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Caro Pai Natal, Como vão as coisas aí em cima? Não deve ser fácil passar 11 meses enfiado numa caixa de cartão de uma despensa, atolado em bolas, estrelas, luzes e bonecos de barro. Tudo isso para depois, assim que chega Dezembro, ir parar à varanda, pendendo precariamente sobre as ruas movimentadas, sujeito a correntes de ar, chuvadas e ao fumo dos cigarros do vizinho de baixo. O São Nicolau enquanto elemento decorativo já passou por muita coisa. Mas nada se compara a este adereço flutuante, o senhor barbudo que pespegamos à janela de casa assim que os dias começam a ficar mais frios.
Mas o Pai Natal não está sozinho. Tem como companhia a bandeira do menino Jesus, um pano vermelho que serve para anunciar à vizinhança que naquela casa existe uma ou várias pessoas que ainda insiste que as prendas são oferecidas por uma versão infantil de Cristo e não por um senhor de barbas com roupas da mesma cor da Coca-Cola.
Tanto o Pai Natal alpinista como o Jesus esvoaçante fazem parte da paisagem natalícia dos bairros residenciais de Lisboa. São uma espécie de decoração pública vernacular, uma oferta dos lisboetas aos seus concidadãos – uma partilha não-solicitada de espírito natalício.
Ambos estão sujeitos a uma rajada de vento, a sentir na pele os efeitos da gravidade. Ou à ira daquele senhor que, na reunião de condóminos, gosta de implicar com as pessoas que põem roupa a secar na varanda.
O Provedor do Lisboeta é um vigilante dos hábitos e manias dos alfacinhas e de todos aqueles que se comportam como nabos e repolhos nesta cidade. Se está indignado com alguma coisa e quer ver esse assunto abordado com isenção e rigor, escreva ao provedor: provedor@timeout.com.
+ Uma carta aberta ao vizinho de cima (o meu e o vosso)