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Tragédia Antioxidante: 'Oresteia' estreia este sábado no CCB

Escrito por
Miguel Branco
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Em Oresteia, encenação de Tónan Quito para ver no CCB a partir de sábado, há sangue de frutos velhos. Garantia de quem viu: tudo aqui é incontrolável.

Tróia caiu. Pois, está bem. Mas já antes tinha caído Ifigénia, que Agamémnon, seu pai, decidiu sacrificar em troca de ventos favoráveis para a guerra. E com ela caiu também Clitmenestra, sua mãe, que manchou as mãos de sangue para vingar a filha. Pois, está bem. 

Em Oresteia, de Ésquilo, a mais intemporal das tragédias, já se sabe ao que vamos, se-mataste-vais-ter-de-morrer, não fosse a deusa Atena instaurar um tribunal para dar um fim ao ciclo de vinganças e o fungagá não dava de si. “A partir daquele momento os homens começam a julgar os crimes de sangue. E esse é o momento em que os homens passam a decidir. Os cidadãos não tinham vontade, seguiam o seu destino, a sua fatalidade. É a decisão que aqui importa. Este lado quase incontrolável das coisas. Era sobretudo isso que me interessava trabalhar”, explica Tónan Quito, que se atira a esta peça que afinal são três – Agamémnon, Coéforas e Euménides – unindo um elenco transversal e de luxo: Cláudia Gaiolas, Francisco Camacho, Isabel Abreu, Miguel Borges, ele próprio e Vera Mantero. E a isto junta-se a música original dos Dead Combo, que também estão em cena. “Achei que a música dos Dead Combo ligava muito bem com a questão da tragédia, quase uma música de viagem, isto para poder retirar uma certa emocionalidade no fazer dos actores, virem só contar. A Vera e o Francisco porque sabia que no coro havia dança, umas coisas meio toscas, mas achei que fazia sentido tê-los. Mais do que isso interessa-me misturar várias pessoas. Se quero falar sobre a sociedade quero ter pessoas de várias áreas artísticas para pensarmos o que é fazer a tragédia”, conta. 

Pois, está bem. É que por muito que se defina uma estratégia, uma linguagem de como fazer, de como contar, a tragédia apodera-se de nós, dita-nos os passos, impõe-nos risos nervosos e máscaras de argila. Ousamos até dizer que é ela que toca a guitarra de Tó Trips e o contrabaixo de Pedro Gonçalves, que por sua vez contamina o coro, elemento de escrutínio e de reacção embaçada, que tem tragédia do mindinho à careca, basta ver o ritmo alucinante do discurso, que mais parece vertigem. 

Ou seja, o coro é tudo: “Para o Ésquilo a personagem principal é o coro, portanto a minha vontade como intérprete é fazer o coro, não é fazer o Orestes ou o Agamémnon, como indivíduo revelo-me no todo. E a partir daí sou invocado no coro para fazer a minha personagem”, confessa Tónan. Ora o coro, se é tragédia, é sangue. E é um sangue feito à vista de todos numa liquidificadora, durante a tragédia, à base de romã, tomates, morangos. É o sangue-sumo para quem veio de viagem. Para quem precisa de um refresco. E ainda bem. Já que estamos numa tragédia, que ela seja antioxidante.

CCB. Seg-Sáb 21.00. Dom 18.00. 12,5€-15€.

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