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Live History: um tour por Lisboa em modo role play

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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Que tal ser escoltado por um cruzado e um mouro, enquanto explora a cidade? Apesar das animosidades históricas, Mendo Domingues e Wasim Fahad içaram a bandeira branca da paz e mostram-lhe Lisboa com toda a segurança.

“Aturamo-nos há 1000 anos”, diz o cruzado Domingues, referindo-se ao mouro Wasim Fahad e aos tempos em que, durante o Cerco de Lisboa, em 1147, lutavam em lados diferentes da barricada. São estes os alteregos das almas penadas encarnadas por Pedro Sousa e Jofre Correia, que há um ano se lançaram neste projecto, logo depois de concluírem um curso de animação turística. Foi aí que se conheceram e foi aí que a ideia de combinar um tour histórico com LARP (Live Action Role-Playing) começou a ser desenhada. Apresentamos-lhe os tours Live History.

Os rapazes não são formados em História, mas trazem-na no coração e, temos a dizer, na ponta da língua. Em vez de debitar a matéria, enquadram, explicam, divertem. Têm boa disposição para dar e vender, enquanto percorrem os velhos bairros da Mouraria, Alfama ou Castelo. E também exploram a parte nova da cidade, como chamam à Baixa Pombalina. Algures pelo caminho, podem simular um breve duelo com o cliente. A nossa experiência aconselha algum cuidado, não vá ficar sem uma perna ou um braço.

Manuel Manso

Estas figuras históricas falam português, francês, castelhano e inglês. Em qualquer uma das línguas, dissertam, por exemplo, sobre a muralha e explicam como foi aproveitada para a construção de alguns edifícios (sabia que há um bocado de muralha fernandina a atravessar o restaurante Faz Gostos, no antigo Convento da Trindade?). Sabem as datas, os nomes, mas mais importante que tudo, defendem que os clientes têm de perceber as diferentes épocas e as sequências de acontecimentos. E contam toda a verdade, mesmo que custe dizer aos turistas que não há provas concretas de que um tal de Martim Moniz tenha ficado entalado numa das portas do Castelo de São Jorge.

Entre séculos, param para beber uma ginjinha na cafetaria A Mouraria, nas Escadinhas de São Cristóvão (sabia que custa apenas 0,90 cêntimos?). Nas Portas do Sol falam das obras de Santa Engrácia. Pedem aos clientes para imaginarem Alfama no tempo dos mouros. Imaginá-la sem os telhados e com edifícios em tons amarelados. 

Pelo meio dos passeios, a série A Guerra dos Tronos costuma vir à baila. E quem puxa do assunto são os próprios turistas. O nome de Jofre é uma desculpa óbvia para iniciar a conversa, por culpa da personagem maléfica rei Joffrey, e quando contam a história do bastardo rei D. João I, Mestre de Avis, é imediatamente comparado com Jon Snow.

Para já, os passeios Live History contam só com os dois. Têm tido dificuldade em arranjar mais alguém que lhes dê uma folga. Mas continuam à procura e são exigentes. Não pode ser muito velho (o passeio é puxado, principalmente para quem anda com malhas de metal) nem muito novo, porque aqui querem-se pessoas com alguma maturidade. Tem de estar disponível e ser de Lisboa. Basicamente querem alguém como eles: alguém que goste de LARP e que faça questão de ser rigoroso enquanto conta a história da capital portuguesa. É que Pedro e Jofre têm ouvido por aí alguns atentados – e dão exemplos. Como a guia que perguntou aos turistas: "sabem onde fica o Saint Sundays Square? É o Largo de São Domingos, cuja tradução em inglês é Saint-Dominic.

Os tours partem do Rossio às 10h30, de terça a sábado, e podem durar até três horas. Não fosse o peso das vestes e havia conversa para outras três. O passeio é em estilo free tour (no fim paga o que pode ou o que quer) e há sempre a possibilidade de fazer um passeio personalizado, à sua medida.

 Veja o vídeo:

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