Yakuza: Like a Dragon
DRYakuza: Like a Dragon
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‘Yakuza: Like A Dragon’: a jornada do herói

‘Yakuza: Like A Dragon’ é um RPG que reinventa e revigora a série de culto da Sega.

Luís Filipe Rodrigues
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★★★★☆

Na última década do século XX, o nome da Sega era, a par de Nintendo, sinónimo de videojogos em Portugal e em quase todo o mundo. Mas quando o primeiro Yakuza saiu, em 2005, os dias de glória da empresa já tinham passado. Talvez por isso, durante muitos anos, a franquia foi um fenómeno estritamente japonês. Por isso e porque estes jogos têm uma sensibilidade estrangeira. Comparados com os blockbusters europeus e americanos, são excêntricos, menos polidos e reflectem a personalidade e os tiques dos seus criadores – algo que raramente se vê no Ocidente. E Yakuza: Like A Dragon é capaz de ser o capítulo mais bizarro desta série de culto. Também é o melhor.

Lançado em Janeiro deste ano no Japão, apenas na PlayStation 4 e com o título Ryū ga Gotoku 7: Hikari to Yami no Yukue, chegou finalmente ao Ocidente e aos computadores e consolas da Microsoft em Novembro. Pelo caminho, o título perdeu o número sete. E ainda bem, porque Yakuza: Like A Dragon é um novo começo. O antigo protagonista, Kazuma Kiryu, fui substituído por um personagem radicalmente diferente, Ichiban Kasuga, e em vez de ser um jogo de acção é um JRPG (japanese role-playing game, ou jogo narrativo japonês) tradicional, com combates por turnos. Há referências, mecânicas e nomes que serão reconhecidos pelos veteranos da série, porém os neófitos nunca vão sentir-se à deriva, nem que têm de estudar a matéria em atraso.

A história começa na zona ficcional de Kamurocho, em Tóquio, o habitual cenário da série. O personagem principal é um yakuza – ligado ao clã Tojo – com um coração de ouro e um código de honra que o coloca em choque com o capitão da sua família. Ao fim de uma ou duas horas, Kasuga vai preso por um crime que não cometeu, para safar a sua família criminal. Sai em liberdade passados 18 anos e regressa a Kamurocho, mas encontra um mundo e uma yakuza diferente; o patriarca da sua família traiu o clã Tojo, juntou-se a outro grupo e, quando finalmente encontra o protagonista, tenta matá-lo. E isto é apenas o prelúdio de uma aventura que se vai prolongar por dezenas, ou até mais de uma centena, de horas.

Kasuga é deixado à beira da morte, mas sobrevive. Acorda passados uns dias, no meio do lixo (real e figurado) e com uma cicatriz no peito, onde levou um tiro. A acção passa então para a zona ficcionada de Isezaki Ijincho, em Yokohama, onde três organizações criminosas – a yazuka e as máfias chinesa e coreana – se encontram numa espécie de Guerra Fria que está prestes a aquecer. É aí que ele tenta reconstruir a sua vida e, acompanhado por um sem-abrigo, um polícia caído em desgraça, uma acompanhante e outros personagens que habitam as margens da sociedade, decide tornar-se um herói. Como os personagens do seu jogo favorito, Dragon Quest.

A influência de Dragon Quest e de outros títulos do género é evidente desde o primeiro instante e torna-se mais óbvia à medida que o tempo passa. Apesar de se inspirar nos policiais japoneses, Yakuza: Like A Dragon não tenta replicar a acção destes filmes, como dantes. Agora, tudo lembra um JRPG. Só que em vez dos cenários futuristas ou fantásticos destes jogos, a acção passa-se num simulacro realista do Japão, que replica inclusive questões e pontos de tensão política e social. As convenções do género, no entanto, são respeitadas: combatem-se inimigos em encontros aleatórios para subir de nível, é essencial comprar novas armas e acessórios para avançar com a história, há diversos mini-jogos que convém completar. 

E as pequenas ligações e conversas de ocasião com os personagens secundários ou os muitos figurantes que se passeiam por este mundo são tão importantes como a narrativa principal e as actividades secundárias, que são frequente e deliciosamente ridículas – quatro missões opcionais consistem em entregar lenços de papel a um pobre diabo que passa a vida a entrar em casas de banho públicas onde falta o papel higiénico. Como num bom RPG japonês, os protagonistas destas pequenas histórias e os homens e mulheres que acompanham o nosso herói ao longo da aventura nunca são apenas meios para atingir um fim. Parecem pessoas, com as suas vidas interiores e objectivos. São amigos que vivem dentro do ecrã. E Yakuza: Like A Dragon é um jogo sobre essas amizades.

Mas o que o eleva acima de outros bons exemplos do género é que não é apenas um jogo. São vários. Também é um jogo de corridas de karts feito à imagem de Mario Kart. E um simulador de gestão empresarial, onde cada período comercial culmina numa reunião tensa com os accionistas. É possível perder horas no karaoke, a tentar acertar nas notas como num SingStar. Ou a jogar às cartas. Há um mini-jogo que consiste em tentar manter o protagonista acordado numa sala cinema. Outro obriga-nos a recolher latas para ganhar uns trocos. E há vários salões de arcade onde podemos entrar e jogar reproduções fiéis de clássicos da Sega como Virtua Fighter, Space Harrier, ou Out Run, entre outros.

Com tanta coisa a acontecer em simultâneo, muitas vezes a atenção dispersa-se. É normal pegarmos no comando para continuarmos a avançar com a história, e em vez disso passarmos três horas a procurar gatos perdidos pela cidade. Ou a sermos arrastados para mais um esquema absurdo. Ou a jogarmos poker num casino ilegal escondido dentro das paredes de outra casa de banho pública (não perguntem). Não é difícil uma pessoa perder-se em Yakuza: Like A Dragon. É um prazer.

Disponível para PC, PlayStation 4, Xbox One e Xbox Series X/S. Brevemente na PlayStation 5.

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