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Aquele Querido Mês de Agosto
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Os dez melhores filmes portugueses dos dez anos da Time Out Lisboa

Para assinalar uma década de vida da Time Out Lisboa, escolhemos os dez melhores filmes portugueses estreados entre 2007 e 2016

Escrito por
Eurico de Barros
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Ficções e documentários de realizadores como António-Pedro Vasconcelos, João Botelho, Luís Filipe Rocha, Jorge Pelicano, João Canijo ou Gonçalo Tocha compõem esta selecção de aniversário da revista.

Os dez melhores filmes portugueses dos dez anos da Time Out Lisboa

2007 – ‘Call Girl’, de António-Pedro Vasconcelos

Este policial com reverberações políticas é um dos melhores filmes de António-Pedro Vasconcelos, que convocou para o interpretar um elenco que abrange várias gerações e escolas de representação, de Soraia Chaves (na call girl do título) a Raul Solnado, de Nicolau Breyner a Ivo Canelas, de Custódia Gallego a Maria João Abreu. Ou como se faz um filme de qualidade e de “indústria”, num país onde esta não existe no cinema e ainda se filma muito para o boneco.

2008 – ‘Aquele Querido Mês de Agosto’, de Miguel Gomes

Portugal profundo em Agosto, emigrantes de volta à terrinha, festas e bailaricos, música pimba, uma equipa de filmagem sem dinheiro. Imbricando documentário e ficção, realidade e fantasia, recorrendo ao metacinema mas sem ter peneiras "autorais" nem levar a coisa demasiado para o sério, Miguel Gomes realizou um dos filmes portugueses mais originais dos últimos anos, que não comete o erro de lançar um olhar sobranceiro ou gozão sobre a realidade e as pessoas que regista e que usa como matéria.

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2009 – ‘A Zona’, de Sandro Aguilar

Depois de ter assinado várias curtas, Sandro Aguilar aventurou-se nas longas-metragens com A Zona, um filme enigmático em que todas as personagens estão a enfrentar a perda de alguém que lhes é próximo e são atravessadas pela dor, lidando com ela de formas diferentes. Há um fantasma de história desagregada, imagens e sons flutuantes, elípticos, oblíquos, onde se cruzam a vigília e o sono, o real e o fantástico, a vida e a morte. Uma inquetante obra de estreia.

2010 – ‘Pare, Escute, Olhe’, de Jorge Pelicano

Um magnífico documentário sobre a Linha do Tua, que corria o risco de ficar submersa pela construção da Barragem do Foz-Tua. Jorge Pelicano, através do encerramento daquela linha, fala do despovoamento do interior de Portugal, mostrando as pessoas, quase todas idosas, que teimam ainda em viver na região, em resistir ao esquecimento e ao desprezo do poder central. Um filme que não é só sobre a perda de uma linha de comboio, mas também de uma paisagem e de um modo de vida e uma identidade regional.

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2011- ‘Sangue do meu Sangue’, de João Canijo

Uma tragédia de incesto numa família de um bairro social de Lisboa. João Canijo leva ao auge o seu cinema de um naturalismo impenitente, emparelhado com um sentido consumado do trabalho colectivo com os actores – que constituem como que já uma “companhia". No que resulta que os seus filmes não só tenham uma capacidade de recriação do real e um verismo raros no cinema português, como também uma consistência dramática e uma homogeneidade de interpretação muito acima da média

2012 – ‘É na Terra Não é na Lua’, de Gonçalo Tocha

O Corvo, a mais remota e inóspita ilha dos Açores, onde há apenas uma vila e cerca de 450 habitantes, é explorada neste documentário de Gonçalo Tocha, que filmou apenas acompanhado por Dídio Pestana, o sonoplasta e também compositor da banda sonora. Apesar de rodado com meios mínimos, É na Terra Não é na Lua é uma soberba, atenta e sensível aventura de constante desvendamento, descoberta e poesia, um precioso documento sobre um lugar nos confins de Portugal, as suas gentes e a sua identidade.

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2013 – ‘A Última Vez que Vi Macau’, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata

Uma história composta de encontros e desencontros, de recordações pessoais (de um dos realizadores, João Rui Guerra da Mata) e de ficções, passada numa Macau em que os vestígios da presença portuguesa são cada vez mais discretos. João Rui vai responder ao pedido de ajuda de uma amiga, Candy, que supostamente corre perigo de vida, o pretexto para que o filme articule o olhar do documentário com os valores da ficção, num caso feliz de dupla personalidade cinematográfica.

2014 – ‘Os Maias’, de João Botelho

Como filmar um dos maiores romances da literatura portuguesa, em grande parte passado na Lisboa do século XIX, quando não há meios nem força de indústria para fazer a devida recriação histórica? João Botelho optou por reconstituir os exteriores em telas pintadas, e esperar que o espectador aceitasse a convenção. E resulta. Junte-se-lhe um argumento que usa muito do texto original de Eça de Queiroz e intérpretes todos muito bem metidos nas suas personagens, e temos uma adaptação ao cinema de um clássico que não envergonha ninguém.

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2015 – ‘As Mil e Uma Noites’, de Miguel Gomes

A crise e a presença da Troika em Portugal deram a oportunidade a Miguel Gomes de fazer um filme das arábias, e não apenas por causa da referência do título. Esta trilogia (O Inquieto, O Desolado e O Encantado) é ao mesmo tempo documental e ficcional, realista e irreal, literal e alegórica, contígua do quotidiano e das dificuldades dos portugueses, e o mais fantasiosa possível. O filme mais arrojado, original, desconcertante e multiforme dos que foram feitos até agora sobre o tema da crise e do seu impacto em Portugal.

2016 – ‘Cinzento e Negro’, de Luís Filipe Rocha

Uma história que é lançada por um enorme saco de dinheiro roubado de casa de um morto, passada entre Lisboa e o Pico, vivida por personagens lacónicas, solitárias e ensimesmadas, movidas por impulsos básicos e intemporais (a vingança, a ganância, o desespero), onde Luís Filipe Rocha invoca a tragédia grega e o western, mas sem presunções de “tese” ou pretensões demonstrativas. E filma com o olhar e o gesto de um geómetra austero, que não gosta de imagens redundantes, palavras a mais ou emoções em excesso.

Especial aniversário: 10 anos da Time Out

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