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Que grande estreia. Sete melhores primeiros filmes

Primeiros filmes são às paletes. A maioria, como é natural, não são grande coisa, ou pelo menos são ainda imperfeitos, que um realizador não se faz de um dia para o outro. Porém, realizadores há que acertam à primeira. Aí vão sete exemplos

Escrito por
Rui Monteiro
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Para quase todos os cineastas é difícil fazer o primeiro filme. E entre os que conseguem, mesmo reduzindo o universo aos que passam da longa-metragem inicial, poucas vezes sai obra que se veja. Alguns, porém, rompem a regra. Uns por sorte. Outros por serem visionários. São esses que interessam. E aí vão sete magníficas primeiras obras.

Cinema: Sete melhores primeiros filmes

O Atalante (1934)

É verdade que Jean Vigo já tinha dirigido um punhado de curtas-metragens. E mais verdade é que apenas com uma delas, Zero em Comportamento, só precisou de 40 minutos para debitar mais ideias inovadoras e criar mais imagens originais que a esmagadora maioria dos cineastas ao longo de uma carreira. Mas O Atalante é, de facto, o seu primeiro filme longo. E tragicamente também a sua última película, pois aos 29 anos Jean Vigo foi vencido pela tuberculose. Esta obra, no entanto, é universal, e, há muito se percebeu, capaz de viver para além do seu tempo mantendo imaculada a sua beleza e actuais os seus enredo e subtexto. Talvez isso se deva à aparente inocência da narrativa do que parece um simples romance que o tempo vai temperando nas dificuldades. Mas essa é só a superfície, pois o importante é a forma inovadora, astuta e poética como o realizador, dirigindo Dita Parlo e Jean Dasté, representa factos e emoções, acrescentando camadas de densidade psicológica como quem pinta na luz novas demãos e a cada uma acrescenta pormenores que tornam cada vez mais ténue a linha que separa a realidade do sonho.

O Mundo a Seus Pés (1941)

Quando se fala em primeira obra é certo e sabido que Orson Welles e O Mundo a Seus Pés (ou Citizen Kane, seu título original) vêm à baila. Mais ainda porque, durante décadas, a película ocupou o primeiro lugar de quase todas as listas de melhores filmes de sempre e, ainda hoje, apesar de aparentemente ter perdido a liderança para Mulholland Drive, continua firme no pelotão da frente. Listas à parte, o primeiro filme de Welles é uma espécie de prodígio revolucionário, uma girândola de imagens, demonstrando como há muitas maneiras de contar uma história; um exemplo de construção narrativa não apenas ousada, mas caminhando na berma do esteticismo e da plasticidade como quem desafia a gravidade… e vence.

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A Faca na Água (1962)

Por esta altura Roman Polanski sonhava com Hollywood, as acusações de violação de menores que ainda o perseguem estavam longe, para lá do horizonte, e ninguém tinha pena dele por a mulher (a promissora actriz Sharon Tate) e alguns dos seus amigos terem sido assassinados pelos tarados da seita de Charles Manson, pela simples razão de que ninguém o conhecia. O que acabou por o favorecer, pois foi a surpresa (e o choque) provocada pela sua primeira longa-metragem, vencedora do Festival de Veneza, a seguir nomeada para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, que aguçou a curiosidade dos produtores em Inglaterra. E logo a seguir, nos Estados Unidos, abrindo portas a uma carreira com os seus altos e baixos, mas que raramente apresentou a qualidade de A Faca na Água. A história não podia ser mais simples: um casal passeia o seu amor de barco durante um fim-de-semana, às tantas aparece um estranho a quem dão boleia e, está bem de ver, ele insinua-se entre os dois. O pior, quer dizer, o melhor vem depois, no desenvolvimento do argumento e na forma subtilmente erótica como Polanski filma a aproximação entre os três, antes de os atirar para um conflito que é, na realidade, uma desconstrução chocante e sensível do idílio matrimonial.

Noivos Sangrentos (1973)

Terrence Malick sempre foi uma excepção. E o seu primeiro filme a prova principal de que o realizador sempre teve uma visão para o seu cinema e que essa visão não passava pela adopção de modelos, antes pela criação de novos cânones. Noivos Sangrentos é uma daquelas obras com todos os ingredientes para falhar, para começar por ser uma produção independente em tempo, ainda, de grande pujança dos estúdios tradicionais. Mas foi com um orçamento de 300 mil dólares, uma equipa basicamente constituída por colegas da escola de cinema e um par de actores quase desconhecidos, como eram então Martin Sheen e Sissy Spacek, que a lenda do realizador começou a ser criada. A obra, no entanto, saiu perfeitinha, sem defeitos a apontar, embora a muitos escapasse a forma brilhante e inovadora como o cineasta fundia numa imagem emoção e racionalidade, afinal a trave mestra da sua obra.

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Sangue por Sangue (1984)

Foi logo no primeiro filme que Joel e Ethan Coen mostraram ao que vinham e, ao mesmo tempo, mas só a quem conseguiu ver, enunciaram o que estava por detrás do seu cinema. Com esta comédia negra e criminal, com John Getz, Frances McDormand e Dan Hedaya às voltas com um argumento delirante (que parte do são princípio de que as pessoas são fracas e estúpidas, que o mundo se virará contra si mais tarde ou mais cedo, e que ninguém, mas mesmo ninguém é completamente inocente), os irmãos cineastas meteram, por assim dizer, o pé na porta de Hollywood. E mais ou menos entraram por ali dentro com esta história de enganos, morte e dinheiro sujo, no processo afirmando a nova energia que brotava do cinema independente (não foi por acaso que Sangue por Sangue venceu o Festival de Sundance e o Independent Spirit Awards).

Cães Danados (1992)

A entrada em cena de Quentin Tarantino foi, pode-se dizer, espectacular. Tão espectacular que as ondas de choque provocadas pelo filme deixaram confundidos muitos júris de festivais, que fartamente o nomearam, até em várias categorias, mas raramente lhe entregaram o prémio principal. E tão espectacular que para sempre marcou a carreira do realizador, que repetiu a façanha ainda com mais brilho na película seguinte, Pulp Fiction, e desde então se vem deixando ficar encostado à fama com emulações fantasiosas do cinema de série B. O que agora não interessa nada, pois neste tempo o que contava era o desejo de cinema, por assim dizer, que levou o realizador, graças ao seu argumento formalmente audaz e, apesar disso, estranhamente familiar, a abanar as estruturas da narrativa convencional, em boa parte graças às muito brilhantes interpretações do peculiar elenco que reuniu Harvey Keitel, Tim Roth, Michael Madsen, Chris Penn e Steve Buscemi neste banho de sangue e palavreado onde se ouve a palavra “fuck” 272 vezes.

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Fome (2008)

Há muito que nenhum cineasta apresentava um primeiro filme tão bem construído e consistente, tão dramático e comovente e arriscado, não só pelo tema como, principalmente, pela sua qualidade tão marcadamente autoral, como Fome. Estreia do realizador inglês Steve McQueen (não confundir com o actor norte-americano com o mesmo nome e protagonista de Bullitt, e, menos ainda s.f.f. com o Lightning McQueen de Carros), depois de uma frutuosa carreira explorando artisticamente as possibilidades do vídeo em obras tão marcantes como, por exemplo, Caribs’ Leap e Western Deep, o filme, com argumento do estimulante dramaturgo irlandês Enda Walsh, centra-se na greve de fome dos prisioneiros do Exército de Libertação Irlandês (IRA), no início da década de 1980. O foco incide sobre Bobby Sands, dirigente católico e um dos “ideólogos” da greve (na sequência da qual viria a morrer), entretanto eleito deputado do parlamento do Reino Unido, aqui soberbamente interpretado por Michael Fassbender. Mas o que se vê no olhar de McQueen é o exame minucioso e sensível das injustiças e das atrocidades cometidas pelas autoridades britânicas sobre os prisioneiros políticos irlandeses, por um lado, e, por outro, o espírito de sacrifício e abnegação de um militante pela sua causa, tão bem traduzidos no exaltante e doloroso diálogo entre Sands e o padre interpretado por Rory Mullen.

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