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Uma noite para contar os 30 anos de hip-hop português

‘A História do Hip-Hop Tuga’ conta-se pela terceira vez em concerto. Falámos com os responsáveis pelos novos (e mais diversos) capítulos do movimento.

Joana Moreira
Escrito por
Joana Moreira
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É apenas um título, é para ser levado à letra, mas não deve ser interpretado como a derradeira história. Está aqui alguma história, mas não está aqui toda a história”, diz Sam The Kid, figura incontornável no hip-hop português com assumida dificuldade em definir o que é, afinal, o hip-hop nacional. “Já nos debruçamos mais sobre regiões do que [sobre] a cena nacional”, alega. Chegará o tempo de Samuel Mira encontrar a definição certa (“talvez num podcast”), e chegará também a hora de vestir a pele de narrador, mas, por enquanto, apresenta-se enquanto mais uma das personagens em A História do Hip-Hop Tuga, o espectáculo que chega à Altice Arena no sábado, 19, e que junta em palco algumas das figuras mais representativas de três décadas do movimento em Portugal.

Durante duas horas, os pilares da cultura hip-hop vão passar pelo palco. São mais de 40 artistas, entre MCs, DJs, writers e bboys. Expensive Soul, Bispo, Julinho KSD, Kappa Jota, Valete, Capicua, Holly Wood, T-Rex, Black Company são apenas alguns dos nomes que por ali passarão. 

“Estou no meio dos gigantes que estão a fazer a história em Portugal e sinto-me honrado por estar ao lado deles e na mesma frequência”, diz Vado Más Ki Ás, para quem “o hip-hop tuga é cultura, é onde a gente pode transmitir, exprimir, criar história e fazer história com o nosso trabalho, que é a nossa arte, a música”. Nascido no Bairro 6 de Maio, na Amadora, e descendente de pais cabo-verdianos, começou por criar em crioulo. O primeiro som em português, Respeito, chegou apenas em 2018. Hoje canta sobretudo na língua de Camões, mas continua a usar a sua voz para levar o rap crioulo mais além. “Sou um dos primeiros artistas a actuar n’A História do Hip-Hop [Tuga] a cantar crioulo. Para mim isso é muito grande. Estou a trazer história para dentro da história que está a ser feita”, frisa. No espectáculo, se o relógio permitir, haverá tempo para tudo. “Vão ouvir a lusofonia, porque o hip-hop português é o hip-hop crioulo também, e o hip-hop crioulo é também o hip-hop português. Estou a trazer essa vertente para esse dia”, admite. 

Vado Mas Ki As
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No princípio, o palco exibe a data 1994, “que foi o início do hip-hop em Portugal”, explica Vasco Ferreira, da organização. É o ano da colectânea Rapública. “Neste caso vai ser em 1992 porque foi o lançamento da edição do álbum do Gabriel O Pensador cá, e foi a primeira vez que houve um álbum de rap em português”, recorda à Time Out. “Começa aí o espectáculo, os anos vão andando e são tocadas as músicas de cada ano. Seguimos mesmo uma linha cronológica e respeitamos isso”, revela, assegurando que este não é um evento apenas para os amantes de hip-hop. “Qualquer pessoa que venha consegue cantar as músicas do início ao fim. Aquelas músicas que ficam no subconsciente, grandes êxitos que as pessoas quer queiram quer não ouviram nas rádios ou na televisão”, diz. 

É a terceira vez que se conta A História do Hip-Hop Tuga, uma ideia de Vasco que, em 2017, juntou nomes sonantes no Sumol Summer Fest. Depois, repetiu a proeza em 2019, já na Altice Arena, numa edição manchada pela polémica: o concerto, marcado para o dia internacional da mulher, continha apenas um nome feminino no cartaz, Capicua. Este ano há duas cantoras no alinhamento e um momento dedicado às mulheres da cultura do hip-hop. “Infelizmente, para mim, enquanto ouvinte e amante da própria cultura, sempre foi inferior o número de mulheres. Nós escolhemos os artistas e as músicas e não temos em conta o género, porque isso por si só já seria uma discriminação. Temos em conta a história que está por detrás da música, as pessoas a que chegou, e é um bocado indiferente se é um homem ou uma mulher para nós, entendemos essa importância, mas é um bocado indiferente”, justifica Vasco Ferreira. 

Para Nenny, uma das novidades desta edição, a representação é importante. Quando caiu na cena hip-hop, em 2019, “fresh tipo sushi”, a jovem de Vialonga só queria mostrar o talento que viria a levar temas como “Bússola” ou “Tequilla” às tendências do Youtube e, mais tarde, às rádios nacionais. Nessa altura, A História do Hip-Hop Tuga já se contava no Altice Arena e chegava, depois, ao ecrã do seu telemóvel. “É bué importante o facto de ter visto a edição e pensado ‘um dia gostaria de fazer parte’ e agora estou aqui e faço mesmo parte do cartaz. Acho isso incrível, é mesmo importante para mim”, confessa à Time Out.

Traz na bagagem referências como Wet Bed Gang, Julinho KSD, Valete, Sam The Kid ou NGA, mas chega com a vontade de criar uma linguagem própria e deixar a sua marca na história do género musical. “Há novos artistas, novas conquistas da parte do hip-hop e para mim é muito importante por ser jovem, mulher, negra, a fazer parte de uma cena que ainda é tão masculina”, diz a cantora que quer “inspirar mais mulheres a dar mais arte e conteúdo no hip-hop". Sem desvendar pormenores sobre o momento em que vai subir ao palco da Altice Arena, lança: “Vou marcar território, ou seja, vou representar também as mulheres e fazer a minha cena simplesmente. O essencial para um artista é conseguir transmitir a nossa arte, conseguirmos transmitir o que sentimos e o hip-hop é isso tudo”. 

Altice Arena (Lisboa). Sáb. 22.00. 20-27€

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