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Música, Led Zeppelin, Acústico
©DRLed Zeppelin acoustic

Nove canções para correr (ao som dos anos 60)

Uma playlist de canções com bom andamento e palavras que nos inspiram a dar à sola.

Escrito por
João Pedro Oliveira
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Se já tinha idade para correr quando estas músicas foram lançadas e ainda continua por aí aos pinotes, está de parabéns: é um valente atleta. Em mais uma playlist temática para entusiasmar corridas, reunimos esta colecção feita exclusivamente de canções da década de 60. Nada do que aqui se houve tem menos de meio século e uns trocos, mas ainda está tudo em excelente forma. O critério de selecção é o mesmo de toda esta série: músicas com pulsação suficiente para bombar um mínimo de adrenalina (nunca menos de 100 batidas por minuto) e palavras com motivação bastante para nos fazer correr ou, pelo menos, seguir em frente (nem todas as letras são para levar à letra). Contas feitas, está aqui mais de meia hora de corrida.

Siga a lista no Spotify, ou comece já a ouvi-la aqui:

Recomendado: Oito canções para correr (ao som dos anos 70)

Canções para correr (ao som dos anos 60)

“Hit the Road Jack”, Ray Charles (1961)

1m e 58s a 172 bpm

“Hit the road” é expressão coloquial equivalente a “sai daqui para fora”, “rua contigo”, “põe-te a milhas”. Se a ouvirmos como um convite a dar corda aos sapatos em vez de uma declaração de divórcio, temos aqui uma bela canção motivacional para embalar dois minutos de corrida a ritmo elevado. Escrita por Percy Mayfield, que a gravou pela primeira vez numa demo de 1960, foi editada na voz de Ray Charles em 1961, instalou-se por duas semanas no top da Billboard Hot 100 e tornou-se uma das canções obrigatórias de qualquer colectânea com o seu nome.

“Sinnerman”, Nina Simone (1962)

5m e 29s a 142 bpm

A canção foi escrita no início da década de 50 por Will Holt, músico folk norte-americano. O texto pergunta a um pecador para onde diabo vai ele fugir quando chegar o dia do Juízo Final. Rapidamente foi adaptada e gravada noutras versões, caso dos Les Baxter e dos Swan Silvertones, que lhe sublinharam o cunho espiritual e a aproximaram mais de um tema gospel. Só que, em 1965, Nina Simone apropriou-se da canção com uma versão longa e definitiva, e nunca mais ninguém a quis ouvir de outra maneira (na verdade, bem que a podíamos somar à nossa lista de canções célebres que a maioria nem desconfia que são covers). Na voz de Simone, a ideia de corrida impõe-se de forma ofegante e a canção transforma-se numa locomotiva espiritual a 142 batidas por minuto. Para efeitos desta playlist, escolhemos a versão usada na banda sonora de Thomas Crown Affair, mais curta e sem paragens nem apeadeiros.

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“Wipe Out”, The Surfaris (1963)

2m e 40s a 160 bpm

Aqui há uma pequena batota. A letra que escutamos dificilmente pode ser apresentada como palavra de motivação para dar corda aos sapatos. Ora repare bem: “Ah ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha, wipe out”. Uma risota, seguida de uma expressão que tanto significa eliminar como apagar, e é tudo. Quando muito, podemos argumentar que é um bom arranque: fazer reset ao que fica para trás e concentrarmo-nos na corrida que temos pela frente. Já a música inspira qualquer um a bater perna. Lançado em 1963, “Wipe Out” foi um dos maiores sucessos de The Surfaris. É uma rockalhada da tribo do surf (haveria inclusivamente de ter uma versão dos Beach Boys) que corre a um ritmo electrizante, empurrada por uma bateria endiabrada a 160 batidas por minuto.

“Mas que Nada”, Jon Ben Jor (1963)

2m e 59s a 100 bpm

Foi o primeiro grande sucesso de Jon Ben Jor, ainda que meio mundo ache que a canção pertence a Sérgio Mendes, que a tornou famosa nos Estados Unidos e alcançou mesmo a posição 4 no top Adult Contemporary da Billboard. Foi na voz de Mendes que a América descobriu “Mas que Nada”, integrado no álbum Herb Alpert Presents Sérgio Mendes & Brasil '66, cantado num português brasileiro alisado por um sotaque camone. E foi na voz de Mendes que o mundo a redescobriu, numa versão de 2006 gravada com os Black-Eyed Peas (que, curiosamente, teve o seu maior sucesso no Brasil, onde foi n.º1 do top de singles). É, como a própria letra denuncia, um samba com misto de maracatu, que corre a 100 bpm, mas dá vontade de apertar o passo e cantar “sai da minha frente que eu quero passar”.

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“Keep On Running”, Jackie Edwards (1965)

2m e 40s a 138 bpm

É mais uma que podemos incluir na nossa lista de canções que provavelmente não sabe que são covers. Tornou-se conhecida na Europa pela gravação que o Spencer Davis Group fez em 1965, que chegou a número 1 da UK Singles Chart. O original, porém, tinha sido gravado uns meses antes e pertence ao jamaicano Jackie Edwards, que por esses dias trabalhava como compositor para a Island Records, editora que representava a banda britânica. O refrão repete a frase do título e serve de fortificante para uma corrida em bom ritmo, ainda que a ideia do texto (que, sucintamente, se pode resumir a “bem podes correr, que mais tarde ou mais cedo vens cá parar”) seja mais uma exaltação do amor do que uma apologia do atletismo.

“(I Can't Get No) Satisfaction”, The Rolling Stones (1965)

3m e 43s a 137 bpm

Tem um dos riffs mais famosos da história do rock e tem aquele efeito hipnótico de pôr as pessoas a coçar as calças, fingindo que têm uma guitarra na mão. Mas (I Can't Get No) Satisfaction é também um suplemento poderoso para tonificar uma corrida. Lançada em 1965, a canção deu aos Stones o seu primeiro número 1 na tabela de singles dos Estados Unidos (o quarto no Reino Unido) e transformou-se, por si mesma, num ícone da história do rock. Retrata excessos da cultura de consumo, publicidades enganosas e frustração sexual, mas – lá está – aqui nem todas as letras são para levar à letra. A ideia é concentrarmo-nos na frase repetida do refrão para conquistarmos aquele quilómetro extra que temos pela frente, impulsionados por aquelas três batidas obsessivas de pandeireta que seguram toda a música.

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“Ain’t No Mountain High Enough”, Marvin Gaye e Tammi Terrell (1967)

2m e 31s a 128 bpm

Gravado originalmente por Marvin Gaye e Tammi Terrell em 1967, tornou-se num êxito sério três anos mais tarde na voz de Diana Ross. Foi o segundo single extraído do primeiro álbum a solo da ex-Supreme, e foi com ele que pela primeira vez alcançou o número 1 da Billboard Top 100 (lugar que ocuparia outras onze vezes ao longo da carreira). Porém, enquanto a versão de Ross assume um tom mais declamado, com várias passagens de spoken word, e veste uma roupa clássica, com uma secção de cordas a acamar o arranjo, o original de Gaye e Terrell é um pouco mais corrido e muito mais radiante. Nesse sentido, é a versão mais apta para nos convencer de que o amor é mesmo capaz de ultrapassar qualquer obstáculo que se lhe atravesse no caminho. E depois sairmos a correr por aí.

“Born To Be Wild”, Steppenwolf (1969)

3m e 30s a 139 bpm

É uma canção de alcatrão e pressupõe que seguimos caminho motorizados por muitos cavalos. Mas tem tudo para espicaçar uma corrida a penantes, mesmo que só por sugestão. Born to Be Wild é o terceiro single do álbum de estreia dos norte-americanos Steppenwolf, lançado em 1968, e tornou-se no seu maior sucesso, alcançando a segunda posição da Billboard Hot 100. No ano seguinte, foi incluído na banda sonora de Easy Rider e ficou para sempre ligada à imagem de Peter Fonda e Dennis Hopper cruzando a América a cavalo de duas choppers Harley-Davidson.

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“Ramble On”, Led Zeppelin (1969)

4m e 34s a 99 ou 198 bpm

É daquelas que não se sabe como havemos de a sentir: se a 99, se a 198 batidas por minuto. O que significa que tanto dá para embalar uma corrida tranquila como para impelir um sprint furioso. Está inscrita no álbum Led Zeppelin II, lançado em 1969, e é uma das muitas canções da banda que oferecem bom combustível auditivo para jogging (e que mereciam toda uma lista à parte). Esta, porém, cumpre o critério de ter uma letra com palavras de incitamento à correria. “Ramble on” é expressão que significa ir por aí afora, vaguear, deambular, divagar. E a divagar se vai ao longe.

Mais que ouvir

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O reino misterioso do sono nunca deixou de atrair os compositores de canções. Estas sete substâncias hipnóticas podem ser tomadas sem receita médica, mas há que ter em atenção que algumas poderão produzir, nas almas mais sensíveis e quando consumidas repetidamente, efeitos secundários imprevisíveis. O importante é reter que as canções de embalar, apesar de talvez terem sido as primeiras criações musicais do Homo Sapiens, não são um género esgotado. A prova está aqui.

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A autorreferência é um mecanismo relativamente banal na arte. Por exemplo, poemas que se queixam de como as palavras não lhes bastam para dizerem tudo o que precisam dizer, é mato. Nos textos cantados é especialmente frequente encontrar esse tipo de truque estilístico, em particular em canções que se põem a falar sobre canções de amor para, de forma mais ou menos discreta, fingirem que não são elas próprias canções de amor, bajoujas e piegas como todas as canções de amor devem ser.

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Não consta de nenhuma das letras, mas a palavra da moda atravessa todas estas canções. Aqui fala-se de resistência e esperança, optimismo e perseverança, confiança e tenacidade: em suma, fala-se de resiliência, palavra que por estes dias se consome mais do que álcool gel. Eis então uma playlist que é uma espécie de vacina contra toda a sorte de atribulações, borrascas, contrariedades, dissabores, e mais uma série de sinónimos de coisas chatas, que podíamos continuar a ordenar alfabeticamente até chegarmos a “zaragatoa”.

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