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Três companhias reflectem sobre o que é o teatro em ‘A Nossa Cidade’

É possível fazer teatro reunindo companhias com visões distintas. A prova está em ‘A Nossa Cidade’, uma reflexão sobre a criação artística para ver no Teatro do Bairro Alto.

Sebastião Almeida
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Sebastião Almeida
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O que acontece quando três companhias – Auéééu-Teatro, Os Possessos e Teatro da Cidade – se juntam para dar vida a um texto? “O espectáculo não segue uma linha e baseia-se no confronto das visões de teatro das diferentes companhias”, sugere Guilherme Gomes (Teatro da Cidade). Falamos de A Nossa Cidade – peça que se estreia esta quinta-feira no TBA, em Lisboa, quase dois anos depois do previsto, culpa da pandemia. O texto é de Thorton Wilder, escrito em 1938, sobre a vida na cidadezinha inventada de Grover’s Corners, em New Hampshire, no final do século XIX. Mas já lá vamos.

Queremos primeiro saber como se organiza o trabalho artístico numa criação colectiva. Com horizontalidade, defende Joana Manaças (Auééé-Teatro). “O olhar sobre uma cena tem múltiplas perspectivas, todas elas válidas”, acrescenta Isabel Costa (Os Possessos). Acima de tudo, concordam estes três criadores, o projecto “é sobre fazer teatro” e sobre as relações interpessoais nas dimensões do palco e da vida real. E Grover’s Corners é a esquina em que se encontram. Isabel, que serve como directora de cena, guia-nos por esta pequena cidade americana de horizonte montanhoso, que se cobre de neve nos meses frios. Dá-nos conta de onde vive cada família, do comércio, dos serviços. Ficamos a conhecer o médico Gibbs e a sua família; o senhor Webb, editor do jornal local, e a respectiva família.

A personagem à qual chamamos de directora de cena “dispõe do tempo, da acção, do espaço”, nota Joana. Fala com o público e faz o que o teatro é suposto fazer: olhar para a vida e pensá-la. A isso, adiciona-se uma camada extra de leitura e de complexidade, com a presença de um personagem que intitulamos de realizador (Sérgio Coragem), que filma a acção em palco, dirige actores, e projecta o seu foco num ecrã, permitindo ao espectador escolher que acção acompanha.

E sobre o que é, afinal, este espectáculo? É uma reflexão sobre o quotidiano, o amor, o casamento e a morte. Ao mesmo tempo que se questiona o conceito de comunidade e de cidade na narrativa, os diferentes elementos envolvidos na criação artística recorrem a uma metateatralidade já inerente ao texto original para passarem a principal mensagem – os três colectivos nunca serão um, mas isso não os impede de fazer teatro juntos.

Apesar de nunca terem parado de trabalhar, apresentar um espectáculo com este tempo de maturação é “uma espécie de mistério em palco”, acredita Guilherme. “O tempo com este texto tem a vantagem de nos dar perspectivas diferentes. Estamos a conviver com ele há muito tempo. São palavras que estão connosco há dois anos e que vão ganhando significados diferentes à medida que o tempo passa.”

Olhe-se agora para alguns dos sucessos da televisão norte-americana dos últimos 30 anos: em Os Simpsons há a famosa Springfield; na sitcom de Seth MacFarlane, Family Guy, Quahog é onde tudo se passa; na obra de Lynch e de Mark Frost, Twin Peaks é a pacata cidade em que nada é o que parece. Agora, olhe-se para A Nossa Cidade e constate-se que em comum com estas referências se encontra o recurso às dinâmicas das cidades e uma espécie de nostalgia americana muito própria e que fazer teatro é como estar na vida. Há uma série de ligações para além do que é material.

TBA – Teatro do Bairro Alto. 8-18 Jul. Ter-Sáb 19.00, Dom 17.00. 5€-12€.

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