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Le voyage dans la lune
©George Mélies

Doze canções para ouvir ao luar

The Doors, Smashing Pumpkins, Neil Young ou Björk são apenas quatro dos autores desta dúzia de canções para ouvir à noite enquanto olha para o céu à procura da lua.

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
e
José Carlos Fernandes
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Além de fazer subir e descer a superfície dos mares, o satélite da Terra tem também o poder de agitar as águas nos cantos escuros e misteriosos das almas dos compositores de canções. Já era assim em séculos passados e continua a sê-lo nos anos 20 do século XXI, como atesta a arrebatadora “Moon Song” de Phoebe Bridgers. The Doors, Nick Drake, Neil Young, Smashing Pumpkins ou Björk são outros dos autores destas doze canções para ouvir à noite enquanto põe os olhos no céu à procura da lua.

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Uma dúzia de canções para ouvir

“Moonlight Drive”, de The Doors

Ano: 1967

É noite. O carro ficou estacionado junto à praia, há dois corpos nas ondas. As cintilações de prata sobre a água dão a ilusão de que, se se nadar sempre em frente, se acabará por chegar à lua. Do ponto de vista musical, seria apenas um blues rock, mas a bottleneck guitar fantasmagórica de Robby Krieger confere-lhe uma atmosfera psicadélica e “fora deste mundo”. A canção surgiu no segundo álbum da banda, Strange Days (1967, Elektra), mas foi uma das primeiras que Jim Morrison compôs, mesmo antes de ter encontrado o teclista Ray Manzarek – reza a lenda que terão sido as quatro primeiras linhas de “Moonlight Drive” que terão convencido Manzarek de que estava perante um génio e o levaram a propor a Morrison formar uma banda.

“Pink Moon”, de Nick Drake

Ano: 1972

A faixa-título do derradeiro álbum de Nick Drake é uma das mais ouvidas do trovador britânico. E o reconhecimento é merecido. Escrita apenas alguns anos de o cantautor perder a sua longa batalha com a depressão e nos abandonar, em 1974, é uma canção lírica e musicalmente despida e maculada, onde a lua rosa funciona como uma metáfora para a morte e a inexorável passagem do tempo. Tal como o resto do disco, foi composta e interpretada integralmente por ele, apenas com a voz, uma guitarra acústica e um piano que só se ouve durante uns segundos. Arrepiante.

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“The Killing Moon”, dos Echo and the Bunnymen

Ano: 1984

A mais romântica canção dos Echo and the Bunnymen, ainda que, claro, romântica à sua maneira sombria e críptica. A letra, como usual em Ian McCulloch, é enigmática, prestando-se a várias interpretações. É razoável ver nesta lua um símbolo de morte, que em breve nos tomará nos braços, um destino que se ergue contra a nossa vontade, mas a que acabaremos por ter de entregar-nos. De nada servirá suplicar ou tentar escapar-lhe: “So soon you’ll take me/ Up in your arms/ Too late to beg you or cancel it”. Esta canção de ambiente fatalista foi o primeiro single do álbum Ocean Rain (Korova), que está atestado de canções inspiradas, mas a escolha de “The Killing Moon” não terá sido difícil para Ian McCulloch que declarou “não haver no mundo uma banda que tenha algo que chegue sequer perto dela”. Os anos 80 teriam sido bem mais maçudos sem as proclamações hilariantemente grandiloquentes de McCulloch, mas neste caso ele tem alguma razão: “The Killing Moon” é de uma das maiores canções de sempre.

“Blue Moon Revisited (Song for Elvis)”, pelos Cowboy Junkies

Ano: 1988

A canção original data de 1934 e tem música de Richard Rodgers e letra de Lorenz Hart e foi gravada por grandes cantores de jazz, como Frank Sinatra e Billie Holiday, e por estrelas pop como Elvis Presley e as Supremes. Mas nenhuma versão tem o encanto catatónico deste híbrido criado pelos Cowboy Junkies, que funde a canção original com material criado pela banda e que faz parte do seu segundo álbum, The Trinity Session (1988, Latent/RCA), gravado em directo, com um único microfone, sem overdubs, misturas ou cortes e colagens, na noite de 27 de Novembro de 1987, na acústica reverberante da Church of the Holy Trinity, em Toronto. É um disco em estado de graça, com a voz onírica e nocturna de Margo Timmins pairando sobre um suporte instrumental despojado.

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“Un Horizon de Lune”, dos Collection D’Arnell-Andrea

Ano: 1990

Uma canção nocturna, fatalista e trágica que faz lembrar os Madredeus dos primeiros tempos (sobretudo na forma como Chloé St. Liphard canta) e a faceta mais gótica da 4AD, nomeadamente os This Mortal Coil. É a faixa de abertura de Au Val des Roses (Lively Art), o segundo álbum dos franceses Collection D’Arnell-Andréa e, embora a sua letra não mencione explicitamente a lua, a sua força gravitacional faz-se sentir nas letras.

“Harvest Moon”, de Neil Young

Ano: 1992

Após os relâmpagos e o ribombar de Ragged Glory (1990) e Weld (1991), o imprevisível Neil Young ofereceu-nos em 1992 Harvest Moon (Reprise), um álbum apaziguado e sereno, que retoma a matriz country-folk de Harvest (1972), como se não tivessem passado 20 anos e ocorrido mudanças profundas – na vida de Young e no meio musical – pelo meio. Consta que o que fez Young regressar a um contexto acústico e tranquilo terão sido os problemas auditivos resultantes da exposição a níveis sonoros esmagadores durante as gravações e tournées de 1990-91, mas desse mal veio um bem que é Harvest Moon. A canção que dá título ao álbum (e que não destoaria no alinhamento de Harvest) é uma canção de uma desarmante simplicidade e impregnada de nostalgia, em que alguém reencontra um antigo amor e, rememorando a paixão com que se entregaram outrora, sente reacenderem-se antigas emoções; mas está consciente de que o tempo passou e agora basta-lhe que dancem juntos sob a lua cheia que acabou de nascer. A expressão “harvest moon”, que faz parte do imaginário norte-americano e não tem equivalente em português, refere-se à lua cheia por altura do equinócio de Outono.

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“Full Moon, Empty Heart”, das Belly

Ano: 1993

Começa como letárgica canção de embalar mas depois é tomada por uma imparável euforia. A letra não deixa adivinhar o que se passa, só sabemos que é de noite e que a lua cheia pode ser vista pela janela de um carro em movimento. Faz parte de Star (4AD) o álbum de estreia das Belly, a banda que Tanya Donelly formou depois de sair das Throwing Muses e que manteve em paralelo com The Breeders.

“Luna”, dos Smashing Pumpkins

Ano: 1993

Após todo o som e fúria das primeiras 11 faixas (e em particular da n.º 11, a paroxística e adstringente “Silverfuck”), Siamese Dream, o segundo álbum dos Smashing Pumpkins, encerra com duas canções distendidas e embaladoras: “Sweet Sweet” e “Luna”. A declaração de amor incondicional de “Luna” também oferece um forte contraste com a angst e turbulência emocional que marcam quase todas as outras canções do álbum. O ambiente planante é conferido pelo Mellotron e pelas cordas, as guitarras de sabor indiano dão o toque psicadélico.

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“Moon”, de Björk

Ano: 2011

A lua não é mencionada explicitamente na letra mas Björk oferece uma explicação para o título: “A cada lua nova completamos um ciclo e é-nos oferecida a possibilidade de renovação – de tomar riscos, ligarmo-nos com outras pessoas, amarmos, entregarmo-nos. A canção expressa a lua como símbolo do mundo da imaginação, da melancolia e da regeneração”. Moon é a abertura de Biophilia (One Little Indian), o sétimo álbum de Björk, em que cada canção trata um tema ligado à natureza e à sua relação com o homem e a tecnologia – não por acaso, foi concebido e gravado enquanto a Islândia atravessava uma grave crise financeira, social e espiritual, em resultado do colapso da bolha do sub prime. O delicado e enfeitiçante rendilhado de “Moon” resulta da sobreposição de quatro módulos repetitivos tocados por quatro harpas, num bizarro compasso de 17/8. Se ainda alguém crê que a cantora nasceu na Islândia, como pretende a versão oficial, Moon bastará para lhe fazer ver o óbvio: Björk é um duende lunar.

“Song for the Moon”, dos Isidore

Ano: 2012

Há vozes que têm o condão de conferir uma atmosfera nocturna às canções e a de Steve Kilbey – aconchegadora, tranquila, envolvente, hipnótica, enfeitiçante – é uma delas. Além de ser o frontman de The Church há mais de 40 anos, Kilbey tem vasta discografia em nome próprio e colaborações com Grant McLennan (The Go-Betweens), sob o nome de Jack Frost, com Donnette Thayer, sob o nome Hex, com Jeffrey Cain (Remy Zero, Dead Snares), sob o nome de Isidore, e com Martin Kennedy. Quem conheça os Dead Snares, em que Cain assume funções de vocalista, perceberá o muito que Cain tem em comum com Kilbey. Nos Isidore, a voz é confiada a Kilbey, ficando todos os instrumentos a cargo de Cain e dos músicos convidados; a composição é partilhada e os meticulosos arranjos são também de Cain. “Song for the Moon” faz parte de Life Somewhere Else (Communicating Vessels), o segundo álbum do duo.

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“Blue Moon”, dos Solaris Clock

Ano: 2017

Os Solaris Clock são uma jovem banda japonesa, formada por Choji Yamashita (voz e guitarra), Kazuki Fujii (baixo) e Makoto Sugabe (bateria), e “Blue Moon” faz parte de Lost Memories, o mini-álbum de estreia, de atmosfera dominantemente nocturna (há também uma “Night Walker” e uma “Galaxy Railway”). O som tem afinidades com o shoegaze e a letra, fiel ao romance, diz-nos que os sonhos são efémeros, sim, mas são verdadeiros enquanto se acreditar neles.

“Moon Song”, de Phoebe Bridgers

Ano: 2021

É uma das magníficas canções que Phoebe Bridgers alegadamente escreveu sobre cantautores mais velhos e conhecidos com quem se envolveu romanticamente – a outra é “Motion Sickness”, sobre a sua relação tóxica com Ryan Adams. Tudo indica que aqui o visado é Conor Oberst, o cantor e compositor dos Bright Eyes e uma espécie de mentor com quem ela ainda hoje parece manter uma boa relação. As letras falam de um homem mais velho, casado e doente (tudo coisas que se aplicavam a ele a dada altura) que trai a mulher com a narradora, e vários versos remetem para poemas e temas recorrentes da música de Oberst. Apesar de saber que o que está a fazer está errado, ela não consegue resistir. E se pudesse até lhe dava a lua (daí o título).

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  • Música

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