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Uma carta aberta às lojas abertas “since 2017”

Escrito por
O Provedor
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Será tudo isto um plano para facilitar a vida aos arqueólogos do futuro?

– Olha Jorge, acho que o que temos aqui é uma hamburgueria do primeiro quartel do século XXI, do período holocénico.
– Sim, é de 2017.
– É!? Como podes dizer com tanta certeza?
– Está escrito no toldo.

Há lojas que estão abertas há décadas, passaram por um regicídio, duas guerras mundiais e a queda do Muro de Berlim, mas ainda assim não se gabam da sua data de inauguração.

E depois há pastelarias e lavandarias que precisam de afirmar ao mundo que estão abertas desde 2017, tendo resistido a três séries de Love On Top, um eclipse lunar parcial, à despedida de Cristina Ferreira e ao lançamento de pelos menos dois “últimos livros” de António Lobo Antunes.

O “EST. 2017” costuma vir acompanhado de mobiliário vintage, decoração a armar ao antigo e preços futuristas – um futuro com uma inflação devastadora.

Será esta uma forma rebuscada de confundir viajantes no tempo?

O mais curioso é que o “since” é usado para dar uns ares vintage. Enquanto o número que o acompanha anula imediatamente essa tentativa. Estamos perante um antagonismo na nomenclatura de estabelecimentos comerciais. Paradoxos tão divertidos como quando a pastelaria Fim do Século em Benfica abriu uma segunda loja e lhe chamou Fim do Século II – quando podia muito simplesmente ter-lhe chamado 199. Ou Pastelaria CXCIX.

É verdade. Melhor do que um “since 2017”, só mesmo as lojas recentes que declaram o seu ano de fundação em numeração romana. Isso sim, vai deixar os arqueólogos do futuro muito confusos.

– Esta loja aqui parecia pertencer a um tipo chamado MMII.
– MMII, isso é nome de gente?
– Sei lá, o século XXI foi estranhíssimo.

O Provedor do Lisboeta é um vigilante dos hábitos e manias dos alfacinhas e de todos aqueles que se comportam como nabos e repolhos nesta cidade. Se está indignado com alguma coisa e quer ver esse assunto abordado com isenção e rigor, escreva ao provedor: provedor@timeout.com.

+ Uma carta aberta ao saco que está a ocupar um banco no autocarro

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