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Também queremos: tudo o que invejámos de outras cidades em Janeiro

Escrito por
Luís Leal Miranda
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Uma biblioteca à beira-mar, um bar de robôs ou um lugar par dar festinhas a animais. Nós também queremos!

1. Um bar de robôs

Ou melhor, um bar para humanos com autómatos que servem bebidas. Como o The Tipsy Robot, em Las Vegas.

O The Tipsy Robot precisou de recorrer à mais avançada tecnologia para conseguir contratar staff que não vem com a conversa “Ah queria uma cerveja, já não quer!?” ou insistir em explicar a diferença entre “um copo de água” e “um copo com água”. São robôs, sem sentimentos, sem sentido de humor e sem a capacidade de nos julgar se pedimos um panaché em vez de uma cerveja normal (é tão fresquinho!). Os nove braços robóticos deste bar preparam cocktails com uma precisão, huuummm..., robótica. Os pedidos são feitos através de um tablet, o que elimina também o interessante jogo de tentar que o barman olhe para nós e perceba que existimos. Felizmente os DJ são humanos, senão teríamos de passar uma noite inteira a ouvir Kraftwerk ou  o “Olha o Robô” dos Salada de Frutas. Em Lisboa gostávamos de ter um bar deste género para podermos sair à noite com o nosso robô de cozinha. Mas devia haver também um bar de temática Harry Potter para a varinha mágica não ficar triste no armário da cozinha.

2. Uma biblioteca de rua como esta

Chama-se Rapana e fica em Varna, cidade costeira da Bulgária.

"Kŭde e bibliotekata?”. É assim que se pergunta “onde fica a biblioteca?” em búlgaro. Não é curioso que esta seja uma das primeiras frases que aprendemos numa língua nova? Sabemos o caminho para a biblioteca e depois? Só vamos estar preparados para compreender um livro passadas umas dezenas de aulas. Mas no caso da Rapana, em Varna, a pergunta é pertinente – independentemente do nosso nível de búlgaro. A biblioteca de praia desta cidade à beira-mar é um fascinante conjunto arquitectónico capaz de cativar até pessoas que não usam no seu dia-a-dia a expressão “conjunto arquitectónico”. Esta estrutura ao ar livre foi desenhada por um conjunto de jovens arquitectos que quis salvar da extinção o livro, espécie ameaçada por outras formas de entretenimento que envolvem mais ecrãs e menos letras. O edifício, em forma de concha, é todo feito em madeira – mais de 240 peças juntas num Lego gigante capaz de albergar mais de 1500 livros. Os leitores podem sentar-se à sombra com um livro ou enchê-lo de areia de uma das praias de Varna. Em Lisboa já temos livros em cabines telefónicas e quiosques, mas gostávamos de ter uma biblioteca à beira-rio para quando nos dá aquela vontade irreprimível de citar os Lusíadas.

3. Um super-minigolfe

Como o Swingers, em Londres, um clube de golfe para pessoas minicompetitivas.

Ah, o minigolfe. O pingue-pongue dos tacos. O pónei dos desportos sofisticados na relva. A versão acessível ao comum dos mortais do jogo preferido dos “um-percentistas”. O desporto que nos anos 80 foi muito popular nas localidades portuguesas à beira-mar (um passatempo para quando o tempo ficava ruim), ganhou nova vida em Londres graças à combinação tacadas+copos+comida. O Swingers, clube de minigolfe situado numa aborrecida zona de escritórios de Londres, oferece uma versão sofisticada deste jogo de baixa competitividade: há duas pistas de nove buracos cada, com uma decoração esmerada que vai muito para além do brutalismo acidental dos nossos campos (cimento pintado e pronto, já está). E como estamos em 2018, é claro que o Swingers tem um elegante bar de cocktails e várias bancas de street food – street food debaixo de um tecto é uma coisa um pouco bizarra, mas a verdade é que já há muita street art em galerias de arte, por isso as coisas equilibram-se. Também há DJs, organizam-se festas e marcam-se encontros de team building. Mas o mais importante é que permite a qualquer pessoa, por dez libras, desanuviar depois de um dia de trabalho a dar umas tacadas, como se fosse um CEO de uma empresa poderosa que nessa manhã teve de abdicar de um bónus de um milhão.

4. Um “fofódromo”

É a tradução possível para “fluffytorium”, um lugar dos infernos para pessoas alérgicas a cães e gatos – e o céu para todas as outras pessoas.

gato

A expressão "ter pêlos no coração" serve para designar pessoas com mau feitio. Está mal. Um indivíduo habituado a conviver regularmente com criaturas de outras espécies – espécies de pelagem abundante – é, por regra, mais dócil que uma pessoa alheia aos encantos da bicharada. Mas depois há o “ter pêlos no pulmão”, isso sim, já é excesso de entusiasmo. No entanto, é muito provável que essa seja a consequência de uma visita ao “fluffytorium”. Esta loja pop-up surgiu em Londres em Outubro do ano passado como forma de promover o livro “Amazing Animals”, uma compilação do Guinness World Records com os animais mais incríveis do mundo. Durante dois dias os visitantes podiam passar as mãos pelo pêlo de chow-chows, pomeranians, poodles (isto são raças de cães) e Maine Coons (isto são gatos capazes de substituir o Chewbacca numa adaptação felina de Star Wars). As visitas duravam 30 minutos e tinham, consta, efeitos relaxantes. Isto se nenhum dos visitantes sofresse de ailurofobia, o medo a gatos. Que, já agora, é uma fobia partilhada por pessoas como Hitler, Napoleão ou Mussolini. Esses sim, famosos por ter “pêlos no coração”. Ou, bem vistas as coisas, pêlos no lugar do coração.

5. Uma beira-rio como a do Sena

As berges parisienses ganharam nova vida em 2013 e deram ainda mais graça ao rio. 

Eram dois quilómetros e meio de estradas, parques de estacionamento e contentores. O tipo de sítio rico em monóxido de carbono e alcatrão onde não queremos estar mais de um minuto. Mas em 2013, depois de um investimento de mais de 35 milhões de euros, a margem esquerda do rio Sena tornou-se num dos sítios mais agradáveis da cidade: uma zona pedonal com esplanadas, quiosques, bancos de jardim, restaurantes, cinema ao ar livre, jogos de tabuleiro, jardins flutuantes, paredes de escalada, um skate park, parques infantis e uma praia artificial (só no Verão). Existem ainda os espaços Zzz, disponíveis para quem os quiser alugar e fazer ali festas de anos, almoçaradas ou demonstrações da tupperware. O estilo de decoração é industrial chic, inspirado na outra vida daquele espaço, e há muitas paredes cobertas por arte urbana. O projecto Les Berges de la Seine veio dar vida a uma zona incaracterística da cidade, entre a Ponte Alma e o Museu d’Orsay. Todas as actividades são gratuitas (existe um programa extenso de entretenimento para a garotada) e aqueles que lamentam a perda de mais uma estrada e lugares de estacionamento podem chorar em qualquer lado, sem custos. Em Lisboa já estivemos mais de costas voltadas para o rio, mas não fazia mal nenhum colocar uma biblioteca, um jardim e um parque de trampolins nas Docas em vez de mais um bar de salsa.

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