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The Wink House
© Arlei Lima

The Wink House: entre e sente-se, que o pós-modernismo convida

Durante dois meses, belíssimos exemplares de mobiliário pós-moderno mudam-se ali para os lados do Lumiar. Italianas, escandinavas ou portuguesas – a proposta é para apreciar (quiçá comprar) as silhuetas do design dos finais do século XX.

Mauro Gonçalves
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Mauro Gonçalves
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Os olhos são os primeiros a brilhar logo à entrada, tudo por causa de uma cadeira desenhada pelo dinamarquês Verner Panton nos anos 70, para a prestigiada Fritz Hansen. O laranja intenso do estofo é só um dos chamarizes da The Wink House, um showroom (/galeria/loja) que há um mês se instalou numa antiga moradia desocupada, ali para os lados do Lumiar. Para aqui, Joana Pinheiro e David Lopes trouxeram uma amostra do que passaram os últimos anos a coleccionar. E, mesmo que tenham ficado com o melhor em casa, alguns tesouros do mobiliário pós-modernista dos finais do século XX vieram aqui parar e sim, estão à venda.

The Wink House
© Arlei Lima

“Quando me mudei para Portugal e fomos vivier juntos, já tínhamos a cada toda mobilada e ainda tinha dois armazéns, em Barcelona e em Ibiza, com as minhas casas anteriores. Sempre tive uma relação afectiva com os objectos. E era um gosto estético, não tanto por ser um estudioso do design”, começa por esclarecer David.

A dupla chegou a ter uma pequena loja nos Anjos e, mais tarde, um showroom generoso no Campo dos Mártires da Pátria. Mas aí a selecção era outra – design escandinavo e linhas mais industriais, com espaço para marcas portuguesas como a Olaio, a Altamira ou a Interforma. A pandemia foi uma paragem forçada para David e Joana, mas também uma oportunidade para afunilar a busca. As preferências do público também estão a mudar, com o revivalismo das cores e das formas a avançar umas quantas casas.

“Estudámos imenso e isso influenciou um bocado o tipo de peças que escolhemos. Gostamos muito de Florença, do design da arquitectura radical, daqueles pós-modernismos mais malucos, do movimento do Memphis, do Alchimia, do Superstudio. E depois também temos uma predilecção pelo design português dos anos 80 e 90, muito ligado à Loja da Atalaia, que produziu na altura uma série de peças incríveis com designers emergentes”, completa David.

The Wink House
© Arlei Lima

O mundo está outra vez a olhar para o design italiano, para os plásticos e para os lacados, para as cores que berram no meio da sala e que chegam em bloco. E é precisamente esse o recheio do projecto pop-up The Wink House, que vai de peças de autores como Philippe Starck, Vico Magistretti – autor da cadeira Maui (também ela aqui presente), a primeira a ser produzida com assento e costas compostos por uma única peça – ou Raul Barbieri e objectos sem assinatura, como o espelho de moldura cor-de-laranja, em plástico, ou um animado set de copos. Pelo meio, há alguns objectos Ikea, vindos directamente dos anos 90.

“Recuperamos pelas que de outra forma iriam parar ao lixo. E depois temos este grande fetiche por plásticos. Se já está feita e dirou 20 ou 30 anos até agora, e pode muito bem durar mais 50, façam favor de usar”, acrescenta David.

O intervalo de preços é abrangente e democrático, com pequenas peças a custarem menos de 100€ e criações de autor, umas mais raras do que outras, a irem além dos 3000€. Mas há mais – design português, nomeadamente. Aqui, surge representado por João Chichorro e pela mesa desenhada para a Olaio nos anos 80, mas também pelas AEIOU, cadeiras de António Cruz Rodrigues. "Gostamos de dar acesso a estas peças, que qualquer pessoa possa ter um apontamento em casa e divertir-se. A ideia é essa: acordares e teres o que gostas à tua volta", completa Joana.

The Wink House
© Arlei Lima

O convite para habitar este espaço, compartimentado como uma casa e acessível através do Safra Lx, estendeu-se a artistas contemporâneos. Os casacos pintados à mão são de Binau, as cerâmicas sobre a mesa foram feitas por Vítor Serrano, a tela branca sobre o sofá verde está assinada por André Costa, enquanto as peças bem mais escultóricas espalhadas pela sala são de Elizabeth Prentis. "É um projecto, em termos de escolhas e de conceito, como não há em Portugal. Está alinhado com uma série de outros projectos que acompanhamos em Espanha, na Holanda, na Escandinávia, etc... E resulta de três anos de pesquisa. Para nós, funciona como algo passional – primeiro apaixonamo-nos pelas peças e só depois é que vamos ver de quem é que são. A condicionante é que em Portugal é difícil encontrar coisas realmente boas, mas esse problema vai ser resolvido em breve – vamos viajar Europa fora", continua.

A transversalidade da mostra ajuda a levantar o véu sobre qual o próximo passo da dupla, que já está habituada a reunir designers e artistas em mercados que saltitam pela cidade (o próximo acontece já no próximo fim-de-semana num novo espaço da cidade, o Mirari). Entre Setembro e Outubro, esperam abrir um espaço nos Anjos, morada fixa do projecto Wink, com galeria, lugar para exposições e lançamentos e uma área de trabalho para criativos. “Também estamos a pensar em ter documentários relacionados com moda ou design, em organizar conversas. A ideia é termos um espaço onde podemos colocar tudo o que queremos fazer”; resume Joana. Por enquanto, a The Wink House é a face mais palpável das ambições de David e Joana. Oficialmente, fica de portas abertas até ao final de Junho, mas é possível que chegue ao mês seguinte.

Estrada da Torre, 47A (Lumiar). Qua-Qui 11.00-19.00. Por marcação através do Instagram: @wink.lx

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