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A Última Caminhada
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Cinemateca: Matar ou não matar? Eis a questão em 10 filmes

O título já diz muito: Ciclo Matar ou Não Matar. E surge quando a pena de morte foi abolida em Portugal, 150 anos atrás. Boa ocasião para programar uma mostra de filmes que têm a execução letal como tema. E ainda por cima são bons.

Escrito por
Rui Monteiro
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Bons filmes, e boa ocasião para reflectir um pouco sobre a pena de morte, que continua a ser praticada em inúmeros países, incluindo algumas democracias. Viagem também pela consciência do cinema, ou pelo menos de uma mão cheia de realizadores capazes de fazer de um assunto controverso obras essenciais da arte cinematográfica.

Cinemateca: Matar ou não matar? Eis a questão em 10 filmes

O Génio do Mal

A abrir as hostilidades, por assim dizer, um drama de tribunal inspirado no caso do duo Leopold e Loeb, dois estudantes que matam por simples gozo e por arrogância intelectual, como se estivessem acima do bem e do mal, tanto que nem se preocupam em ajudar o seu advogado de defesa.

A abordagem de Richard Fleischer, neste seu filme de 1959, com a colaboração de um elenco exemplar, onde se encontram Orson Welles, Dean Stockwell e Bradford Dillman, é a do filme negro e a da psicanálise, principalmente nas cenas de tribunal. Uma leitura muito diferente, portanto, da feita por Alfred Hitchcock quando filmou A Corda, baseado muito livremente no mesmo caso, mas mais focado no crime, na sua descoberta e no castigo.

Quinta 15, 15. 30.

Breve Filme Sobre o Acto de Matar

Krzystof Kieslowski, nesta película de 1988, como que procede a uma “emanação” do episódio de Decálogo dedicado ao mandamento “não matarás”. E, na verdade, este filme é, de facto, uma versão longa e remontada desse episódio da série televisiva dedicada pelo realizador polaco a cada um dos Dez Mandamentos que Deus entregou a Moisés.

Com Miroslaw Baka, Krzystof Globisz e Jan Tesarz no elenco, o cineasta, perseguindo o percurso de um jovem entre o assassínio que comete e a execução a que é condenado, coloca perante o espectador a interrogação “não matarás?” com secura e austeridade, uma crueza de onde está ausente qualquer ornamentação.

Sábado 17, 21.30.

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Matou

Uma das obras-primas de Fritz Lang aconteceu no seu primeiro filme sonoro, dirigido na Alemanha, em 1931, ainda antes do exílio norte-americano que a ascensão do nazismo acelerou.

Com Peter Lorre, Ellen Widmann, Gustav Gründgens e Otto Wernicke, Lang mais do que descreve um caso real (o chamado Vampiro de Dusseldórfia, um assassino de crianças que actuava naquela cidade alemã), antes traça o retrato de uma Alemanha mergulhada na depressão económica na véspera da chegada de Hitler ao poder.

Segunda 19, 21.30.

O Enforcamento

É um dos mais exaltantes filmes de Nagisa Oshima mas, depois de êxitos como O Império dos Sentidos ou Feliz Natal, Mr. Lawrence foi caindo no esquecimento, pelo que esta sessão é uma boa oportunidade de conhecer outra faceta, mais jovem e por ventura mais densa, do grande realizador japonês.

Partindo de mais um facto real (os crimes e a execução de Ri Chin, um coreano que assassinou duas jovens numa escola secundária no Japão) e que serve de pretexto ao realizador, com a colaboração essencial de Do-yun Yu, Kei Sato, Toshirô Ishido e Rokko Toura, para dirigir uma obra, em 1968, praticamente num só cenário, que é uma poderosa reflexão sobre a pena de morte, porém com alguns contornos deliciosamente burlescos – no sentido negro do termo.

Terça 20, 19.00.

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Into the Abyss

Werner Herzog é um dos maiores entre os grandes cineastas de obra irregular. E Into the Abyss, dirigido em 2011, é um dos seus melhores filmes neste século, o qual, convenhamos, o tem mostrado como um cineasta errático, mais do que nunca senhor do seu nariz, cada vez mais egocêntrico.

O que nem importa. Afinal, mais coisa menos coisa, foi sempre assim. Aqui, Herzog, subintitulando a película Um Conto de Morte, Um Conto de Vida, penetra no corredor da morte da uma prisão americana onde se encontra com um condenado em várias sessões de conversa, quase sempre sobre o acto de matar, propondo, nessa viagem ao abismo, todo tipo de questões éticas e metafísicas.

Quinta 22, 21.30.

El Verdugo

A crítica, mas em primeiro lugar e em grande parte o público, fizeram deste filme de Luis García Berlanga um dos seus mais conhecidos, em grande parte graças ao negrume do seu humor.

Com Nino Manfredi, Emma Penella, José Isbert, José Luis López Vázquez e María Luisa Ponte no elenco, esta é uma sátira, do tipo feroz, à pena de morte. O realizador espanhol parte da história de um jovem tímido, simplório, apaixonado que casa com a filha do carrasco da região. Por sucessão toca-lhe agora tomar o lugar do sogro quando este se reforma. E mau grado escrúpulos e agonias, o rapaz acabará por cumprir a missão, assumindo o hábito ou a rotina de que o sogro lhe fala tornando em normalidade um absurdo.

Sexta 23, 21.30.

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A Sangue Frio

Adaptação do célebre romance-reportagem de Truman Capote, este filme, com argumento e realização de Richard Brooks, segue os passos de dois jovens assassinos (interpretados por Robert Blake e Scott Wilson), a violência dos seus crimes e as suas consequências.

Grande parte do valor do filme vem, de facto, da qualidade da adaptação do original de Capote, transcrita em argumento dos mais sólidos que Brooks escreveu e filmou apoiado na extraordinária fotografia a preto e branco de Conrad Hall, que valeu uma das quatro nomeações para os Óscares do ano seguinte.

Sábado 24, 21.30.

Dança Fatal

Ruth Ellis foi a última mulher condenada à morte e executada no Reino Unido. E, neste filme de 1985, Mike Newell, com Miranda Richardson, Rupert Everett e Ian Holm no elenco, disseca o seu crime, o seu julgamento, mas principalmente a sua vida.

Um dos aspectos importantes e mais sedutores da película é o cuidado do realizador, numa sociedade rigidamente classista, como a inglesa, em realçar a importância da “condição de classe” de Ruth Ellis como elemento propício à aumentar a severidade dos tribunais.

Segunda 26, 15.30

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O Barba Azul

Charles Chaplin partiu de uma ideia de Orson Welles quando se dedicou à realização e interpretação de O Barba Azul, uma variação tragicómica da carreira de Henri Désiré Landru (um assassino serial francês do início do século XX) visto pelo cineasta como um “industrial” do crime.

Pois, por estranho que pareça, em 1947, quando estreou, O Barba Azul tornou-se o filme mais polémico da carreira de Charlot. Além do seu primeiro fracasso comercial, a obra ainda provocou a fúria dos meios conservadores americanos. Resultado: filme proibido na maior parte dos Estados Unidos, e Chaplin, acusado de comunista, acabando por deixar o país. Tudo pelo que ele considerou ser: “o melhor e o mais vibrante filme que jamais fiz.”

Segunda 26, 21.30.

A Última Caminhada

Enquanto se dividia (e continua a dividir) entre o teatro e o cinema, Tim Robbins dirigiu um dos filmes mais célebres da década de 1990, que deu a Sean Penn um Óscar de melhor actor.

Nesta obra em que Penn é um condenado à morte pelo assassínio de dois jovens com requintes de malvadez, Susan Sarandon é a freira que o acompanha nos dias antes da “última caminhada”. Os diálogos entre o criminoso e a freira são notáveis na sua deambulação entre a frieza dos sentimentos e as contradições do humanismo da personagem interpretada por Sarandon. Mas, sem dúvida, o mais brilhante nesta película é a forma como o realizador não cai na armadilha de humanizar e tornar, digamos, simpática a personagem criada por Sean Penn. Retirando a empatia da equação, o que Robbins filma é o debate e a exposição sobre a justiça da pena de morte.

Terça 27, 15.30.

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