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Quinta Nova
Anabela Rosas Trindade

Quinta Nova: aqui tudo o que luz é Douro

Na Quinta Nova há bom vinho e boa vida. Fruto de uma localização privilegiada sobre o Douro e fruto de outro fruto – as uvas que vemos crescer enquanto na piscina.

Escrito por
Luís Leal Miranda
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A paisagem do Douro é uma obra-prima cuja autoria é debatível. É verdade que o rio fez a parte mais difícil do trabalho, ao moldar a paisagem, a desenhar as elegantes curvas do terreno e a formar um vale que parece um compridíssimo anfiteatro para assistir às exibições das quatro estações do ano. Mas há a somar a isto a intervenção humana, que esculpiu degraus nas montanhas e os ajardinou (o termo é muito errado, mas deixem-nos ser líricos) com videiras. Toda esta parceria entre homem e mãe natureza já seria espectacular por si só, mas acontece que daquele chão saem alguns dos melhores vinhos do mundo. Haverá pedaço de terra mais abençoado que este?

Quinta Nova

João Saramago

A Quinta Nova é uma das mais belas e bem preservadas quintas do Douro. Um lugar com história – é anterior a 1764 e terá pertencido à Casa Real Portuguesa – , e um portefólio de vinhos impressionante. Não é só cenário nem é um simulacro da vida no Douro. É uma quinta que funciona a sério, cujos vinhos se podem comprar um pouco por todo o país. E é também a maneira mais luxuosa de conhecer esse processo mágico de transformação da uva em vinho.

Há 120 hectares, 80 deles com vinha, espaço de sobra para passear – há vários trilhos à disposição dos hóspedes, assim como provas de vinhos e visitas à adega. Os nossos olhos caem imediatamente na pequena piscina com uma vista incrível sobre o rio. De pupilas dilatadas pela beleza daquele sítio, mergulhamos o corpo cansado de tanta estrada, tanta curva e contracurva.

No edifício principal da quinta estão 11 quartos, um restaurante e dois espaços comuns para os hóspedes. No exterior há uma loja, um museu e uma curiosa capela: consta que os versos da célebre canção popular “As Pombinhas da Catrina” se referem a esse mesmo edifício. Ora vejamos: “As pombinhas da Cat’rina andaram de mão em mão / Foram ter à Quinta Nova, ao pombal de São João”. Será esta Quinta Nova? É possível, de acordo com uma investigação de José Braga-Amaral, autor do livro 250 anos de Histórias, que versa sobre o passado daquela quinta.

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João Saramago

João Saramago

O final do dia, no terraço da Quinta Nova, deve estar em qualquer top ten de experiências imperdíveis no hemisfério Norte. Por duas razões: uma paz e sossego que não julgávamos ser possível e um a luz cinematográfica, cortesia de um Sol que se despede lentamente ali para os lados da foz do rio. Recomendamos que jante na rua ou acompanhe esse fenómeno celeste com uma garrafa de vinho. Um néctar feito pelos alquimistas (perdão, enólogos) da quinta com as uvas que conseguimos ver pelo canto do olho. Imperdível.

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  • Viagens

Como chegar:
Pela A1 acima com grande entusiasmo até à saída 13 (Viseu/Coimbra). Mantenha-se pelo IP3 e veja-o transformar-se em A24. Escolha a saída 10 em direcção a Armamar e interrogue-se se haverá alguma palavra na língua portuguesa tão comprida que use apenas três letras diferentes. Siga as indicações para a Régua, mas mesmo antes de chegar (muita atenção) apanhe a belíssima N222 até ao Pinhão. Uma vez lá chegado, é percorrer a encosta para Oeste, tendo o rio pela esquerda, e seguir as placas.

Preços:
Quartos a partir de 170€/noite

GPS

Onde comer

A Quinta Nova tem um bom restaurante, o Conceitus. A estrada ziguezagueante pode desencorajar os comensais – ou ajudar a abrir o apetite. Para os mais corajosos recomendamos o Castas e Pratos, mesmo à beirinha da linha de comboio.

O que fazer

É imperdível uma viagem de comboio pelo Douro. E não tem de ser uma daquelas coisas chiquérrimas: a CP faz a viagem diariamente a partir do Porto e pára mesmo no Pinhão. Por aquelas bandas não pode perder ainda o Museu do Douro, na Régua, e a estrada nacional 222, tida como a estrada mais bonita do mundo para conduzir. No Pinhão, passe pelo talho Qualifer e prove alguns dos melhores enchidos de Portugal.

Planos de fuga

  • Viagens

O pôr-do-sol, esse cliché. Todos os dias há um destes fenómenos e todos os dias nos surpreendemos com ele. É como se duvidássemos da mecânica celeste. Na Serra do Brunheiro, perto de Chaves, o recolher do astro-rei é um espectáculo digno de ser visto. E a Quinta da Mata funciona como uma espécie de anfiteatro: como se a casa, as janelas, a natureza e a perspectiva ampla tivessem sido moldadas de propósito para aquele momento.

  • Hotéis

Antes de mais, um esclarecimento: este não é o solar do neurocirurgião e prémio Nobel da Medicina em 1949. O descobridor da arteriografia cerebral era de Estarreja, viveu em Lisboa e dele não se conhecem casas solarengas. O Egas Moniz que dá nome a este solar é outro: Egas Moniz de Ribadouro, aio de D. Afonso Henriques. Curioso que um nome tão invulgar (quantos “Egas” conhecem?) sirva dois notáveis portugueses. Este solar, perto de Penafiel, apropria-se do nome de Egas Moniz, o nobre, por estar perto do Mosteiro de Paço de Sousa, fundado por Godo Trutesindo Galindes, ascendente do famoso aio. Ora convenhamos que Solar Egas Moniz soa muito melhor do que Solar Trutesindo Galindes. Mas há mais: o aio do primeiro rei de Portugal está sepultado nesse mesmo mosteiro.

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  • Viagens

Dissemos a um amigo que íamos dormir ao Sublime Comporta. A resposta dele, que terá sido qualquer coisa como “mais um que o comum dos mortais não conhecerá”, deixou-nos a pensar. E tudo porque o comum dos mortais devia, pelo menos uma vez na vida, aqui ficar. Seja numa data especial ou apenas para fugir à rotina de sempre. Se é para cometer uma extravagância, que seja aqui.

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