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Uma carta aberta aos vendedores de louro prensado

Escrito por
O Provedor
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Toda a gente sabe o que é um pregão. Um pregão é um anúncio proferido em voz alta. Os vendedores ambulantes são os que mais recorrem a estes slogans falados: “Quentes e boas”, grita o vendedor de castanhas; “É fruta ou chocolate”, proclama a senhora dos gelados na praia.

Os pregões estão praticamente extintos. Mas existe uma modalidade em franco crescimento: o preguinho. Enquanto o pregão é proferido a plenos pulmões, o preguinho é sussurrado.

Num pregão usamos a caixa torácica como trampolim para a voz. O preguinho obriga-nos a falar entredentes.

Se quer ouvir um preguinho, basta passear pela Baixa, passar da Praça da Figueira para o Rossio ou vaguear pela Bica e Bairro Alto. Os vendedores ambulantes que tomam partido desta forma dissimulada de comunicação vendem louro prensado ou outros simulacros de haxixe.

Fazem-no com uma discrição exuberante, incomodando transeuntes com ofertas murmuradas de “cocaxixeganza”. As três palavras, os três itens da sua intrigante oferta comercial, são sempre ditas de seguida, como se tivessem a barra de espaços avariada.

Mas aquilo que vendem não é droga – é coisa nenhuma. Os turistas são o alvo principal destes negociantes de nada. Será que o louro na terra deles é tão valioso que não se importam de pagar dezenas de euros por uma pequena porção? Ou estarão os forasteiros de visita a Lisboa desesperados por temperar os seus refogados?

O Provedor do Lisboeta adora fazer nada, mas nunca conseguiu capitalizar esta sua paixão. Enquanto isso, a cidade está pejada de indivíduos que vendem coisa nenhuma. Alguma coisa falhou na vida do Provedor ou há algo de muito errado com o sistema capitalista. Vamos apostar na hipótese A. 

O Provedor do Lisboeta é um vigilante dos hábitos e manias dos alfacinhas e de todos aqueles que se comportam como nabos e repolhos nesta cidade. Se está arreliado com alguma coisa e quer ver esse assunto abordado com isenção e rigor, escreva ao provedorprovedor@timeout.com

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