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Zonas de Transição
Francisco Romão PereiraZonas de Transição

“Zonas de Transição”: mais de 100 artistas da CPLP em exposição na Cordoaria Nacional

As geografias do corpo, da arquitectura e da palavra percorrem-se em Belém até 7 de Janeiro. A mostra inclui pintura, escultura, fotografia e vídeo.

Escrito por
Beatriz Magalhães
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“Zonas de Transição” – por outras palavras, zonas de passagem, ou zonas que estão entre algo – são o mote da nova exposição na galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional. Com uma selecção de 148 obras, de 104 artistas, o plano é pôr em destaque os temas que percorrem as brechas entre a representação do corpo, a arquitectura e a palavra escrita. “Zonas de Transição” inaugurou a 21 de Outubro e está patente até 7 de Janeiro. 

A mostra junta obras da colecção de arte contemporânea da Fundação PLMJ, cujas peças têm origem na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Apesar disso, “não há uma distinção entre geografias, as obras têm diversas linguagens e há relações que se estabelecem”, explica-nos o curador, João Silvério, numa visita guiada à exposição, na passada sexta-feira, 20 de Outubro.

Distribuídas por dois pisos, as seis salas da galeria acolhem obras de diferentes núcleos da colecção, incluindo pintura, desenho, livro de artista, escultura, instalação, fotografia e vídeo. Esta multiplicidade artística obrigou a uma atenção especial no que toca à configuração de cada uma dessas salas. “A exposição tem alguma complexidade não só pela dimensão do espaço mas também na escolha das obras”, continua o curador, “de forma a criar alguns discursos, mas também deixar alguma liberdade a quem vê”.

À entrada, recebe-nos o conjunto alargado de fotografias intitulado Acervos, de Carla Cruz. No primeiro piso, Ana Pérez-Quiroga apresenta 6 berlindes 2 vidros 6 buracos, mesmo, que inclui os vidros rachados do atelier da artista, depois de um incidente em que alguém atirou seis berlindes às respectivas janelas. A participação à polícia e os berlindes também estão expostos. As restantes paredes estão cobertas com desenhos, uns com moldura outros sem, fotografias e pinturas, entre as quais se destaca Call Me… de Yonamine, uma pintura em grande escala sobre acrílico, que mistura técnicas em carvão, colagem e impressão serigráfica. “Há um lado de contestação, de todas as questões que o contexto angolano, e não só angolano, pode representar” que, por outro lado, pode relacionar-se com Assemblage (As Três Marias), de Alice Geirinhas, que representa questões feministas.

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Francisco Romão Pereira

Kaleidoscopic Blues Machine, de João Paulo Feliciano, é um monitor de vídeo que, espelhado no interior, obriga-nos a sair da exposição para mergulhar na obra. Algo de semelhante acontece na sala escura que se encontra também no primeiro piso. Lá dentro, uma caixa de luz representa uma obra, sem título, de Rita GT, bem como um livro de artista, que requer ser visto no escuro, já que contém imagens fosforescentes. Há ainda esculturas, tanto de madeira, como de grés e outros materiais, vídeos e mais pinturas que, mesmo algumas diferindo exponencialmente em tamanho, “não há nenhuma que incomode a outra nem nenhuma se perde”, esclarece João Silvério.

Zonas de Transição
Francisco Romão Pereira

Subindo ao piso de cima, encontra-se a obra de Maria José Cavaco, Espaços pouco concretos. É uma série de 15 desenhos em técnica mista, em que o público é convidado a entrar e apreender, de uma perspectiva central e circular. Depois de passarmos por outras peças, expostas nas paredes da primeira sala, a sala seguinte é ocupada por uma obra que “quase não se opõe ao espaço, mas é algo que tem movimento e que cria uma tensão no bom sentido". Trata-se de Speak, you also, uma escultura em contraplacado marítimo recortado, pintada de branco, de Miguel Ângelo Rocha.

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Francisco Romão Pereira

Além de gravuras em grande escala, esculturas em ferro preto, outras fotografias e pinturas, o segundo piso é ainda composto por uma sala de projecção de vídeos. Na última sala, destaca-se Sr. Central, uma das quatro obras expostas de Noé Sendas. À primeira vista, pode causar sobressalto, e pode até deixar-nos um tanto desconfortáveis. Deitado no chão, inerte, um corpo de um homem sem rosto. Segundo o curador, neste momento, “nos tempos de desconjuntura que vivemos”, esta obra torna-se essencial de mostrar e de ser vista.

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Francisco Romão Pereira

Num dos cantos da sala, Fernanda Fragateiro apresenta Contra a parede-canto #2, colheres de pedreiro em madeira e aço polido, bem como Caixa #1, uma caixa de aço pousada num pedaço de madeira. No lado oposto, uma das paredes brancas encontra-se despida para dar lugar de destaque a Dois pisos, de Armanda Duarte, composta por uma colher de sopa na qual duas pedras se encontram perfeitamente equilibradas. Uma das peças mais pequenas da mostra, facilmente confundível com o piso da galeria, não passará então despercebida? Convicto, João Silvério acredita que não. Sob o olhar atento dos visitantes, o tamanho da obra não representará essa ameaça.

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Francisco Romão Pereira

Se prefere começar pelo primeiro ou pelo segundo piso, tanto faz, pois não há propriamente fim à vista – "a exposição só tem uma porta de entrada, não sai no final, tem de voltar a meio da exposição". Em “Zonas de Transição”, a multiplicidade de obras de naturezas distintas pode causar alguma estranheza, o que, confessa o curador, lhe agrada, mas há uma relação que se estabelece entre todas, e em que estão presentes “questões muito mais amplas que se vão cruzando entre culturas”.

Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, Avenida da Índia. 21 Out-7 Jan, Seg-Dom 10.00-13.00 14.00-18.00. Entrada livre

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