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Crusader Kings III
DRCrusader Kings III

‘Crusader Kings III’: o jogo dos tronos

‘Crusader Kings III’ é um jogo de estratégia complexo, mas também é um RPG. Magnífico.

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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★★★★☆

Tudo indica que o avatar do jogador é uma pessoa – um senhor feudal, um rei, ou até um imperador – que tem de expandir as fronteiras do seu território, conquistando os condados, os ducados, os países à sua volta. Os sistemas e mecânicas de Crusader Kings III são densos e complexos, e quem nunca tiver tido qualquer contacto com Crusader Kings II e as suas 15 expansões pode demorar dias até perceber ao certo o que se está a passar, mas há algo de magnético neste híbrido de estratégia e RPG (role-playing game) que torna difícil largá-lo. Mesmo quando não se sabe o que se está a fazer.

Para os neófitos, há um tutorial bastante completo, onde se controla uma figura histórica, Murchad de Munster, um senhor feudal irlandês que tem de construir infraestruturas e expandir o seu território, através da diplomacia, da guerra e de inúmeros esquemas, até unificar o reino da Irlanda. Este período instrutório prolonga-se por várias horas ou dias, antes de chegar o momento em que se começa a jogar sem rotas (ou neste caso notas) auxiliares, e mesmo assim vislumbra-se apenas a ponta do metafórico iceberg sobre o qual o jogo está alicerçado.

Quem não quiser saber da Irlanda pode controlar famílias e casas reais noutros pontos da Europa, África ou Ásia, cada uma com a sua religião e cultura, e tentar recriar conquistas e episódios históricos. Alternativamente, dá para tentar escrever uma História diferente daquela que conhecemos, em que por exemplo os muçulmanos conquistaram toda a Península Ibérica, ou o Império Bizantino recapturou todo o território do Império Romano. As possibilidades são ilimitadas, como num bom RPG. O tempo é passado a olhar para menus e a tomar pequenas e grandes decisões, como num jogo de gestão estratégica.

Independentemente do ponto de partida ou do reino controlado, mais cedo ou mais tarde o personagem inicial vai morrer, nem sempre de causas naturais, e passa-se a controlar o seu herdeiro. É então que se percebe que o protagonista não é um lorde qualquer, mas a sua dinastia, que é esse o papel que o jogador interpreta neste role-playing game. A partir daí, o jogo e as jogadas passam a ser menos imediatas – não vale a pena perder tempo e recursos a tentar conquistar um ducado, se é possível casar o filho com a herdeira de um reino vizinho e assegurar que um futuro neto, que mais cedo ou mais tarde o jogador vai controlar, herda todo o reino e não apenas o tal ducado.

Alguns esquemas demoram um século ou mais a dar frutos, e pelo caminho muita coisa pode correr mal. Aliás, quase de certeza que algo vai correr mal. É necessário estar constantemente a testar novas abordagens, a adaptar e a redesenhar os planos iniciais. Além disso, cada herdeiro tem a sua própria personalidade, objectivos e traços pessoais, e o jogador é penalizado por ir contra a vontade do personagem que está a controlar. Um tipo paranóico, por exemplo, não vai querer trazer novos súbditos para a sua corte. É essencial ter atenção a esses detalhes.

A história começa a desenrolar-se em 867 ou 1066, prolonga-se até 1453 e, provavelmente, vão passar-se centenas de anos e controlar-se inúmeros ramos de uma árvore genealógica cada vez mais vasta e confusa antes de se ter uma última revelação: o personagem principal do novo opus estratégico da Paradox nunca foi um rei, nem uma dinastia. O protagonista é, sempre foi, a ambição e a sede de poder enquanto conceito abstracto – como em quase todos os jogos de estratégia, convenhamos. A dinastia é apenas o veículo dessa ambição.

Ao longo dos séculos, o reino nunca é expandido para melhorar a vida dos sucessivos reis. Muito menos do homem comum, que é apenas mais um número nos exércitos, uma moeda nos cofres do reino ou, quando muito, um camponês descontente que se junta a uma revolta popular que é necessário esmagar. Não é por acaso que os únicos personagens que têm um rosto são outros nobres, os seus vassalos e membros da corte que podem ser usados em inúmeros esquemas. Crusader Kings III é um tratado sobre o poder e as inúmeras formas como ele aliena e corrompe. É magnífico.

Disponível para Mac e PC.

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