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Primavera Tardia: uma visita ao cinema japonês

O ciclo Primavera Tardia mostra algum do melhor cinema japonês, até 11 de Julho, no Espaço Nimas

Escrito por
Rui Monteiro
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“Da modernidade dos clássicos ao classicismo dos modernos” é a orientação do ciclo Primavera Tardia, no Espaço Nimas, dedicado à longa e rica e misteriosa e estimulante cinematografia do Japão.

Só aí pelo meio do século passado, quando Akira Kurosawa recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza, com Às Portas do Inferno, se começou a dar atenção a estes cineastas. E tanta atenção mereciam que, em breve, também Mizoguchi e Ozu ingressaram no Olimpo do cinema. E depois vieram mais realizadores e filmes desafiantes. Muitos deles na programação deste ciclo. Entre mais de quatro dezenas, aqui fica uma dúzia de filmes a não perder.

Primavera Tardia: uma visita ao cinema japonês

Contos da Lua Vaga (1953)

Já chamaram poesia cármica e fábula moral a este filme de Kenji Mizoguchi (Leão de Prata no Festival de Veneza). E ambas as definições estão certas para esta película adaptada de um conto do século XVIII, escrito por Ueda Akinari, em que acompanhamos a existência separada de dois irmãos tomados pela arrogância, a inveja, a luxúria e o assassínio.

Já agora, a sessão das 19.30 tem por bónus o lançamento de uma caixa de DVD com nove filmes de Mizoguchi.

Sábado, 9 de Junho. 14.30, 17.00, 19.30, 22.00.

Viagem a Tóquio (1953)

Já com a sua idade, o casal Shukishi e Tomi Hirayama, decide que não é tarde nem é cedo para visitar os três filhos que fazem as suas vidas em Tóquio e Osaca. E assim, com a filha mais nova à ilharga, deixam para trás a sua pequena aldeia costeira e põem-se na direcção da capital japonesa. Pelo meio fazem escala em Osaca e completam a viagem visitando mais um filho.

Tudo isto parece normal, e em certa medida é, mas Yasujiro Ozu transforma uma singela e vulgar visita numa espécie de prova ao estado das relações familiares, aos poucos, quase como quem não quer a coisa, revelando pensamentos cruzados, contradições, querelas antigas elaboradas como uma viagem de exploração pela hipocrisia e a moral.

Domingo, 10 de Junho. 14.30, 17.00, 19.30, 22.00.

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Esplendor (2017)

Saltando rapidamente no tempo até ao ano passado, chega-se à antestreia do novo filme da cineasta Naomi Kawase (A Quietude da Água, Uma Pastelaria em Tóquio).

Produto mais recente da – enfim – escola japonesa, a realizadora, com Masatoshi Nagase, Ayame Misaki e Tatsuya Fuji no elenco, atira-se à relação entre uma especialista em áudio-descrição de filmes para cegos e um dos seus ouvintes, um fotógrafo à beira da cegueira total, para elaborar uma obra sobre a compaixão, a cumplicidade e a amizade.

Segunda, 11 de Junho. 21.30.

O Verão de Kikujiro (1999)

Continuando mais ou menos na actualidade, Takeshi Kitano, além de realizar, protagoniza o rude, fala-barato e muito oportunista Kikujiro, que se torna o improvável acompanhante do jovem Masao (Yusuke Sekiguchi), empenhado em ir até onde for preciso para conhecer a mãe. Viagem, que, claro, se transforma numa espécie de ritual de passagem e respectiva aprendizagem para ambas as personagens.

Quarta, 13. 14.30, 17.00, 19.30.

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Rua da Vergonha (1956)

Voltando aos anos de 1950 e a Kenji Mizoguchi, é a vez do tematicamente ousado Rua da Vergonha, narrativa da vida de um grupo de prostitutas no, digamos, bairro vermelho de Tóquio.

Machiko Kyô, Aiko Mimasu e Ayako Wakao são as protagonistas desta obra que o realizador situa no momento em que o parlamento discute a proibição da prostituição, aproveitando a sua narrativa para contar o drama diário destas mulheres, todas ali chegadas com farto de carregamento de sonhos e ambições.

Domingo, 17 de Junho. 14.30, 17.00, 19.30, 22.00.

A Enguia (1997)

Mais um salto no tempo para chegar até ao cinema de Shoei Imamura e a esta história de paixão, vingança e, finalmente, redenção.

Com argumento do realizador e de Daisuke Tengan, e participação de Kôji Yakusho, Misa Shimizu e Mitsuko Baishô, aqui conta-se como Yamashita descobriu o caso da mulher, chega mais cedo a casa, mata-a, cumpre oito anos de prisão, para, libertado, se instalar numa aldeia recôndita e exercer como barbeiro, profissão aprendida na prisão. Homem de poucas falas e menos relações, um dia descobre o corpo inconsciente de Keiko, que se tentara suicidar, a quem, por piedade e mais do que tudo por lhe fazer lembrar a mulher, dá emprego. E assim se inicia uma peculiar relação entre desajustados.

Segunda, 18 de Junho. 14.30, 17.00, 22.00.

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Madadayo – Ainda Não! (1993)

Já era tempo de chegar ao realizador que começou a interessar europeus e norte-americanos por cinema japonês. E ele aqui está: Akira Kurosawa. Esse que, depois de encantar Veneza com Às Portas do Inferno, continuou a surpreender com Os Sete Samurais e Dersu Uzala ou, mais tarde, depois de atravessar um deserto e ser financiado por Francis Ford Coppola e George Lucas, com Kagemusha – a Sombra de um Samurai, ou Ran – Os Senhores da Guerra.

Nesta sua última obra, com Tatsuo Matsumura, Hisashi Igawa e George Tokoro, assiste-se, como se o cineasta quisesse assinalar o fim, à narrativa de como um professor nos seus 40 e tal anos, depois de um raide aéreo durante a II Guerra Mundial, se retira para uma cabana na floresta e se torna escritor. Aí procurando a verdade, para todos os anos, apesar do seu afastamento, no seu aniversário, ser interrogado pelos alunos, desejosos de saber se já a encontrou.

Segunda, 18 de Junho. 19.30.

Dr. Fígado (1998)

Voltando a Imamura, por certo um dos realizadores japoneses menos vistos em Portugal, nesta película com Akira Emoto, Kumiko Asô, Jacques Gamblin, apresenta o doutor Akagi, médico rural durante a II Guerra Mundial e empenhado combatente da hepatite.

Daí a sua reputação como doutor Fígado, que não contava, porém, que a sua intensa campanha, por vezes mesmo fanática, provocasse a desconfiança do exército japonês, e menos ainda acabar vítima da sua vontade de fazer o bem.

Sexta, 22 de Junho. 14.30, 17.00, 22.00.

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O Conto dos Crisântemos Tardios (1939)

Como há sempre espaço para Kenji Mizoguchi, também há sempre oportunidade para uma história moral, daquelas, sem ser moralista, capaz de lembrar que os princípios existem.

Pois, para isso, nada melhor que este entrecho, no qual o filho de um famoso actor, Kikunosuke, toma os aplausos do público como seus e não consequência do seu nome. Até Otuku, amiga e actriz na mesma companhia, ser sincera e revelar quão mau ele é em palco. O que leva o rapaz a abandonar tudo tentando ser um actor qualificado por si próprio sem o nome paterno como protecção.

Sábado, 23 de Junho. 14.30, 17.00, 19.30, 22.00.

Brother – Irmão (2000)

Sessenta anos depois e agora pela mão do enérgico Takeshi Kitano, como de costume com ele no papel protagonista, e desta vez assessorado por Claude Maki e Omar Epps, o cinema japonês, que nunca foi alheio a retratar o crime, passa a importá-lo.

É assim que damos com um chefe Yakuza exilado em Los Angeles e a viver com o meio irmão, eventualmente toldado pela ideia do sonho americano, a descobrir como apesar de novo o território as regras são basicamente as mesmas para quem tenta estabelecer-se como traficante e apoderar-se do território ocupado por outros gangsters.

Segunda, 25 de Junho. 14.30, 17.00, 22.00.

Mais cinema

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Pode ver aqui os filmes em cartaz esta semana, mas algumas pérolas do cinema escapam às grandes salas. São clássicos para rever ou apenas filmes fora da rota comercial e por isso fora dos centros comerciais. Todas as semanas dizemos-lhe o outro cinema para ver nos cinemas de Lisboa. Esta semana, as coordenadas do cinema alternativo em Lisboa passam pela Espaço Nimas, pela Cinemateca e pelo Centro Cultural de Belém.

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A mulher tem nos filmes de Kenzi Mizoguchi uma papel primordial. Um papel que reflecte as preocupações do realizador com a injustiça da sua situação secundária e, tantas vezes, humilhante. Nove filmes, restaurados digitalmente, menos de 10 por cento da sua filmografia, são o que há. Mas são nove ensaios sobre a beleza. E começam a ser exibidos hoje no Nimas.   

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