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Prémio Autores/ SPA 2018: E o vencedor é…

Na voz dos apresentadores a recordação do Maio de 1968 aos 50 anos. Na voz de alguns dos vencedores a contestação à política do governo para as artes. Ninguém falou em assédio sexual. Mas os recibos verdes vieram à baila. Ainda assim foi uma festa.

Escrito por
Rui Monteiro
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O Prémio Autores, promovido pela Sociedade Portuguesa de Autores, a mais ampla distinção de disciplinas artísticas no país, cumpriu mais uma cerimónia, distribuindo com parcimónia os diversos prémios pelas diversas categorias. Excepto no cinema. Aí, São Jorge não deu hipóteses a ninguém.

Prémio Autores/ SPA 2018: E o vencedor é…

Teatro

O primeiro momento de contestação não foi propriamente inesperado. Escolher o teatro para abrir à cerimónia dificilmente podia dar outro resultado. Vamos por partes.

Concorrendo com Bacantes – Prelúdio para Uma Purga, de Marlene Monteiro Freitas (curiosamente também nomeada na categoria de Dança), e Topografia, encenação Criação Colectiva Teatro da Cidade, o vencedor na categoria Melhor Espectáculo foi A Vertigem dos Animais Antes do Abate, encenado por Jorge Silva Melo a partir da obra de Dimítris Dimitriádis.

Com Silva Melo ausente, coube a Inês Pereira receber o galardão. E como o momento era propício a intérprete nem hesitou em ler o comunicado dos actores e actrizes, que, nos dias anteriores, recebera quase 700 adesões, e onde se escreve: “Fazemos teatro em condições cada vez mais precárias: sem contrato de trabalho, a recibo verde, sem previsão, muitos de nós com vencimentos em atraso”, prosseguindo: “Continuámos em 2017 a mesma situação de miséria que se instalou no quadriénio anterior. A maior parte de nós passará o ano de 2018 sem trabalho, sem saber se as futuras produções para as quais fomos convocados se vão manter, com salários em atraso constante ou com remunerações muito baixas.”

Ao receber o prémio destinado a Melhor Actriz, pelo seu papel em A Estupidez, de Rafael Spregelburd, com encenação de João Pedro Mamede, Rita Cabaço (em disputa com Sara de Castro, em Adoecer, e Joana Bárcia, em A Noite da Iguana) foi mais discreta, mas não saiu do palco sem afirmar como “é desconsolador e perigoso a desconsideração que é dada à comunidade artística.”

Conciso e discreto foi igualmente Romeu Costa, considerado o Melhor Actor (na compita com Romeu Runa em Duelo, e João Grosso em Inferno – Divina Comédia) pela sua interpretação em Órfãos, peça de Dennis Kelly encenada por Tiago Guedes.

E embora não nomeado na categoria Melhor Texto Português Representado, Jorge Silva Melo, o director artístico dos Artistas Unidos, mesmo ausente voltou ao palco, agora através do vencedor do prémio, João Pedro Mamede, autor do texto A Marcha Invencível (assim ultrapassando Tentativas para Matar o Amor, de Marta Figueiredo, e Mundo Distante, de Nuno Costa Santos).

Mamede, depois de breves agradecimentos, citou uma mensagem colocada pelo encenador no Facebook, onde Melo se congratula com o anúncio do reforço de 1,5 milhões de euros no apoio às artes para 2018, feito, na terça-feira, pelo primeiro-ministro, na esperança, escreveu, de que “assim serão reparadas algumas injustiças flagrantes e evitadas outras tantas.” Acrescentando ainda: “Mas não esqueçamos que o tremendo disparate começou com o tão anunciado ‘Novo Modelo de Apoio’ (um ano de ‘estudos’ para uma coisa daquelas?), com a confusão entre iniciativas de Estado e iniciativas fora do Estado, entre criação e programação, entre companhias e salas, entre salas e teatros... e tanta palavra incompreensível só para ficar bem no retrato.”

Também Rui Francisco, ao receber o galardão para Melhor Trabalho Cenográfico por Inferno – Divina Comédia, produção de O Bando, encenada por João Brites, não deixou de referir o estado da arte, acentuando a necessidade do tempo para a criação artística.

Dança

Pacífica foi a entrega dos prémios nomeados na dança, aliás reduzida a uma categoria, Melhor Coreografia, atribuída a Síndrome, trabalho de Olga Roriz (que, assim, bateu Bacantes – Prelúdio para Uma Purga, de Marlene Monteiro Freitas, e Ressaca, de David Marques) dedicado às vítimas de todas as guerras, em especial aos que então se encontravam cercados em Aleppo, na Síria.

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Música

Também nas categorias de música se pode dizer que correu tudo na paz dos anjos. Assim, como esperado, na categoria Melhor Tema de Música Popular, nem Hemma, de Surma, ou A Vida Toda, de Carolina Deslandes, tiveram quaisquer hipóteses perante a vitória de Amar pelos Dois, de Luísa Sobral, que levou Portugal, através da interpretação de Salvador Sobral, à vitória do Festival da Eurovisão.

Já na categoria Melhor Trabalho de Música Erudita, o júri inclinou-se mais para o lado de Agora Muda Tudo, de Nuno Côrte-Real e José Luís Peixoto, deixando de parte In Tempore, de João Pedro Oliveira, e Metamorphosis and Resonances, de Hugo Vasco Reis.

Finalmente, a atribuição dos galardões musicais culminou com a entrega do prémio Melhor Trabalho de Música Popular a Altar, de The Gift, que levaram a melhor sobre Mais, de HMB, e A Procura, de Tiago Bettencourt

Cinema

Como diz o adágio, para o fim está guardado o melhor bocado. E já lá chegaremos.

Para já interessa saber que o Melhor Argumento (onde também concorriam Zeus, de Paulo Filipe Monteiro, e A Ilha dos Cães, escrito por Jorge António, Paulo Leite e Virgílio Almeida) foi atribuído pelo júri a São Jorge de Marco Martins e Ricardo Adolfo. Porém, para a coroação do vencedor da noite valeram ainda à película realizada por Marco Martins o prémio Melhor Filme (contra Rosas de Ermera, de Luís Filipe Rocha, e A Fábrica de Nada, de Pedro Pinho), mais o de Melhor Actor, atribuído a Nuno Lopes (deixando para trás as interpretações de Sinde Filipe, em Zeus, e Pedro Marujo, em Verão Danado.)

Foi na última categoria de cinema apresentada, Melhor Actriz (onde foram também nomeadas Anabela Moreira, por Fátima, e Lia Carvalho, em Verão Danado), que Rita Blanco, premiada pela sua interpretação em Fátima, de João Canijo, voltou, por assim dizer, a partir a loiça.

Para a actriz, depois de um largo elogio ao cineasta, é necessário não esquecer “que ser artista é ser um ser político, e ser político vai certamente desagradar a uma classe política que é, no mundo inteiro, cada vez mais frágil, mais ignorante, mais desinteressante e mais perigosa.” Concluindo: “A ignorância não mata, mas mói.”

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Outros prémios

Vida e Obra de Autor Nacional: António Damásio.

Melhor Programação Cultural Autárquica: Câmara Municipal do Seixal

 

Literatura

Melhor Livro de Ficção Narrativa: O Pianista do Hotel, de Rodrigo Guedes de Carvalho.

Melhor Livro de Poesia: Tão Bela Como Qualquer Rapaz, de Andreia C. Faria

Melhor Livro Infanto-Juvenil: O Museu do Pensamento, de Joana Bértholo, com ilustrações de Pedro Semeano e Susana Diniz.  

 

Rádio

Melhor programa de Rádio: Jazz a 2, de João Moreira dos Santos, Antena 2.

 

Televisão

Melhor Programa de Informação: Sexta às 9, de Sandra Felgueiras, RTP1.

Melhor Programa de Ficção: Ouro Verde, de Maria João Costa, com realização de Hugo de Sousa, Joel Monteiro, Nuno Franco e Paulo Brito, Plural Entertainment.

Melhor Programa de Entretenimento: Janela Indiscreta, de Mário Augusto, com realização de António Sabino, RTP 1.

 

Artes Visuais

Melhor Exposição de Artes Plásticas: Fernanda Fragateiro: dos arquivos, à matéria, à construção, de Fernanda Fragateiro.

Melhor Trabalho de Fotografia: The Portuguese Prison Photo Project, de Luís Barbosa, Centro Português de Fotografia.

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