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Sérgio Praia, o novo Variações

Escrito por
Clara Silva
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O protagonista do filme de João Maia sobre António Variações estreou-se nos palcos no NOS Alive com uma banda de covers. Depois disso, há digressão nacional. Falámos com o actor.

É o último dia do NOS Alive e Sérgio Praia recebe-nos nos camarins praticamente com um sussurro. “Está a poupar a voz”, explicam-nos. É o terceiro dia consecutivo de actuações no palco EDP Fado do festival e o espaço tem sido pequeno para tanta gente curiosa com Variações, a banda que surgiu depois das gravações do filme de João Maia, com estreia marcada para 22 de Agosto.

“É igual ao António Variações”, comentam na assistência. As parecenças do actor são óbvias, mas cantar, até este filme, nunca lhe tinha passado pela cabeça. “Têm puxado por mim que nem touros, estou quase afónico”, conta o actor de 42 anos.

Esta é a sua primeira estreia como cantor à séria, com a ajuda do director musical do filme, Armando Teixeira, e do barítono Rui Baeta, seu professor de voz. “Tinha tido algumas experiências, muito tortuosas”, diz Sérgio. “Sempre achei fascinante o poder que um cantor tem de emocionar as pessoas, milhares de pessoas. É quase mágico. Enquanto actor sempre imaginei [conseguir] isso, mas nunca imaginei que fosse no palco do NOS Alive."

A ideia de criar uma banda surgiu durante as gravações do filme e foi depois disso que a equipa recebeu o convite para actuar no festival. “No final das filmagens apercebemo-nos de que havia uma adrenalina muito forte quando fazíamos as músicas ao vivo e que aquilo não podia ficar só para nós”, continua o actor. “Víamos a figuração a ficar muito contagiada e achámos que podia ser interessante partilhar isso.”

O filme demorou 12 anos a ser feito e antes disso Sérgio, o novo Variações, como já lhe chamam, pouco sabia sobre a vida do cantor. “Sabia que éramos os dois do Norte. Quando fui ao casting estudei um bocadinho e percebi que ele era muito ligado à Amália. Aí fiquei desperto, vi que era um ponto de ligação entre nós”, conta.

A pesquisa para a personagem envolveu entrevistas – por exemplo, a Lena d’Água –, mas a certa altura foi preciso parar de falar com pessoas e desenvolver uma personagem. “O lado solitário ninguém conhecia, portanto aí também há muita imaginação.”

Essa foi buscá-la também a outros artistas: “Marisa Liz, Amália, Conan Osiris, Filipe Sambado, David Bowie, Amy Winehouse”, cita. “O bonito [do António Variações] é que ele, já naquela altura, era uma mistela de muita coisa.”

Os concertos de promoção da banda sonora do filme (três, um em cada dia do festival) estiveram a abarrotar. “Acho que [depois do NOS Alive] vai haver mesmo uma digressão nacional com a banda. Há muitos pedidos. É bonito ver que alguém deixa um legado que inspira as gerações futuras através da simplicidade. Foi uma das coisas que mais me apaixonou nele, a simplicidade.”

A homossexualidade de Variações, que morreu em 1984 com sida, será explorada no filme. “Não faria sentido se não falássemos”, diz Sérgio. “Não que isso defina o António ou qualquer pessoa. Claro que isso tem influência nos seus gostos, nas suas escolhas. Mas ele apanhou uma altura complicada, foi maltratado pela sua música e pela forma de se vestir. A última empregada dele contou-me que ele foi espancado por um taxista à porta de casa e também lhe atiraram pedras na Avenida da Liberdade”, recorda. “Não foi fácil, mas ele era um homem duro, do campo. Era esse outro lado que eu gostava de ter visto se pudesse ser mosca, o lado sozinho. Tentámos imaginar como é que ele seria sem a carapaça.”

Variações, de João Maia, tem estreia marcada para 22 de Agosto.

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