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Angelyne
Courtesy Peacock/NBCUniversal MediaAngelyne

‘Angelyne’, a misteriosa loura do cartaz

A série (TVCine Edition) é inspirada numa investigação da ‘Hollywood Reporter’ e tem uma irreconhecível Emmy Rossum no papel principal.

Escrito por
Eurico de Barros
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★★★☆☆

Em 1984, apareceu em Los Angeles um enorme cartaz com a fotografia de uma loura com grandes seios, a fazer beicinho e de óculos escuros. Tinha um número de telefone e dizia apenas: “Angelyne rocks”. Nos anos seguintes, Angelyne transformou-se num ícone, e num símbolo, da cidade, cujas ruas percorria ao volante de um Corvette cor-de-rosa, a sua cor de eleição. Vendia fotos suas (20 dólares cada) e merchandising, teve pequenos papéis nalguns filmes, cantou numa banda, apareceu, entre outros,  num vídeoclip com Moby e concorreu para governadora da Califórnia. Mas pouco se sabia sobre ela, e ela insistia em manter esse mistério em seu redor. 

Paradoxalmente (ou talvez não, dado estarmos em Los Angeles, o mesmo é dizer, em Hollywood), Angelyne tornou-se famosa pela sua constante e altamente sexualizada exposição pública, nos outdoors e no mundo da cultura pop, e por cultivar cuidadosamente a sua privacidade e escamotear a mais pequena informação sobre a sua identidade. O que originou que corressem todo o tipo de rumores em seu redor, desde ser na realidade um homem que se disfarçava de mulher, até estar casada com um multimilionário árabe que financiava a sua carreira. Em 2017, a revista Hollywood Reporter publicou um artigo do seu jornalista Gary Baum que contava a história da loura mais bombástica e esquiva de Los Angeles, e revelava a sua identidade. Ela chama-se Ronia Goldberg e nasceu na Polónia de pais sobreviventes dos campos de concentração nazis, que passaram primeiro por Israel antes de se instalarem em definitivo com a filha pequena nos EUA. (Angelyne contestou a reportagem em si, não os factos que trouxe à tona.)

A série Angelyne (TVCine Edition) é inspirada na investigação da Hollywood Reporter e tem uma irreconhecível Emmy Rossum no papel principal, fisicamente modificada por quilos de maquilhagem prostética e usando um guarda-roupa tão exíguo como extravagante, para se parecer o mais possível com a personagem que interpreta. Rodada em estilo pseudo-documental e passada em 2010, Angelyne segue um jornalista daquela publicação, Jeff Glaser (Alex Karpovsky), baseado no referido Gary Baum, nas suas investigações para tentar descobrir quem é na realidade a misteriosa personagem, e que se vê confrontado a todo o pé de passada com o secretismo que Angelyne criou em seu redor e com versões contraditórias sobre ela e a sua vida. O que leva o pobre Glaser aos limites do desespero. 

A história circula constantemente entre o passado e o presente, e a série é tanto sobre Angelyne, a sua vontade de ser célebre e de ao mesmo tempo querer controlar ao pormenor tudo o que diz respeito à sua pessoa (recorrendo mesmo à mentira mais descarada), e de assim evitar os problemas, o sofrimento e o final trágico de outras louras famosas de Hollywood, como Marilyn Monroe ou Jane Mansfield; como também sobre o superficial, extravagante e hipercompetitivo ecossistema humano, social, artístico e cultural de Los Angeles e Hollywood, e a sua fixação com a fama, a identidade, o dinheiro e o reconhecimento público, e que gera regularmente figuras como Angelyne. Que, para se manter sempre na crista da onda e, ao invés de muitas outras, desaparecer para sempre após gozar respectivos 15 minutos de fama, apostou no máximo de exposição da imagem e no mínimo de revelações sobre si mesma.  

Angelyne não gostou da série e vai responder com o seu próprio filme, intitulado Angelyne: Billboard Queen. Enquanto não chega aos cinemas, Angelyne cumpre competentemente, e quer com sentido de humor, quer do camp e do kitsch que rodeia e define a retratada (na sua interpretação, Emmy Rossum nunca a leva totalmente a sério, mas também nunca a ridiculariza) com o desígnio de nos mostrar a verdadeira Angelyne e explicar as razões por trás da sua construção, faz agora 40 anos, por uma tal Ronia Goldberg.

Mais críticas de televisão

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  • Filmes

★★★

O melhor elogio que podemos fazer a ‘Chorus Girls’ (TV Cine Edition) é que pede meças às séries inglesas do mesmo formato e matriz narrativa.

 

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