FUNtoche no Monte Mar
FUNtoche
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Deixem os pais em paz!

As crianças são o melhor do mundo mas, às vezes, tudo o que os adultos precisam é de trabalhar/relaxar/comer (risque o que não interessa) à vontade. Roteiro pelos lugares da cidade onde uns e outros podem ser felizes. Ao mesmo tempo. E sem incomodar.

Vera Moura
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Este artigo foi originalmente publicado na revista Time Out Lisboa, edição 673 — Primavera 2025

Domingo, hora do almoço. A mesa está posta para cinco e as migalhas, pratos e copos sujos denunciam que já esteve cheia. Agora tem apenas um casal sentado, na casa dos 40, a beber demoradamente uma bebida quente, enquanto conversam e riem. De vez em quando um levanta-se para ir buscar mais alguma coisa à mesa do buffet ou para sair do restaurante A Praça e atravessar a rua sem trânsito dentro do recinto do Hub Criativo do Beato para o edifício em frente, onde fica o restaurante Refeitório e a Pracinha. É nesta última que estão os três filhos, de 6, 9 e 11 anos. Depois de despachar o brunch na companhia dos pais, com sumos, croissants, pizzas, sopas, pratos quentes, panquecas e bolos (30€ adultos/15€ crianças dos 5 aos 12 anos), foram divertir-se entre o insuflável, as mesas com folhas e lápis de colorir e as pinturas faciais. Dois animadores garantem que os adultos podem ficar tranquilos durante mais um bom bocado, para conversar, comer e beber sem interrupções.

“Quando arrancámos com o brunch [no início de 2024], atraímos muitas jovens famílias”, diz Cláudia Almeida e Silva, responsável pelo projecto A Praça. “Pelo brunch buffet, muito mais livre, sim, mas também porque temos o privilégio de estar num espaço amplo e protegido. Como é difícil manter as crianças mais do que dez minutos sentadas, percebemos que elas começaram a usar o espaço como um playground – chegavam a trazer as bicicletas e trotinetes. Como se estivessem num bairro seguro, onde os pais podiam estar sentados, a vê-las”, descreve. Daí até nascer um espaço lúdico, foi natural. “Além de brincar, pensámos que podiam aprender qualquer coisa. Foi quando começámos com os workshops.”

A Praça
DR

Ao comando da programação infanto-juvenil d’ A Praça está a Magnolia Method, uma associação sem fins lucrativos que actua na área de educação e saúde mental e que, aos domingos, entre as 12.00 e as 15.00, aqui promove workshops temáticos e gratuitos, muito focados na sustentabilidade. Se o tempo estiver de feição, instalam-se lá fora; quando está frio ou de chuva, ficam na Pracinha.

Os primeiros na cidade a ter esta ideia tão simples, mas genial, foram os proprietários do Monte Mar: há já oito anos que o restaurante de peixe e marisco no Cais do Sodré junta todos os fins-de-semana a um menu infantil de almoço – sopa, prato principal e sobremesa, por 15€ – animação da FUNtoche, que promete entretê-los das 12.30 às 16.30. 

“Quando me ligaram a dizer que queriam uma opção para os pais estarem tranquilamente a desfrutar da refeição, eu tinha acabado de ter o meu terceiro filho e fiquei muito angustiada. Agora tenho outra visão, mas na altura pensei: ‘como é que vou fazer uma coisa assim?’”, lembra Andreia Fernandes, fundadora da empresa de festas de aniversário e eventos infantis. Fechou-se o negócio com a família numerosa Pinto Coelho (que tem ainda outros projectos, como os hotéis Onyria – todos muito children-friendly), que hoje inclui piscina de bolas, pinturas faciais, modelagem de balões e jogos aos sábados e domingos no Monte Mar. Em datas especiais como a Páscoa, o Dia da Mãe ou o Dia da Criança, há ainda ateliers temáticos. 

Pais just wanna have fun

Hoje é mais comum, mas em 2017, Lisboa nunca tinha visto nada assim. Deixar os miúdos a brincar nos insufláveis e ir para a esplanada beber um cocktail? O Hello Park e a The Green House resolveram tentar. E a fórmula de sucesso dura até hoje no parque da Serafina, no Monsanto: de um lado um parque infantil com insufláveis, piscina de bolas, arborismo, pista de carros, um barco de piratas, barraquinhas de jogos tradicionais e uma casa da árvore em madeira, entre outras diversões; do outro uma esplanada agradável, com um menu não-infantilizado – ou não fosse o proprietário Dave Palethorpe, o empresário e dono do CINCO Lounge ,um dos grandes impulsionadores do mundo dos cocktails na cidade. 

Enquanto isso, mais perto do mar, aos sábados de manhã, entre as 10.00 e as 13.00, o objectivo pode não ser beber um copo (se for, não estamos cá para julgar), mas sim bater umas bolas com a certeza que os filhos estão bem entregues. O clube Carcavelos Ténis & Padel e a FUNtoche juntaram-se para tornar o espaço que já era bastante “family friendly” – com mais de um hectar, dez campos de ténis, cinco de padel, um de futebol, ginásio, o restaurante de comida caseira Slice Bar, um enorme relvado e uma casinha de madeira gigante – ainda mais. “Já fazíamos aqui muitas festas de aniversário e ateliers aos sábados de manhã enquanto os adultos jogavam. Quando os quisémos melhorar, entrámos em contacto com a FUNtoche”, recorda a responsável Joana Freitas, que quer continuar a alimentar esta cultura de família e amigos no espaço. “A entrada no clube é livre e a participação na animação da FUNtoche não tem qualquer custo. Só há uma porta de entrada e saída, o que torna tudo super seguro. Ah! E temos os melhores pães de queijo da zona!” Nos planos para um futuro breve está a instalação de um parque infantil sustentável no Carcavelos Ténis & Padel.

Trabalho é trabalho, conhaque é conhaque

Quando visitámos o Sand Castle pela primeira vez, nas Avenidas Novas, o espaço ainda estava em construção: era preciso pintar paredes, cortar madeira para mesas, acabar de plantar um jardim na esplanada interior. Mas a principal atracção, um castelo sobre uma caixa com cinco toneladas de areia vinda de Espanha, estava a postos. A ideia de Max Vinnikov e Stas Kaminsky era criar um parque infantil coberto e supervisionado com uma zona de coworking e café. Abriu em Setembro de 2024. 

“Vivemos em Portugal há dois anos e, como trabalhamos remotamente, confrontámo-nos com a necessidade de deixar os nossos filhos em algum lado para que fosse possível concentrarmo-nos pelo menos um bocadinho. Foi assim que o conceito surgiu”, contou Max na altura. O empreendedor russo, que se mudou para Lisboa com a mulher e os dois filhos, conheceu o sócio, o bielorusso Stas, quando este trocou Israel, onde vivia há dez anos, pela capital portuguesa.

Projectado sobretudo para ser um espaço de lazer para crianças (de 1 a 7 anos), o Sand Castle inclui um castelo com escorrega e caixa de areia e quatro estações temáticas: uma cozinha, um mercado, uma garagem e um salão de beleza. A inspiração (incluindo para a decoração em madeira e à medida dos mais pequenos) vem do método Montessori, que facilita e promove princípios como a autonomia, a liberdade e o movimento. 

O objectivo é que os miúdos se possam entreter em segurança – “sempre sob supervisão” – enquanto os pais relaxam ou trabalham no café, no terraço ou na sala de cowork. 

Meio ano depois de abrir, o saldo é positivo, conta agora Stas, afirmando que quem mais procura o Sand Castle são mães em licença de maternidade, com filhos que ainda não estão na escola, ou pais que têm os miúdos de férias e precisam de trabalhar. 

O espaço está em constante adaptação, para ser cada vez melhor para os mais novos – e para os mais velhos. “Neste momento estamos a criar uma pequena cafetaria logo à entrada. Já servimos cafés de especialidade e sobremesas, mas vamos expandir o menu e tornar a zona de estar ainda mais confortável.”

O preço de entrada no parque infantil varia entre os 9€ e os 15€ e há descontos para famílias numerosas. Também é possível comprar pacotes de dez (90€) ou 20 horas (160€). Já para utilizar o espaço de cowork, o custo é de 5€ à hora ou 20€ por dia – 15€ se o adulto for acompanhado por um miúdo que fique no parque. E, claro, também é possível reservar o Sand Castle, total ou parcialmente, para eventos. Em breve juntam à festa (ou ao trabalho) um escape room com uma componente culinária. “Os participantes vão cozinhar uma pizza de verdade durante o jogo”, promete Stas. “A sala está a ser desenhada para todas as idades.” Como tem sido sempre no Sand Castle.   

Coisas para fazer com crianças em Lisboa

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Não é só nas aulas, sentados na carteira, agarrados aos livros e a olhar para o quadro, que eles aprendem História. Há quem conte o passado de Lisboa (e não só) de formas mais originais. Fomos conhecer quatro stôras – ou melhor, mediadoras culturais.

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