Quinta da Mata
João Saramago
João Saramago

Quinta da Mata: uma casa solarenga

A Quinta da Mata, perto de Chaves, leva-nos a viver as nossas fantasias de vida no campo. Ainda estamos a ver os preços dos terrenos em Trás-os-Montes.

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O pôr-do-sol, esse cliché. Todos os dias há um destes fenómenos e todos os dias nos surpreendemos com ele. É como se duvidássemos da mecânica celeste. Na Serra do Brunheiro, perto de Chaves, o recolher do astro-rei é um espectáculo digno de ser visto. E a Quinta da Mata funciona como uma espécie de anfiteatro: como se a casa, as janelas, a natureza e a perspectiva ampla tivessem sido moldadas de propósito para aquele momento.

Quinta da Mata

Mas quando foi construída, nos meados do século XVII, a Quinta da Mata tinha propósitos mais práticos – trabalhar a terra, sobreviver. O edifício, um solar rural com capela e fachada de granito, foi reconvertido para o turismo em 1993 e é uma referência na zona. Serve também de quartel-general para muitos viajantes, sobretudo estrangeiros, que estão prestes a partir para a aventura da Estrada Nacional 2, que vai de Chaves a Faro. 

O anfitrião, Luís Moreira, é um entusiasta da estrada, da natureza e de tudo o que é bom em Trás-os-Montes – incluindo os vinhos, dos quais é grande conhecedor (fique atento à garrafeira, no rés-do-chão, e deixe-se guiar pelas sugestões de Luís).

Se tiver a sorte de o encontrar por lá, pode dar por si a passar horas a ouvir histórias da quinta, daquela zona e do que por lá se faz. Uma visita guiada informal pela horta e pelos jardins da quinta foi uma autêntica lição sobre agricultura biológica e sustentabilidade. Além disso, foi-nos dada a provar uma invulgar flor com sabor a pepino. Tudo ingredientes que podem ir parar à mesa da Quinta da Mata, que organiza jantares sob marcação – sempre com os produtos da terra, a terra que andou a pisar, e da região. Uma espécie de farm to table à transmontana.

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Para desmoer podem fazer-se passeios pela quinta, dar uns mergulhos na piscina ou conhecer os animais – cães, cavalos, coelhos – que, convém lembrar, fazem parte de uma quinta a sério, funcional, e não de um simulacro da vida rural para turista ver.

Os seis quartos da Quinta da Mata são de decoração simples, à qual se aplica também o adjectivo “rústico”, que está muito gasto, coitado, mas que se adapta bem aqui. O interior foi renovado, mas mantém-se fiel à traça e aos materiais originais. O pequeno-almoço inclui, como não podia deixar de ser, pastéis de Chaves. Umas maravilhas folhadas feitas pela fresca que vamos lamentar não termos para sempre na primeira refeição do dia. O pequeno-almoço nesta Quinta é farto e quebra as pontes entre o pequeno-almoço e o almoço – qual brunch, qual carapuça, estamos em Trás-os-Montes.

  • Hotéis

A comunhão com a natureza é um dos pontos fortes da Quinta da Mata, que parece querer adoptar-nos e tornar-nos cúmplices nas suas actividades diárias. É o lugar perfeito para descansar e fantasiar com uma vida mais simples, com pores-do-sol que são espectáculos de uma hora e pequenos-almoços à base de pastéis.

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Para comer

É essencial experimentar os pastéis de Chaves e pode fazê-lo um pouco por toda a cidade, mas aqui ficam três recomendações: a Pastelaria Maria (Largo do Município, 4) é uma loja pequena que vende estas especialidades, assim como o folar de Chaves, a um preço hipercompetitivo. Mas há ainda as pastelarias D’Chaves e Mil Doce a lutar pelo título de melhor pastel. Para jantar recomenda-se a típica Adega Faustino (Travessa Cândido dos Reis s/n), um restaurante-museu que serve comida portuguesa, sobretudo petiscos, entre tonéis gigantes de vinho.

Para fazer

Fica em Chaves o quilómetro zero da mítica Estrada Nacional 2, a mais antiga e comprida do país – aquela a que chamam a Route 66 portuguesa. Mas se ver marcos quilométricos em cima de uma rotunda não é a sua cena, recomendamos um passeio pelo centro histórico de Chaves para apreciar as varandas coloridas. Faça também uma visita ao Jardim Público, depois de passar a ponte Romana de Trajano, e dê um saltinho ao Museu Nadir Afonso, inaugurado em 2015. Perto de Chaves está o lindíssimo Vidago Palace e o Parque Termal das Pedras Salgadas, que valem por si só uma visita.

Planos de Fuga

  • Viagens
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  • Viagens

Comecemos pelos quartos dos oitavos – e fica feita a piada matemática. São 142, todos com varanda própria e nenhum com menos de 40 m2. A vista dá quase sempre para o mar (o que se aconselha) e/ou para o campo de golfe (que também é bonito, vá). O edifício foi erguido em 2010, tem a forma de um Y, todo ele envidraçado para tirar o melhor partido da geografia do lugar, aberto ao mundo em redor: os pinheiros-mansos, as dunas e o mar – sobretudo o mar.

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  • Viagens

A quinta diz-se dos Perfumes por lembrança de outros tempos. Nas décadas de 50 e 60, tudo isto era uma plantação de malvas e uma pequena fábrica onde se destilavam as plantas para lhes extrair a essência. Mas o nome ainda inspira o lugar e nestes 36 hectares de terra com vista para o mar tudo cheira a sul. Há vestígios de amendoeiras e medronheiros, notas de limoeiros e figueiras, todo um bouquet de aromas a pontuar a fragrância predominante das duas mil laranjeiras que alimentam a produção da Quinta. Plantado ao centro, há um refúgio de sossego dividido por 15 quartos.

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