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THE WRITE STUFF Paul Schrader speaks about his craft.

Paul Schrader: "Uma depressão nunca se esquece"

Entrevista a Paul Schrader. Porque vale a pena ver e ouvir o que o realizador americano tem para nos contar

Escrito por
Alex Godfrey
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Paul Schrader é uma das vozes mais influentes do cinema contemporâneo. Escreveu Taxi Driver e Touro Enraivecido para Martin Scorsese, antes de dirigir os seus próprios clássicos de culto. O mais recente, No Coração da Escuridão, é um filme cru e duro sobre um pastor (Ethan Hawke) que se debate com questões espirituais e ambientais.

 

Quando estavas a escrever No Coração da Escuridão percebeste que era puro Paul Schrader?

Foi um prazer fazer este filme. Assim que decidi escrever algo sobre a vida espiritual tudo aconteceu de uma forma muito rápida e natural. Recusei escrever este filme durante muito tempo, em parte porque nunca pensei que alguém o financiasse. Mas entretanto a economia do cinema mudou.

O filme tem um humor negro – de certa forma, o reverendo Toller (Ethan Hawke) é muito engraçado. Concordas?

Quando as pessoas falam dos filmes a primeira coisa que comentam é o argumento, mas a última de que se esquecem é das personagens. É isso que fica com as pessoas. Posso dizer que esculpir uma personagem feita de contradições é um grande privilégio.

O estado de espírito do Toller reflecte o teu?

Quando uma pessoa tem uma experiência de depressão clínica ou desespero existencial nunca o esquece. Tal como uma mulher grávida se lembra do que é a gravidez, mesmo que não volte a engravidar. Não tens de estar clinicamente deprimido para escreveres sobre isso, se já o sentiste.

O filme parece versar sobre um certo mal-estar espiritual. As pessoas não conseguem aguentar a vida se não tiverem, se não encontrarem, um propósito. Estavas a pensar nisso quando o escreveste?

Sim. Todos arranjamos uma maneira de aguentar os dias. Mas quis analisar o que acontece quando estabeleces uma ligação entre o teu desespero e a tua salvação. Como se garantisses a tua redenção através do teu sofrimento. Isso é um pecado. É uma patologia.

É difícil não comparar este filme com o Taxi Driver, devido ao protagonista, o diário, a narração. Foi algo consciente?

No argumento e na filmagem há alguns piscares de olho ao filme do Marty. Mas nunca senti que o Taxi Driver fosse fulcral para este filme.

Disseste que escrever o Taxi Driver foi algo terapêutico. Escrever No Coração da Escuridão também?

Não. Escrevi o Taxi Driver porque tinha medo de me tornar naquele personagem. Neste caso não tinha esse receio. Tenho 71 anos. Não vou chegar ao final deste século. Posso achar o futuro muito negro, mas esse já não é o meu problema. O que este filme fez foi trazer-me de volta a casa. Passas boa parte da tua vida a pensar que estás a fugir e um dia olhas e apercebes-te que estás a voltar a casa.

Muitos filmes são comparados ao Taxi Driver, mas as semelhanças são sempre superficiais. Há algo de poético no facto de aqui as comparações serem merecidas. Parece que és o único que consegue fazer isto.

[Risos] Mas a verdade é que, esteticamente, não têm nada ver. Este filme é muito mais contido.

Conversa filmada

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Não há outro realizador como Wes Anderson. O mestre do estilo, o defensor do irrisório, o apreciador de paletas de cor muito específicas… Independentemente do gosto pessoal, os seus filmes são sempre espantosos. Ilha dos Cães é o mais recente, e o segundo de animação, após O Fantástico Senhor Raposo. Uma adorável aventura canina que se passa numa ilha perto do Japão para onde todos os canídeos do país foram banidos depois de um surto de “gripe canina”. Tem toda a riqueza visual que se espera de um filme de Wes Anderson, bem como uma mensagem altamente positiva sobre a importância da tolerância. Ah, e Harvey Keitel a uivar.

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Joaquin Phoenix ainda mal acordou quando abre a janela e começa a fumar. É sábado de manhã em Londres, muito cedo, mais ainda mais para ele, meio abananado pelo jet lag – um homem no seu próprio fuso horário. Na verdade, ele parece estar assim desde que o vimos em Lar, Doce Lar... às Vezes (1989), de Ron Howard, quando tinha apenas 14 anos. É uma anti-estrela de cinema que faz as coisas à sua maneira, sempre um pouco desalinhado e com o mundo a girar à sua volta.

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Todd Haynes: "Sempre gostei de ser estranho"
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Todd Haynes já anda nisto desde os anos 90, foi um pioneiro do new queer cinema, trabalhou com grandes actores e actrizes. O Museu das Maravilhas é o seu mais recente filme, uma história sobre duas crianças mudas em Nova Iorque, mas em tempos diferentes. Uma nos anos 20 e outra nos anos 70. O filme foi o ponto de partida para uma conversa com o realizador.  

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