A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
Afonso Cabral
© Vera Marmelo

Afonso Cabral: "Queria fugir aos velhos hábitos"

Entrevista a Afonso Cabral. O músico português apresenta o primeiro disco a solo, "Morada", sexta, no festival Bons Sons

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
Publicidade

Durante dez anos ouvimos Afonso Cabral a cantar em inglês nos discos da sua banda, os You Can’t Win, Charlie Brown. Mas há um mês que o escutamos também a cantar sozinho, com o nome que os pais lhe deram. Antes de rumar a Cem Soldos, terra do festival Bons Sons, onde apresenta o álbum Morada na sexta-feira, encontrámo-nos para falar desta nova fase da sua carreira.

 

Muitos membros de You Can’t Win, Charlie Brown têm outros projectos. O Noiserv, o Vitorino Voador...

O Salvador [Menezes] tem Tipo.

Não consideraste usar um nome que não fosse Afonso Cabral, como eles?

Considerei, mas foi por pouco tempo. Até porque sabia que me ia fartar do nome, e daqui a dois discos tinha de mudar.

Há um escritor com o mesmo nome. Não tens medo de ser confundido com ele?

Não. E ele assina Afonso Reis Cabral, portanto há essa ligeira diferença. Se bem que já fui confundido com o Afonso Cruz.

Como assim? Porque são os dois carecas e têm barbas?

E somos os dois Afonso, temos apelidos começados por C... Já me aconteceu dar um concerto num sítio onde o Afonso Cruz também ia fazer qualquer coisa no dia a seguir, e passei o dia todo com uma credencial a dizer Afonso Cruz.

O que te levou a fazer um disco solo? Porquê agora?

Já tinha vontade de fazer um disco meu desde antes dos You Can't Win, Charlie Brown, só que nunca soube que disco queria fazer. Experimentei várias coisas e das duas uma, ou não gostava do que estava a fazer, ou achava que não fazia sentido não o fazer com o resto da banda. Até que fiz uma canção para a Cristina Branco chamada “Perto”.

Que também está no teu disco.

Sim. A canção saiu creditada a Afonso Cabral. Foi a primeira vez que existia uma coisa com o meu nome só, e foi um bocadinho o mote para fazer o resto do disco.

Em que sentido?

É o momento em que fico com a ideia – mas ainda não com a certeza – de que consigo fazer canções sozinho em português.

Começar a escrever em português foi difícil?

É bastante diferente de escrever em inglês. Já tinha tentado usar o português, só para testar e aprender, mas foi esse pedido para escrever para a Cristina Branco, juntamente com o convite da Francisca Cortesão para escrever com ela para o Festival da Canção, que me obrigou a largar essa fase de aprendizagem e fazer uma coisa mais...

Tu escreveste para o Festival da Canção?

Sim. A canção da Joana Barra Vaz de 2018, “Anda estragar-me os planos”. É da Chica e minha.

Essa canção também foi cantada agora pelo Salvador Sobral.

Exacto. E isso obrigou-me a parar de andar a experimentar coisas e a trabalhar a sério. Tem sido uma aprendizagem muito desafiante. Escrever em português é algo que me enche de dúvidas e sei que ainda tenho muito para aprender e muito para melhorar. Mas é divertido.

Que dúvidas são essas?

Todas as que possas imaginar. Além das dúvidas estéticas, de como estou a cantar e como estão os arranjos, preocupo-me com teor das letras: será que devia dizer isto? Será que não? E com a forma: será que estou a fazer isto de uma forma foleira? Demasiado directa? Demasiado vaga. Tanta coisa.

O facto de estares a escrever sozinho, sem a banda, também te deixa mais inseguro?

Sim. Estive sempre sozinho até chegar à fase em que comecei a gravar o disco. Convidei o meu amigo António Vasconcelos Dias para produzir, precisamente para ter mais um par de ouvidos e alguém com quem bater bolas. Precisava de alguém nesse papel. Senti muita falta de ter outras pessoas. Foi por isso que chamei o António e montei a banda, rodeei-me de pessoas amigas e com quem tenho confiança, para poder ter esse feedback.

Apesar de este ser um álbum a solo parece que tocam aqui mais pessoas do que num disco de You Can’t Win, Charlie Brown.

Muitas mais. São para aí 17.

Como é que reúnes essa gente toda?

Nunca os tive todos juntos ao mesmo tempo. O que vai ser um desafio. Tenho de tratar disso muito em breve, para marcar ensaios. Mas é como te digo, o core da banda são amigos, são pessoas com quem já toquei.

Claro. Até tens malta de You Can’t Win, Charlie Brown no disco.

Não tenho.

Hã? Não tens o Noiserv?

Não. Tenho um David Santos, mas é outro David Santos.

Há outro David Santos com quem tocas?

Há dois David Santos com quem toco, só para baralhar a malta. Este é baixista.

OK.

Por acaso não queria ter ninguém de You Can’t Win, Charlie Brown envolvido no disco. Queria tentar fugir aos velhos hábitos.

Mas os You Can’t Win, Charlie Brown continuam juntos, certo?

Claro. Temos uma digressão do festejo dos nossos dez anos entre Setembro e Outubro.

São já dez anos?

Mesmo. Também ficámos surpreendidos. E por isso vamos dar uma série de concertos. São 13 datas por Portugal fora. Arrancamos no Musicbox a 13 de Setembro.

Curioso. Conheci-te precisamente quando trabalhavas no Musicbox.

É verdade. Já lá vão dez anos também. Foi na altura em que se formaram os You Can’t Win, Charlie Brown. Sinto-me em casa lá.

Conversa fiada

  • Música

Noah Lennox, vulgo Panda Bear, é um dos mais influentes músicos independentes deste século. A viver em Lisboa há mais de uma década, foi responsável por discos seminais como Person Pitch, de 2007, ou Merriweather Post Pavillion (2009), dos Animal Collective, mas isso não lhe subiu à cabeça. Falámos sobre o novo álbum, Buoys.

Publicidade
Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade