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João Mota
Fotografia: Mariana Valle LimaJoão Mota, co-fundador e director de A Comuna

Vinte anos depois, João Mota volta ao papel de actor – e logo como protagonista

O director e co-fundador da Comuna vai protagonizar ‘A Casa de Bernarda Alba’ no final de Setembro. Umas semanas antes, Isabel Ruth também regressa ao teatro, com a mesma peça mas noutra encenação e noutro palco.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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O director e co-fundador da Comuna – Teatro de Pesquisa, João Mota, não desempenha mais do que pequenos papéis ou contribuições em palco desde 2002, ano em que encenou e protagonizou As Páginas Arrancadas, de Luiz Francisco Rebelo. Vinte anos depois, volta a um trabalho de fundo como actor. De 22 de Setembro a 30 de Outubro, interpretará Bernarda Alba, de A Casa de Bernarda Alba, num espectáculo encenado por Hugo Franco, que inclui outros dois veteranos do teatro português, Carlos Paulo e João Grosso.

“Era claro, para mim, que [a Bernarda Alba] seria o João Mota, mas eu sabia que ele tinha condições físicas [que podiam ser impeditivas]. Até que lhe perguntei se queria fazer e ele ficou meio ‘eh pá, eh pá, eh pá’ e disse-me que, depois de resolver as questões de saúde, veríamos se era possível. E eu não falei com mais ninguém, porque queria que fosse o João Mota”, partilha Hugo Franco. E será. Para os espectadores, será uma oportunidade sem par nas últimas décadas: ver em palco, como actor principal, o antigo director artístico do Teatro Nacional D. Maria II. Um momento alto das celebrações do meio século da Comuna.

João Mota completará, por sua vez, 80 anos durante a temporada da peça, a 22 de Outubro.

Há dois anos, Hugo Franco levou à cena Hamlet, de William Shakespeare, com um elenco exclusivamente feminino. Agora, faz o inverso e entrega a homens todos os papéis de A Casa de Bernarda Alba, de Federico García Lorca. Escrita em 1936, a peça centra-se em Bernarda Alba, uma matriarca dominadora que mantém as cinco filhas sob vigilância implacável e opressiva disciplina. Até que, por amor a um aldeão, a mais nova rebela-se contra o regime imposto pela mãe, o que abalará irremediavelmente a vida de todas as mulheres da casa.

“Quando esta peça foi escrita [em 1936], foi para simbolizar uma sociedade repressiva e uma matriarca que iria, depois de o marido morrer, tomar o poder segundo os cânones masculinos. Mas que cânones são esses? Quando a Bernarda Alba entra em palco diz ‘silêncio’. Qual é a diferença entre esta ordem dita por um homem e dita por uma mulher? Eu ainda não cheguei a uma conclusão, mas o que quero é que as pessoas cheguem à conclusão que o poder não tem género”, diz o encenador, que revela ao telefone não ter alterado uma única linha do texto – nem o nome das personagens nem a forma como se referem a si e umas às outras. “Mas são claramente homens a fazerem de homens.”

Antes de João Mota, Isabel Ruth

O Teatro do Bairro vai levar a mesma peça a cena já entre os dias 7 e 11 de Setembro (Qua-Sex 21.30, Sáb-Dom 18.00). Com produção do Teatro Livre e do Teatraço-Tabuaço, A Casa da Bernarda Alba, esta, terá encenação de Beto Coville e um elenco de luxo, que inclui Isabel Ruth. A actriz, de 82 anos e nome grande da representação em português, regressou ao teatro em 2014, no papel de Marlene Dietrich, a protagonista de Marleni, uma comédia negra de Thea Dorn, com produção da Escola de Mulheres e do Cine Teatro Constantino Nery/Câmara Municipal de Matosinhos. Agora, Isabel Ruth irá interpretar o papel de Josefa, a mãe de Bernarda Alba.

Teatro do Bairro. 7-11 Set, Qua-Sex 21.30, Sáb-Dom 18.30. 5€/estreia, 12€/restantes sessões. | Comuna – Teatro de Pesquisa. 22 Set-30 Out, Qua-Qui 19.00, Sex-Sáb 21.00, Dom 16.00. 7,50€-12,50€

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