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Música, Pop, Primeira Dama
©Fred ClaroPrimeira Dama

As lágrimas pop de Primeira Dama

O novo disco de Primeira Dama, o primeiro em formato banda, é apresentado em Lisboa esta semana. Falámos com ele.

Escrito por
Ana Patrícia Silva
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Primeira Dama é o nome que Manuel Lourenço assume quando decide derramar-se em forma de canções. O álbum que agora edita chama-se Superstar Desilusão e começou a ser composto a sós em 2018. Em 2019 entrou a banda, com quem trabalhou os arranjos, e em 2020 começaram as gravações. Entretanto, chegou uma pandemia. O mundo lá fora desmoronava-se, mas dentro de quatro paredes havia muito para fazer. “Durante a pandemia fui-me libertando na gravação das vozes que ficaram por fazer quando entrámos em isolamento”, conta Manuel Lourenço. Arrumou o quarto e refez o mini-estúdio em casa, para terminar o disco no conforto e segurança do lar, e depois o lançar quando o mundo recuperasse. Ainda não chegámos a esse ponto (estamos longe disso), mas a vida continua. O álbum viu a luz do dia a 18 de Setembro e tem sido apresentado ao vivo – o próximo concerto vai ser na tarde deste domingo, dia 18, no terraço da Casa do Capitão, em Lisboa.

Depois de Histórias Por Contar (2016) e Primeira Dama (2017), passaram-se três anos, mas ele não esteve parado. Ocupou-se com vários projectos musicais e com o seu próprio crescimento pessoal. Hoje, com 23 anos, já não é o mesmo. “O início da idade adulta traz alguma clareza... algum cinismo. Uma sobriedade necessária para escrever melhores canções. Passei um período difícil, mas entre o trabalho que fui fazendo com o Filipe Sambado e os concertos com a Lena d’Água, a evolução foi-se dando de forma natural.”

O que ouvimos em Superstar Desilusão não existiria sem tudo o que aconteceu nestes três anos. Na definição deste novo som foram decisivos o tempo que passou em estúdio e no palco com Filipe Sambado, a produção do último disco de Sreya, e especialmente o seu papel na revitalização de Lena d’Água, quando a puxou para concertos de repertório repartido, com a banda que agora o acompanha. “Os dois anos e meio com a Lena d’Água foram sobretudo importantes para a transição para esta fase de banda. É música pop com muita profundidade, e esse desafio fez com que evoluíssemos muito enquanto banda, foi essencial para fazer este disco.”

Apesar de ser um disco pessoal e introspectivo, Superstar Desilusão é também um disco cheio de pessoas, com a contribuição de vários músicos e produtores. Na sua banda ouvem-se Martim Brito (bateria), António Queiroz (baixo), João Raposo (guitarra e sintetizador) e Inês Matos (guitarra solo). A produção foi entregue a Gonçalo Formiga, cabecilha dos Cave Story e um dos produtores da nova vaga do garage-rock português. Para não perder a essência pop, a produção das vozes ficou a cargo de Bejaflor, artista peculiar que habita a floresta da electrónica.

Todas estas pessoas enriqueceram a sua música. “Este disco viveu sempre desse confronto de ideias. Apesar das afinidades que temos, somos uma banda com muito mais diferenças do que semelhanças. Mas é também daí que nascem as melhores ideias.” Na produção fez questão que houvesse uma “dualidade muito intensa” – “por um lado, o Gonçalo Formiga dos Cave Story, com a sua consistência garage-rock, por outro, o Bejaflor, com o seu lado visionário a puxar pelas minhas ideias pop mais loucas.”

A música de Primeira Dama nunca perde o sabor pop, qualquer que seja o embrulho. De onde vem este gosto pelas canções? Da mãe. “Apesar do método clássico que fui herdando do lado paterno, a grande maioria da música que cresci a ouvir, sobretudo com a minha mãe, esteve sempre dentro do largo espectro da pop. É uma parte fundamental da minha formação enquanto músico e é algo que não se perde”, confessa. Mesmo quando fala de coisas menos felizes, sobressaem as melodias bonitas que lembram dias melhores – a sorrir para não chorar.

Casa do Capitão, Lisboa. Dom 16.00. 6€.

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