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Sollers Point
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IndieLisboa 2018 - Silvestre, o lugar dos ousados

A singularidade é a regra desta secção do IndieLisboa. Podem ser jovens realizadores ou autores com médio e longo passado. Não podem é, em Silvestre, aceitar a norma, a regra consagrada.

Escrito por
Rui Monteiro
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Na secção Silvestre do IndieLisboa, os realizadores estão à vontade para encontrar outros modos de fazer cinema, para ser rebeldes, para despertar diferentes linguagens. Aí vão sete filmes para exemplificar.

IndieLisboa 2018 - Silvestre, o lugar dos ousados

En Attendant les Barbares

Eugéne Green, o cineasta norte-americano naturalizado francês que venceu o Grande Prémio do IndieLisboa, em 2004, com Le Monde Vivant, está de regresso com o seu filme do ano passado.

Desta vez, criando e desenvolvendo o seu argumento com os actores (Fitzgerald Berthon, Hélène Gratet, Arnaud Vrech, Chloé Chevalier e Ugo Broussot), Green apresenta uma sátira sobre os dias de hoje. Dias em que as redes sociais anunciam a chegada dos bárbaros e o único sítio seguro é uma mansão medieval onde não são permitidos telemóveis. O tom é tudo menos naturalista ou próximo de qualquer espécie de realismo, com os diálogos ditos em tom declamatório, dirigidos à câmara, cada plano motivo de longo trabalho de composição onde se mostra abertamente a contaminação de outras artes. (Qui, 26, 21.45;  Sáb, 5, 14.45, Culturgest)

Victory Day

O trabalho de Serguei Lozsnitsa (a quem o festival dedicou uma retrospectiva em 2011), talvez… Disparate, decerto pelas suas peculiaridades, dividido entre o documentário e a ficção, tornam-no um dos mais estimulantes cineastas actuais, pelo que olhar apenas a um lado é sempre redutor na apreciação da sua obra.

Como por alguma ponta se há-de começar, comece-se pelo documentário, concluído já este ano, sobre o 9 de Maio em Berlim, dia em que os emigrantes russos que vivem na Alemanha celebram a tomada da cidade aos nazis pela União Soviética, em 1945. Dia em que, no parque Treptower, muitos vestem uniformes militares soviéticos, trazem bandeiras e cartazes que celebram, curiosamente, Vladimir Putin (e não Estaline, o então dirigente da União Soviética que ordenou o ataque) e a grande nação russa cantando e dançando. O que Lozsnitsa filma como uma parábola sobre a ascensão do nacionalismo na Rússia. (Sex, 27, 18.30; Dom, 6, 22.00, Ideal)

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Krotkaya

Conhecido o seu lado documentalista com atitude, passemos ao lado ficcional e igualmente reflexivo e interventivo do cinema de Sergei Loznitsa através da sua longa-metragem do ano passado.

um melodrama a dar para o surrealista inspirado no conto de Fiódor Dostoiévski (que Robert Bresson também adaptou, mas em 1966, em Uma Mulher Meiga), no qual uma mulher (Vasilina Makovtseva) não consegue contactar o marido encarcerado. Na intenção de saber do seu paradeiro mergulha num mundo de corrupção e burocracia e violência. Como não podia deixar de ser, também esta película é uma parábola política sobre a Rússia de hoje. E mais um episódio da sua persistente desmontagem das ruínas identitárias do regime soviético. (Sex, 27,21.45, Culturgest)

Sollers Point

Há oito anos, Matthew Porterfield estreou-se no IndieLisboa com a curta-metragem Putty Hill. Desde então apresentou outra curta, Take What You Can Carry, e a longa I Used to Be Darker.

Sollers Point é já o seu quarto filme, no qual retrata Keith (McCaul Lombardi, em elenco que inclui Jim Belushi e Zazie Beetz) que, aos 24 anos, sai da prisão, tenta recompor-se embora sempre acossado pelos demónios do passado, mas dificilmente escapa à violência presente e persistente numa comunidade devastada pelo desemprego, pelas drogas e pela segregação racial. (Dom, 29, 16.15; Sáb, 5, 19.00, S. Jorge)

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O Processo

Depois da prisão de Lula da Silva e aconteça o que acontecer no Brasil, onde está sempre a acontecer alguma coisa e nada é certo, este documentário em forma de filme de tribunal, centrado na destituição da presidente Dilma Rousseff, ajuda a compreender a girândola de acontecimentos políticos e judiciais dos últimos anos.

Com o desfecho conhecido, e tendo em atenção a considerável falta de distanciamento da realizadora, o filme de Maria Augusta Ramos não deixa de ser um documento importante para a compreensão de um processo que uns chamam golpe e outros recuperação de poder. Toda a atenção está focada no acompanhamento da equipa de defesa da ex-presidente, daí resultando um documentário que, na perspectiva política da cineasta brasileira, “coloca a nu os meandros da judicialização da política.” (Ter, 1, 18.30, S. Jorge; Dom, 6, 19.00, Culturgest)

Train de Vies ou les Voyages d’Angelique

Vamos pôr as coisas assim: se Les Sept Déserteurs, filmado em simultâneo e com os mesmos actores e equipa, é influenciado pelos filmes de guerra de William Wellman, Samuel Fuller e Jean-Luc Godard, Train de Vies ou les Voyages d’Angelique é evidente descendente de Alfred Hitchcock e Ernest Lubitsch.

Com o comboio como, digamos, agregador dos seus argumentos, o último filme de Paul Vecchiali, rodado, literal e integralmente sobre carris, cruza uma série de personagens (interpretadas pelo realizador, por Marianne Basler, Ugo Broussot, Jean-Philippe Puymartin e Brigitte Roüan) que, emparelhadas, confessam os seus desejos mais íntimos e as suas memórias mais secretas. (Sex, 4, 18.00, Ideal; Dom, 6, 18.45, S. Jorge)

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Premières solitudes

Outro regresso de assinalar na programação do IndieLisboa 2018 é o de Claire Simon. Motivo, há quatro anos, de uma retrospectiva, a cineasta volta com um documentário sobre a adolescência realizado em 2017.

Desta vez, a realizadora francesa usa seis adolescentes, rapazes e raparigas de uma escola nos subúrbios de Paris, agrupados aos dois e aos três, e deixa-os conversar sobre as suas vidas, as suas memórias, os seus anseios e medos; claro, também sobre os sonhos para o futuro, numa espécie de exercício orientado para abrir espaço à compreensão do outro em que a câmara é o catalisador. (Sex, 4, 10.30, Culturgest; Sáb, 5, 15.00, S. Jorge)

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