A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
The Shining
Shining

Steadicam, a câmara que mudou o cinema

Há 40 anos pôr uma câmara ao ombro e esperar por imagens em movimento estáveis era um desafio. Então, Garrett Brown inventou a Steadicam. E o cinema mudou, permitindo imagens mais realistas e, em alguns casos, até aí de todo impossíveis

Escrito por
Rui Monteiro
Publicidade

Outrora, Garrett Brown imaginara para si carreira de cantor folk. Gravou um álbum e tudo, mas ninguém lhe ligou. Por precisar de ganhar a vida aproximou-se do cinema e lá foi fazendo carreira no sector técnico. Até a necessidade lhe aguçar o engenho e o tornar no inventor do estabilizador de imagem e assim revolucionar o cinema. Como mostram estes sete exemplos de filmes que não seriam possíveis sem a Steadycam.

Steadicam, a câmara que mudou o cinema

Caminho da Glória (1976)

Depois de algumas experiências em filmes menores, a estreia da nova tecnologia faz-se no filme de Hal Ashby dedicado ao cantor Woody Guthrie (David Carradine), que acompanha o nascimento da sua carreira musical numa jornada entre o Texas e a Califórnia durante os anos da Grande Depressão. A fluidez dramática permitida pela utilização da nova câmara, e a habilidade com que foi usada por Haskell Wexler, valeu ao director de fotografia o Óscar.

O Homem da Maratona (1976)

Ainda no mesmo ano, John Schlesinger escolheu a tecnologia criada por Garrett Brown. E, em boa parte graças a ela, sem desfazer a qualidade do argumento do seu thriller de recorte clássico, ou as grandes interpretações de Dustin Hoffman, Laurence Olivier e Roy Scheider, a utilização da Steadicam permitiu a criação de um ambiente denso o suficiente para realçar a paranóia subjacente ao argumento.

Publicidade

Shining (1980)

É provavelmente neste filme de Stanley Kubrick, a partir de um romance de Stephen King, com magníficas interpretações de Jack Nicholson e Shelley Duvall, que a utilização da Steadicam provou definitivamente o seu valor como elemento na construção dramática e visual do enredo. Kubrick (que, por via das dúvidas, chamou Garrett Brown para melhor explorar as capacidades da câmara) usou-a extensamente (quem não recorda as longas sequências através dos corredores vazios do hotel?) e muitas das cenas de Shining tornaram-se não apenas imagens cinematográficas icónicas, como uma espécie de catálogo das possibilidades da invenção.

O Ódio (1995)

Filme que se tornou, com boas razões, o ai-jesus dos festivais de cinema da época, O Ódio, escrito e realizado por Mathieu Kassovitz, viu o seu controverso argumento sobre as relações tensas entre os habitantes dos bairros sociais e a polícia muito valorizado pela farta utilização da invenção de Garrett Brown, que, além de contribuir para a estilização em negro profundo da fotografia da película, fornece ainda, com os seus elegantes sobrevoos sobre a acção, o contraponto poético e surrealista necessário à verosimilhança e credibilidade da obra protagonizada por Vincent Cassel.

Publicidade

Jogos de Prazer (1997)

As cenas da discoteca e da festa na piscina do magnata do cinema pornográfico interpretado por Burt Reynolds são, sem dúvida, das mais poderosas e marcantes da segunda longa-metragem do realizador Paul Thomas Anderson. Sem Steadicam, a energia, o frenesim, até o subtexto dessas cenas teria de ser construído imagem a imagem, e não apenas filmado numa série de sequências.

Elefante (2003)

Por esta altura, quando Gus Van Sant filmou o segundo volume da sua trilogia da morte (com Gerry e Últimos Dias), a Steadicam era já usada com fartura e proveito. Era, pode-se dizer, uma ferramenta vulgar em qualquer estúdio ou local de filmagens e tinha, até, sido objecto de vários melhoramentos, que a tornaram mais leve e as imagens que captava mais estáveis. Instrumento que se mostrou fundamental na tradução em cinema do psicologicamente arrepiante argumento e contribuiu para a palma de Ouro com que Van Sant saiu de Cannes nesse ano.

Publicidade

O Novo Mundo (2005)

Bem se pode dizer que sem Steadicam a história de Pocahontas, ou da exploração inglesa do território norte-americano da Virginia, na versão negra e hiper-realista filmada por Terrence Malick (com Colin Farrell e Q'orianka Kilcher), seria um filme totalmente diferente. É especulação, claro, que o cinema tem outros meios para chegar aos seus fins. No entanto, é difícil imaginar muitas das cenas deste drama amoroso colonial sem o recurso à (no caso, às) Steadicam.

Clássicos de cinema para totós

Lição 1: o cinema mudo
  • Filmes

À falta de palavras, usa-se a expressão. À falta de cor, manipulam-se todos os cinzentos existentes entre o preto e o branco e fazem-se malabarismos na montagem. Assim começou o cinema. E assim começou a tornar-se arte. Alguma inesquecível, como estes 10 exemplos incontornáveis.

Lição 2: os anos 30
  • Filmes

A ascensão do cinema falado acabou com o mudo e com as carreiras de muitos actores. A tecnologia do som (e depois da cor) provocou uma, como agora se diz, “destruição criativa”. Certo é que, apesar das baixas, a década de 1930 é uma das mais dinâmicas da história de Hollywood, culminando no excepcional ano de 1939, quando nasceram três destes 10 clássicos de cinema obrigatórios.

Publicidade
  • Filmes

A guerra foi a principal preocupação do mundo durante metade da década de 1940. Mas isso não impediu o cinema de crescer como arte, nem estes filmes deixaram de entreter o público, umas vezes como escapismo, outras como alerta de consciências. Sempre, porém, progredindo na narrativa e na montagem, dando a ver um novo e cada vez mais diverso cinema.

Lição 4: os anos 50
  • Filmes

Ora aqui está uma década de prosperidade, medo nuclear, que entretanto começara a Guerra Fria, e esperança. Uma década em que o cinema prosperou artisticamente e ainda mais comercialmente. Dez anos em que o preto e branco resistiu quanto pôde, mas acabou batido pela cor.

Publicidade
Lição 5: os anos 60
  • Filmes

A década dos sonhos mais floridos, extravagantes e idealistas, também teve o seu lado violento. O cinema atravessou uma das suas épocas mais curiosas e experimentalistas em que, parecia, valia tudo, desde que fosse contra a corrente dominante. E o melhor era.

Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade