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História de Gangsters (1990)
©DRAlbert Finney em História de Gangsters

Dez filmes essenciais com Albert Finney (1936-2019)

Recordamos o grande actor inglês, que morreu a 7 de Fevereiro. Estes são dez dos melhores papéis de Albert Finney.

Escrito por
Eurico de Barros
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Pertencente à geração de Richard Burton, Terence Stamp, Michael Caine ou Peter O'Toole, Albert Finney era um dos maiores actores britânicos, que começou por se distinguir no palco (chegaram a chamar-lhe "O novo Laurence Olivier") e na televisão, para logo depois passar com muito sucesso para o cinema. Finney era um daqueles actores espantosamente talentosos e vigorosos, capaz de mudar de género e de registo de forma radical, de um filme para o outro. E também realizado uma fita, que também interpretou. Recordamo-lo aqui em 10 dos seus melhores papéis, que até podiam ser 15 ou 20.

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Dez filmes essenciais com Albert Finney

‘Sábado à Noite, Domingo de Manhã’, de Karel Reisz (1960)

Em 1960, Albert Finney, já então conhecido do público devido ao teatro e à televisão, fez de filho de Laurence Olivier em O Comediante, de Tony Richardson, e foi o principal intérprete deste Sábado à Noite, Domingo de Manhã, no papel de um jovem operário que se envolve com duas mulheres, uma delas casada. Um dos títulos de referência da Nova Vaga do cinema britânico, preocupado com o retrato realista da vida das classes trabalhadoras, e dos problemas sociais da altura, a fita, além de ter tido imenso sucesso, impôs Finney como uma das principais caras de uma nova geração de actores que despontava, também ela em grande parte provinda de um meio social humilde.

‘Tom Jones, Romântico e Aventureiro’, de Tony Richardson (1963)

Albert Finney desistiu do papel principal de Lawrence da Arábia, de David Lean, para ser dirigido por Tony Richardson, com quem tinha já trabalhado em O Comediante, e ser o herói desta inspirada adaptação ao cinema do romance satírico e picaresco que Henry Fielding escreveu em 1749. A sua extraordinária interpretação, plena de energia e de comicidade, valeu-lhe a Taça Volpi de Melhor Actor no Festival de Veneza e a primeira de cinco nomeações ao Óscar de Melhor Actor (que nunca ganharia), e abriu-lhe as portas de Hollywood de par em par.

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‘Caminho para Dois’, de Stanley Donen (1967)

Dirigido por Stanley Donen, Albert Finney interpreta aqui um arquitecto de sucesso, casado há dez anos com uma mulher bonita e sofisticada (Audrey Hepburn). Vão a caminho de Saint-Tropez no seu carro de desporto, para comemorarem a construção de uma casa para um cliente do marido, e a jornada serve-lhes para recordarem outras anteriores em França, desde aquela em que se conheceram, bem como para recordarem as suas respectivas anteriores. Donen viaja para trás e para a frente no tempo nesta comédia dramática sobre um casal em crise matrimonial, e Finney e Hepburn são soberbos e credíveis como marido e mulher.

‘Passos Silenciosos’, de Stephen Frears (1971)

A estreia de Stephen Frears a realizar fez-se com esta coméda policial em que Albert Finney dá um festival de representação, no papel de um comediante de clube nocturno e empregado de um bingo de Liverpool, que sonha em ser detective particular com o dos livros e filmes americanos. Um dia, põe um anúncio no jornal a oferecer-se como detective, e consegue um caso, metendo-se numa grande embrulhada. Finney exibe todo seu talento para a comédia, bem como para a imitação, ao fazer a sua personagem desdobrar-se em tiques e trejeitos “bogartianos”, e de private eye das fitas “negras” clássicas de Hollywood.

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‘Um Crime no Expresso do Oriente’, de Sidney Lumet (1974)

Foi tudo menos consensual a interpretação que Albert Finney fez do Hercule Poirot de Agatha Christie nesta (excelente) versão cinematográfica de um dos livros clássicos da “Rainha do Crime”, assinada por Sidney Lumet. Há quem defenda que Finney fez uma personificação inatacável do detective belga, física, psicológica e emocionalmente, e quem diga que a composição está errada em tudo, desde a postura de Poirot até ao tom excessivamente afectado e excessivamente colérico escolhido pelo actor. Seja como for, Albert Finney foi mais uma vez nomeado ao Óscar de Melhor Actor.

‘Depois do Amor’, de Alan Parker (1982)

Um casamento de 15 anos está a implodir, e deixa marcas em todos os membros da família, do marido e da mulher, George e Faith Dunlap (Albert Finney e Diane Keaton), bem como nas quatro filhas do casal. A personagem de Finney é um escritor de sucesso que tem uma amante, e o actor revelou que, para a compor, foi buscar coisas à sua vida – “quando eu próprio me comportei de forma monstruosa”. As cenas de conflito entre as personagens de Finney e Keaton são de um realismo angustiante, e Depois do Amor é um dos melhores filmes de sempre sobre este tema, em boa parte graças aos dois actores principais.

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‘O Companheiro’, de Peter Yates (1983)

Neste filme baseado na peça The Dresser, de Ronald Harwood, Albert Finney interpreta um velho, pomposo e respeitado actor shakespeareano, conhecido por todos como "Sir" (a personagem é baseada em Sir Donald Wolfit, do qual Harwood foi o camareiro durante vários anos – Tom Courtney faz o seu papel na fita). "Sir" está já muito idoso e doente, a perder as suas faculdades e na fase descendente da carreira, mas mesmo assim lidera a sua companhia numa digressão por Inglaterra, durante a II Guerra Mundial, fazendo o papel principal de Rei Lear. Finney é formidável no patético, canastrão e vulnerável "Sir", um grande actor a interpretar outro que outrora o foi.

‘Debaixo do Vulcão’, de John Huston (1984)

Um dos papéis da vida de Albert Finney, do qual John Huston diria mais tarde: “É a mais extraordinária interpretação que já vi, e que dirigi”. Debaixo do Vulcão adapta o livro semi-autobiográfico de Malcom Lowry, passado ao longo de 24 horas na vida de um ex-cônsul inglês alcoólico e de comportamento auto-destrutivo, numa vilória no México, no Dia de Finados de 1938. A personagem está permanentemente embriagada e Finney, acompanhado por Jacqueline Bisset na sua ex-mulher, e Anthony Andrews no seu meio-irmão, torna-a ora azedamente cómica, ora patética, ora espirituosa, ora trágica, mas nunca caricatural nem ridícula. De novo nomeado ao Óscar de Melhor Actor, Finney perdeu-o para F. Murray Abraham em Amadeus.

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‘História de Gangsters’, de Joel Coen (1990)

Albert Finney não é o principal intérprete deste brilhante pastiche dos velhos filmes de gangsters feito pelos irmãos Joel e Ethan Coen, mas a sua interpretação do mafioso irlandês Leo O’Bannon sobressai naturalmente, pela forma inteligente como o actor o compõe. Finney protagoniza, aliás, uma das mais fabulosas sequências de História de Gangsters, aquela em que há um atentado contra O’Bannon, que está em casa, na cama, a ler o jornal, fumar um charuto e a ouvir música, e que dura o tempo que demora a cantar o clássico Danny Boy. O breve gesto que Finney faz com a cabeça no final do tiroteio é um toque de génio, a marca de um imenso actor.

‘Antes que o Diabo Saiba que Morreste’, de Sidney Lumet (2007)

Naquele que foi o seu antepenúltimo filme, e em que voltou a ser dirigido por Sidney Lumet, Albert Finney interpreta o pai de Ethan Hawke e Philip Seymour Hoffman, um joalheiro cuja loja é assaltada pelos próprios filhos, que precisam urgentemente de dinheiro, e que vêem a mãe ser assassinada por um cúmplice durante o roubo. Finney, que nunca recusou interpretar personagens antipáticas ou com falhas de carácter, é magnífico no pai cheio de azedume e desprezo pelos filhos, e a transmitir a dor e o desgosto da personagem pela morte da mulher, sem exageros melodramáticos.

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