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Erica
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‘Erica’ é um jogo de carne e osso

Disponível desde Janeiro nos dispositivos móveis da Apple, ‘Erica’ não sabe se quer ser um filme interactivo ou um videojogo.

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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★★☆☆☆

Durante a década de 90, foram criados inúmeros videojogos com actores de carne e osso, desde o icónico Night Trap a um The X-Files Game com várias estrelas da série no elenco. A partir do ano 2000, estas aventuras gráficas com imagens reais caíram no esquecimento e deixaram de ser produzidas em grande escala, mas nos últimos anos temos assistido ao lançamento nas consolas de uma nova leva de filmes interactivos, como Late Shift e The Complex, entre outros títulos da Wales Interactive, ou Erica, lançado nos dispositivos iOS há uma semana. Até a Netflix flirtou com o género em Black Mirror: Bandersnatch (2018).

Criado pelos estúdios Flavourworks e editado originalmente pela Sony em Agosto de 2019, Erica era até há pouco tempo um exclusivo da PlayStation 4. Mas, em meados de Janeiro, foi disponibilizada uma nova versão para iPhone e iPad. O download é gratuito, contudo, após alguns minutos de jogo, é preciso pagar para continuar a ver a história desenrolar-se. A ver e a decidir como se desenrola. Como noutros filmes interactivos, o jogador/espectador é frequentemente convidado a fazer escolhas que influenciam a narrativa, para aumentar a sua imersão e identificação com a protagonista. 

Mas a interactividade não se resume só a estas escolhas. Também somos convidados a interagir com o meio envolvente, remexendo em gavetas, abrindo caixas, limpando vidros embaciados. Em teoria, são acções inconsequentes, que tentam dar uma maior (ainda que falsa) sensação de controlo sobre a protagonista interpretada por Holly Earl. Na prática, são acções maçadoras e repetitivas, que abrandam bruscamente o ritmo da narrativa, quebrando a ilusão e a sensação de imersão em vez de ampliá-la. Isto não faz de Erica um jogo melhor. Antes pelo contrário.

E se não é um bom jogo, Erica também não é lá grande filme. A direcção de Jack Attridge é competente, mas não passa disso. E a qualidade das interpretações deixa muito a desejar. Pelo menos o ambiente opressivo e o enredo conspiratório conseguem manter o nosso interesse ao longo das duas ou três horas que se demora a chegar ao fim deste thriller psicológico pela primeira vez – assistir a todos os finais e interacções, no entanto, ocupa mais de dez horas.

A história começa com uma criança, a Erica do título, a encontrar o pai morto, antes de ser confrontada pela pessoa que o matou. Tem o rosto obscurecido, uma faca ensanguentada na mão e uma pistola apontada à miúda. É então que a protagonista acorda. Estava a ter um pesadelo. Uns minutos depois, alguém deixa uma caixa à porta de sua casa, com uma mão decepada lá dentro. Estão lançadas as bases para uma história de corrupção, abuso institucional e ocultismo, cujo final se encontra em aberto. Dependendo das acções do jogador, o seu desenlace será diferente. E o jogo convida-nos a recomeçá-lo várias vezes para assistirmos a todos os finais possíveis. Resta saber quantos terão vontade de o fazer.

Disponível para iOS e PlayStation 4.

Mais (e melhores) jogos com imagens reais

Night Trap: 25th Anniversary Edition

É um dos mais icónicos videojogos criados com imagens reais previamente filmadas. Editada entre 1992 e 1993 na Mega-CD da Sega, e em 1994 na 32X, na 3DO e nos computadores, esta aventura gráfica camp fez correr muita tinta nos anos 90 e, apesar de ter recebido duras críticas quando foi lançada, tornou-se um objecto de culto. Há uns anos, foi reeditada em todas as consolas, com extras sumarentos e algumas arestas limadas. A acção decorre numa casa isolada, onde recentemente desapareceram cinco adolescentes, e mais cinco – incluindo uma polícia à paisana – acabam de chegar. Cabe ao jogador investigar o sucedido, e salvar os jovens, enquanto assiste ao que passa nas várias divisões através de câmaras ocultas e usa armadilhas para capturar uma espécie de vampiros ninja. É um pouco ridículo, os actores são maus e os diálogos piores, tem o aspecto e valores de produção de um filme de Z. Mas é tão mau que é bom.

Disponível para PC, PlayStation Vita, PlayStation 4, Switch e Xbox One.

Her Story

O britânico Sam Barlow começou a fazer videojogos ainda na década de 90 – Aisle (1999), o seu primeiro projecto, foi muito elogiado, mas pouco jogado. E nos anos zero, enquanto trabalhava nos estúdios britânicos Climax, dirigiu um par de capítulos da saudosa série Silent Hill. Porém, teve de esperar por 2015 para ver uma das suas criações, Her Story, ser universalmente aclamada. A acção desenrola-se num velho computador, onde há, entre outras coisas, documentos que explicam as mecânicas e objectivos do jogo, e excertos de um vídeo, ou vídeos, que é possível ver e pesquisar. São registos de um interrogatório policial a uma mulher, Hannah Smith (Viva Seifert, magnífica), cujo marido foi assassinado. À medida que se assiste aos vídeos, começa a desvendar-se a história desta mulher. Mas nem tudo é o que parece, nesta produção independente.

Disponível para Android, iOS, Mac e PC.

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Telling Lies

Lançado em 2019 pelos estúdios Annapurna, Telling Lies é o mais recente trabalho de Sam Barlow e é descrito pelo próprio como o sucessor espiritual de Her Story. Continua a ser um jogo narrativo com imagens reais, um thriller experimental e fragmentário que se desenrola dentro de um computador, onde há vários vídeos para ver e palavras que temos de pesquisar para perceber o que está a acontecer e o que aconteceu. No entanto, é mais ambicioso a todos os níveis do que o seu antecessor de 2015. Para começar, há quatro personagens em vez de uma só, e o escopo da narrativa é muito mais vasto, além de os temas abordados serem mais actuais e cativantes. Isto serviria de pouco se a escrita não fosse tão cuidada e entusiasmante como era em Her Story. E se as interpretações não estivessem à altura do argumento. Só que estão.

Disponível para iOS, Mac, PC, PlayStation 4, Switch e Xbox One.

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