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Zaytouna: a oliveira que dá os ingredientes da cozinha do Médio Oriente

Escrito por
Catarina Moura
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Quando Serenah Sabbat e o Hendi Mesleh chegaram a Portugal não conheciam ninguém, mesmo ninguém, enfatiza Serenah. O casal tinha saído da região da Palestina para tentar uma vida em comum e com futuro na Europa. Viveram três anos na Bélgica e quando esta terra lhes falhou com o asilo acabaram em Portugal. Na quarta-feira abriram a Zaytouna numa loja do Mercado de Arroios, uma mercearia especializada nos produtos do Médio Oriente que já lança as raízes para um futuro por aqui.

Por todo o sítio onde passavam sabiam que queriam deixar um rasto da cultura palestiniana. A princípio acharam que seria através de um centro cultural, mas pouco depois de começar a trabalhar no Mezze, o restaurante umas portas ao lado com comida do Médio Oriente cozinhada e servida por refugiados, Serenah percebeu que não é fácil encontrar certos ingredientes comuns na sua terra natal por aqui. “Na Bélgica era fácil porque há uma grande comunidade árabe”, explica-nos num intervalo da pequena festa de inauguração do espaço que teve direito a comida do Mezze, muita agitação e apoio oferecido por quem lá trabalha. O problema em Lisboa não era encontrar o tahini (a propósito, aqui vende-se o mais conceituado, garante, o Al Yaman). A questão eram produtos como os vegetais mloukhiya, uma espécie de espinafre, ou conjuntos de especiarias preparadas para pratos específicos há a mistura para o arroz kabseh, há outra para o biryani, ou para o maqluba, tudo coisas que se comem ali ao lado.

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Para já há cerca de 30 especiarias diferentes no Zaytouna
Fotografia: Manuel Manso

Para já são cerca de 30 especiarias diferentes nestas prateleiras (à volta de 1,30€ cada saco). Desde menta seca a sementes de nigela sativa, sementes de coentros ou os mais comuns cominhos, esta parede à entrada está cheia da palavra Durra, a marca que tanto se repete pela loja. São trazidas para Portugal da Bélgica, Holanda e Espanha, onde as comunidades do Médio Oriente são maiores. Nas restantes prateleiras há uma série de produtos e condimentos que se calhar não são muito intuitivos de cozinhar para o alfacinha de gema: o que fazer com yalanji – as folhas de videira que aqui vendem num frasco em pickle? Ou com pastas de tâmaras e tamarindo? “No futuro queremos ter livros de receitas do Médio Oriente para as pessoas fotografarem e levarem os ingredientes que precisam”, conta Serenah que vê nesta casa uma maneira de passar a palavra sobre a sua terra, muito para lá do que é uma mercearia tradicional.

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Fotografia: Manuel Manso

Até chegarem os livros de receitas, há ali ao lado o Mezze para fazer as perguntas todas sobre a confecção – este não é mais um projecto da Associação Pão a Pão, mas Serenah continua a falar de um grande espírito de família. E entretanto há umas quantas opções prontas a provar à venda: latas de húmus, de baba ganoush (à volta de 1,30€), uma mistura para falafel a que basta juntar água e cozinhar, a halva, o doce comum a muitos países do Médio Oriente. Há ainda os melhores pickles do mundo, garante a merceeira, vendidos em porções pequenas ou em jarros de três quilos (20€).

Serenah e Hendi continuam à espera de mais produtos – no que toca às especiarias, por exemplo, este é só o começo – mas estão certos de que este foi o sítio certo para lançar as raízes da sua oliveira. Lisboa é a hipótese mais viável de futuro e portanto chamaram à nova casa Zaytouna. O nome é parecido com o significado português – azeitona – e por isso foi ideal. “É um símbolo muito importante para os palestinianos porque é uma árvore que espalha raízes muito fortes”, conta, mesmo antes de voltar para a festa inaugural.

Mercado de Arroios. Rua Ângela Pinto, loja 19. (926 369 317) Ter-Sex 10.00-19.00; Sáb 10.00-15.00.

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