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Mercearia do Duque
Mariana Valle LimaMercearia do Duque

Vida longa à histórica mercearia Duque

Localizada na Avenida Sabóia, a principal rua do Monte Estoril, reabriu há uns meses com uma boa oferta de produtos portugueses e, sempre que possível, biológicos e de produtores locais.

Escrito por
Sara Sanz Pinto
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“O Estoril… é o paraíso de um exilado. Os grandes de Espanha, os condes, marqueses e duques, apaixonaram-se pelo Estoril. Enchem o casino todas as noites, nas suas elegantes roupas inglesas; sentam-se na esplanada à tarde, [e] apanham banhos de sol (sem as roupas inglesas) de manhã.” A descrição é do famoso jornalista britânico Ralph Fox, militante do Partido Comunista Inglês, que, em 1936, se mudou para Lisboa para estudar a organização da resistência espanhola. Acabou por morrer muito jovem, em Dezembro desse mesmo ano, perto de Córdova, após se ter juntado à XIV Brigada Internacional contra o Fascismo.

Foi talvez por esta frequência de gentes, tão bem detalhada no pequeno livrinho Portugal Now. Um espião comunista no Estado Novo, publicado em Inglaterra em 1937, que surgia uns anos mais tarde uma charcutaria chamada Duque, no coração do Monte Estoril. “Daquilo que nos contam, era aqui que as pessoas vinham durante os tempos de Salazar para comprar umas guloseimas espanholas, uns produtos internacionais, maracujás de não sei onde, coisas que não se encontravam em lado nenhum”, explica António Aranha Menezes, de 35 anos e um dos novos proprietários. “E era aqui que o Sá Carneiro vinha às compras para levar para casa de um irmão que morava ali em cima”, acrescentam pessoas do bairro. À sua volta são só ruas cujos nomes nos remetem para o estrangeiro e pracetas e largos com títulos nobiliárquicos.

É difícil saber-se o ano exacto em que esta charcutaria nasceu, mas contas por alto entre vizinhos dão-lhe uns 60 anos de vida. Os proprietários também já foram vários, mas os últimos deram-lhe uma merecida renovação, preservando-lhe o charme. Além de António, falamos do seu irmão Luís, de 41 anos, e de Zé Maria Eça de Queiroz Salgueiro, de 35. “Tudo, excepto os frigoríficos, fomos nós que construímos com as nossas próprias mãos”, garante António, sublinhando o papel-chave de Zé Maria nas carpintarias (para mais informações ver a página do Tunfas Project, em homenagem ao seu cão, um weimaraner snob). 

Mercearia do Duque
Mariana Valle LimaMercearia do Duque

Ao bonito chão antigo em mosaicos de terrazzo pretos e brancos e às portas e janelas de vidro com os caixilhos em ferro, agora pintados de fresco num verde água clássico do Monte Estoril, há expositores novos de fruta e legumes feitos de madeira reciclada e candeeiros de tecto pretos com um toque industrial. “Fui buscar algumas ideias a umas lojas mais hipster na Holanda, com madeira e tijolo, incluímos algumas ideias do meu irmão também, e depois, claro, toda a parte artística do Zé”, conta António que viveu grande parte da sua vida fora, do Quénia ao Japão. Aliás foi aqui que ele e o irmão conheceram Zé Maria, uma vez que o seu pai lá foi embaixador.

“Desde o primeiro dia que queremos que a mercearia seja um sítio para toda a gente do bairro, onde há desde o português que ganha o ordenado mínimo ao holandês com o apartamento multimilionário. Assim criámos um conceito abrangente para ir ao encontro de toda a clientela aqui e com maior número possível de produtos portugueses. Queremos ter sempre produtos da época, de produtores locais, e biológicos sempre possível”, explica António com experiência em vendas e marketing. 

Lá dentro encontra vários tipos de Peter Pão (3,60€-4,80€), artesanal e cozido em forno a lenha, uma considerável variedade de queijos e enchidos, medronho (36€-49€) e vinho do Porto (12€) ou da Ilha do Pico (59€), cervejas artesanais, como a Estoril Vida ou a Perfect Peaks (3,10€-2,85€), frutas e legumes, além dos produtos habituais em qualquer mercearia de bairro.

A contar com a experiência de Luís, que “trabalhou como chefe privado e em restaurantes de muito alto nível durante anos na Europa”, conta-nos António, tencionam na próxima Primavera “montar uma esplanada lá fora, mas tudo depende de como as coisas vão progredir nos próximos meses”. E em breve vão começar a fazer entregas ao domicílio. É passar por lá um dia para ficar a conhecer a nova velha mercearia, vizinha do Ray’s Bar, outro clássico do bairro.

Avenida Sabóia, 425C (Estoril). Ter-Sex 8.30-20.00, Sáb-Dom 10.00-19.00.

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