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Um cornetto de sonhos: 'Casimiro e Carolina' estreia esta quinta

Escrito por
Miguel Branco
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E os gelados, como se sabe, comem-se rapidamente. Fomos à festa que é Casimiro e Carolina, texto de Ödön von Horváth, com direcção de Tónan Quito, e não bebemos. O espectáculo fica até dia 29 no Teatro Nacional D. Maria II. 

“Uma pessoa inteligente tem de ser pessimista", diz-nos Casimiro, namorado de Carolina, logo no início da festa da cerveja. Compete-nos, portanto, não ir na conversa do só-quero-um-gelado.  Estamos no rescaldo da crise de 1929 – também daquela que ainda atravessamos – numa feira popular onde um casal afoga os seus problemas.

Virar umas cervejas, muitas; comer umas salsichas; andar na montanha russa; engatar junto ao algodão doce; dar uma esmola aos artistas do freakshow, que é como quem diz humilhar. Casimiro e Carolina – peça que Ödön Von Horváth escreveu entre 1931-32, pouco antes de Hitler chegar ao poder e logo sobre o lugar onde fez os seus primeiros discursos –, tem  direcção de Tónan Quito e estreia esta quinta-feira no Teatro Nacional D. Maria II muito influenciada pelos binómios seduzir-humilhar, opressor-oprimido. 

Casimiro está desolado. Aliás, estão todos, mas alguém que perde o emprego para logo a seguir perder a namorada e achar que uma coisa levou à outra não pode estar bem. E a desolação alheia tem muito que se lhe diga, da directora-Geral de uma empresa riquíssima (e que pode dar empregos e uma vida ou ideia de uma vida melhorzinha, mas que é uma solteirona agressiva e demente, com fraldas e tudo) ao presidente do Supremo Tribunal de Justiça (que mais parece possuído por um espírito em forma de garrafa). Até Carolina, passado um pedaço, já é certo que não cá veio comer gelados. E mesmo que tivesse vindo, enfim, comer gelados a vida toda nunca fez nada por ninguém: “Não faço juízos de valor nem sobre estas personagens, nem sobre as pessoas que fazem isso. Agora há consequências, quer dizer, em vez de ir refilar porque aumentam os impostos, vou beber copos, se vais beber copos e não refilas... pagas, pronto, e segue, a coisa continua mal”, explica Tónan Quito. 

As cervejas continuam a sair. A histeria da festa adensa-se e, por momentos, estamos numa espécie de “Harlem Shake” embrenhado num Ice Bucket Challenge meio pornográfico – o momento da catarse para Tónan Quito. Ao qual se segue uma acalmia, o regresso de Casimiro – que vem para enterrar a cabeça em cerveja – e a certeza, sentida desde os primeiros gritos descontrolados, que daqui ninguém vai sair melhor: “A peça não tem esperança nenhuma, é muito dura nesse sentido, quer dizer é cómica, rimo-nos, tem umas patetices, mas começamos a ser triturados por um ambiente de festa que vai acabar mal.” Bem dito, bem feito. Voltas e voltas. Na montanha russa só uma, é o possível. Novo amor? É o possível. Mas sonhar, que é bom, o caraças. Sonhar é álcool. 

Teatro Nacional D. Maria II. Qua 19.00, Qui-Sáb 21.00, Dom 16.00. 5-17€. 

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