17 estrelas. 14 restaurantes. Se a sua lista de coisas para fazer antes de morrer inclui correr todos os restaurantes estrelados da cidade — e do país — imprima esta lista e pendure no frigorífico.
“Se isso acontecer, vou ficar com fama de bruxo.” Foi assim que Henrique Sá Pessoa reagiu à notícia sobre a possível atribuição de 34 novas Estrelas Michelin em Portugal. Acabado de aterrar em Lisboa vindo de Macau, onde esteve uma semana, confessou que, no Congresso dos Cozinheiros, em Setembro, disse que este “pode ser um ano Barca Velha para os restaurantes em Portugal”.
O chef já tinha lido no Twitter algumas coisas sobre esta possibilidade – “fico sempre espantado de como estas notícias se sabem” – e é o primeiro a dizer que o guia muitas vezes também cria desilusões. Mas, como seria de esperar, tem algumas expectativas de que o seu Alma, no Chiado, seja um dos restaurantes a ganhar a estrela. “É, sem dúvida, um dos restaurantes que poderá estar nessa lista. Mas até ser impresso o papel, são tudo expectativas.”
Diz ainda que o aumento do número de estrelas é merecido. “Andamos a trabalhar bem, andamos a trabalhar nesse sentido. O Loco [do chef Alexandre Silva], o Lab [de Sergi Arola], o Pedro Pena Bastos [do Esporão], são tudo projectos que agradam. É normal que estejamos todos no radar.”
Para Duarte Calvão, coordenador do projecto Gastronomia da Associação de Turismo de Lisboa, a notícia é um “reconhecimento de um movimento que tem acontecido na cozinha portuguesa, cada vez mais mais elaborada e criativa”. A frase é uma referência a projectos próprios ou dentro de hotéis, por exemplo, onde os “chefs têm condições de seguir esse tipo de cozinha.”
Mas atenção que o movimento não é nosso, existe em todo o mundo. Exemplos? “Em Espanha aconteceu há 20 anos, aconteceu na Bélgica, um pouco em Itália, nos países nórdicos, no Reino Unido.” A boa notícia é que que esta onda veio para ficar. “Porque os chefs que vão receber a estrela (acho eu), são quase todos portugueses e novos. Seja a primeira ou a segunda estrela, vão continuar a desenvolver essa cozinha por mais anos. Se se confirmarem os que são dados como favoritos, irão além disso.”
Os nomes de quem poderá vencer estão em segredo até dia 23 de Novembro, mas Duarte Calvão fala de alguns destes projectos de viragem para a cozinha portuguesa mais criativa, que já começou há alguns anos, com a “abertura do restaurante do Sá Pessoa, o Loco, os restaurantes de hotel como o Vista [em Portimão do chef João Oliveira], o Kanazawa, numa outra linha, e a consistência de outros projectos como o Feitoria e o The Yeatman.”
Fora das grandes regiões – “acho que as estrelas se irão concentrar em Lisboa, Porto e Algarve” –, fala-se, diz Duarte, “numa segunda estrela para o Il Gallo D’Oro [Madeira], de Miguel Laffan recuperar a que perdeu no ano passado no L’and Vineyards, do Pedro Pena Bastos. Na zona do Dão há o Diogo Rocha [do Mesa de Lemos, no Dão], gosto muito dele, já comi coisas boas feitas por ele mas... vamos ver.”
Também pedimos opinião a outro grande gastrónomo, José Bento dos Santos. E não o acordámos com a notícia avançada pela agência EFE, mas quase. O Presidente da Academia Portuguesa de Gastronomia ainda não sabia da estrondosa revelação feita ontem à noite. “É uma grande vitória. Uma justa vitória. Prova de que quando nos dedicamos, conseguimos resultados”, disse.
Sobre o que poderá ter acontecido para este panorama se tornar possível – sublinhe-se que o número vai passar de 17 para 34 Estrelas Michelin –, José Bento dos Santos explica que “essencialmente é um reconhecimento. Sempre tivemos uma diversidade de produtos que nos permitia ter uma cozinha regional diferente. Produtos magníficos, mas que com um país pequeno não se divulgavam. E tem havido uma pressão grande para chamar a atenção dessa cozinha. Tanto as escolas de hotelaria, como os eventos, como o contacto com chefs estrangeiros. Agora veio a recompensa. Valeu a pena. O nosso património, a nossa cozinha está de parabéns.”
Quanto aos prováveis restaurantes a ser galardoados, o gatrónomo preferiu não fazer apostas. “É difícil estar a referir nomes. Há muitos rapazes novos e até raparigas... podem ser muitos (...) Agora vai ser um mês de espera e de garra.” Também quis manter descrição sobre a distribuição da Estrela Michelin no país, mas acredita que a concentração não acontecerá apenas em Lisboa. “Já começou a acontecer [a distribuição] pelo país fora. E vai tocar em vários pontos. O guia vai regionalizar a coisa.”
Finalmente, deixou um aviso. “Que o público agarre isto e vá aos restaurantes. Os restaurantes não servem só para ter estrelas, mas para servir refeições.”