Entre os 38 itens que marcam o lançamento da loja online, o sofá é a peça-chave. Num compromisso entre rigidez e elasticidade, procurou-se o conforto q.b. para chegar a uma estrutura modular, num tecido texturado, disponível em duas cores: creme e cinza. Quanto às linhas, são suficientemente limpas para fazê-lo encaixar nos mais diversos ambientes. O tamanho mais pequeno (2,20 metros) está marcado a 3900€. “Temos bastantes pessoas que nos procuram para fazer projectos, por vezes, com um orçamento abaixo daquele com que trabalhamos. Agora, vamos ao encontro dessas pessoas, que não podem comprar a mesa, mas compram o sofá, ou que não podem comprar o sofá, mas compram a mesa. Em vez de vendermos o projecto fechado, vamos ver uma casa onde a mesa é nossa e o sofá é de outro sítio qualquer”, afirma Carmo.

Sá Aranha & Vasconcelos
DRRosário Tello (à esquerda) e Carmo Aranha

Mesas de centro e de cabeceira, nichos em fibra, um móvel multiusos, um espelho escultural e uma senhora cama em pele, com a cabeceira estofada em tecido. Nos detalhes de confecção, a Sá Aranha & Vasconcelos reafirma a aposta num trabalho a muitas mãos e estreita a relação com os manufactores nacionais. Tudo, sem excepção, é produzido em Portugal, incluindo uma selecção de pequenos objectos que complementa a linha de mobiliário – são tabuleiros em metal, caixas, candeeiros e almofadas (as peças mais baratas são os livros e velas, custam 56€) que, apesar de fazerem parte deste primeiro lançamento, não serão o principal investimento da marca.

“Acho que vamos captar um público novo, com outra forma de estar e de viver”, refere Rosário, ao mesmo tempo que admite que o timing de lançamento da loja online, operacional há mais de uma semana, não foi deixado ao acaso. “Estamos em Outubro, o fim das férias. É uma altura de retorno ao interior, tal como foi a pandemia. As pessoas querem tratar das casas e dos espaços. A seguir ao Natal é uma altura morta, mas na Primavera, de repente, já toda a gente quer começar a preparar o Verão”, detalha ainda a co-fundadora.

“Esta é a primeira abordagem. Agora, é ir percebendo o que é que interessa mais, o que é que tem mais procura”, acrescenta Carmo Aranha. Sem grandes colecções planeadas e já com a cabeça cheia de ideias, as novas peças vão sendo lançadas online sem a habitual cadência sazonal. Enquanto isso, o estúdio continua a ter projectos em mãos, quase todos casas particulares, onde o luxo se rege por princípios como o conforto e a personalização, mas também pelo serviço chave na mão, outra das opções da nova loja online. “Temos a possibilidade de fazer entrega normal e depois o serviço de luvas brancas, prestado pelo nosso pessoal. Eles chegam, descascam, põem no sítio, limpam e trazem o lixo. Como fazemos nos nossos projectos”, explica Carmo.

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Ao fim de 37 anos a projectar as casas alheias, há princípios que se firmaram como basilares. Carmo Aranha fala no respeito pela “personalidade, carácter e vivência” de cada cliente. Já Rosário Tello evoca os riscos que é preciso correr para contornar a monotonia – “Não gostamos de criar ambientes onde parece que foi tudo feito ao mesmo tempo. É interessante misturar, ser eclético. Não pôr tudo da mesma marca, tudo a condizer. Ter objectos diferentes e de origens diferentes. É isso que personaliza os espaços. Dá-lhes alma.”

Rua do Vale Formoso, 45 (Braço de Prata). 21 845 3070. Showroom por marcação

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