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Música, Rock 'n Roll, Joan Jett & the Blackhearts
©DRJoan Jett & the Blackhearts

Doze canções que talvez não saiba que são covers

Em quase tudo na vida, aprendemos a preferir o original. Mas acontece que às vezes, sem saber, estamos afinal a apreciar uma belíssima cópia. Ora veja se é o caso.

Escrito por
João Pedro Oliveira
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A história da música popular está recheada de versões de canções que já tinham alcançado sucesso noutra vida. Genericamente, é disso que falamos quando falamos em covers. Mas a coisa torna-se bem mais surpreendente quando o factor sucesso sai da equação – ou, melhor ainda, quando ele está virado ao contrário e descobrimos versões que triunfaram sobre originais obscuros. A lista que se segue reúne uma dúzia de covers que eclipsaram por completo as versões primitivas, mesmo em casos onde elas tinham gozado já de relativo êxito. Mas foram estas interpretações que se impuseram na memória colectiva, a ponto de a maioria de nós as tomar hoje por originais.

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Doze canções que talvez não saiba que são covers

Joan Jett & the Blackhearts, “I Love Rock ‘n Roll” (1981)

É difícil imaginar que alguém seja mais apaixonado pelo rock 'n' roll do que Joan Jett, considerando a forma apaixonada como ela interpretou a canção que maior sucesso lhe trouxe em toda a carreira (ocupou o primeiro lugar da Billboard de 30 de março até 1 de maio de 1982). Mas a verdade é que The Arrows declararam o seu amor primeiro. O original foi editado pela banda britânica sete anos antes, em 1975, curiosamente como lado B de um outro single.

The Arrows, “I Love Rock 'n Roll” (1975)

Soft Cell, “Tainted Love” (1981)

Outro caso de sucesso relativo em Inglaterra que foi exportado com estrondo para os Estados Unidos. “Tainted Love” foi originalmente composta em estilo soul por Ed Cobb para a voz da norte-americana Gloria Jones – que mais tarde integraria os britânicos T. Rex – e gravada pela primeira vez em 1964. Foi preciso esperar 17 anos para que a dupla Soft Cell fizesse este cover, entre um sintetizador minimalista e a interpretação neurótica de Marc Almond, dando origem a uma peça incontornável do património pop dos anos 80.

Gloria Jones, ‘Tainted Love’ (1965)

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Natalie Imbruglia, “Torn” (1997)

A maior parte do mundo que conhece a australiana Natalie Imbruglia conhece-a pelo single “Torn”, que foi êxito global em 1997. Outra parte mais pequena do mundo que conhece os Ednaswap, banda que medrou em Los Angeles durante cinco anos, conhece-os por terem composto “Torn”, lançado no seu álbum de estreia em 1995. E pouca gente fora da Escandinávia conhecerá Lis Sørensen, a primeira a gravar a canção, dois anos antes, sob o título “Brændt” — que na romanticíssima língua dinamarquesa significa “Queimada”.

Lis Sørensen, “Brændt” (1993)

The Rolling Stones, "Time Is on My Side" (1964)

Foi o primeiro single dos Rolling Stones a galgar o top 10 de singles nos Estados Unidos. Um ano antes, a canção escrita por Jerry Ragovoy tinha já sido gravada por Irma Thomas, a rainha da soul de Nova Orleães, como lado B do single "Anyone Who Knows What Love Is (Will Understand)". Mas a primeiríssima gravação foi esta, editada uns meses ainda mais cedo, pelo trombonista Kai Winding. É uma versão mais instrumental em que a letra fica reduzida ao refrão, cantado pelas Gospelaires (grupo vocal fundado por Dionne Warwick e a sua irmã Dee Dee).

Kai Winding, “Time is on My Side” (1963)

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Janis Joplin, “Me and Bobby McGee” (1971)

Uns dias antes da sua morte, ainda em 1970, Janis Joplin gravou o take definitivo de "Me and Bobby McGee", escrito por Kris Kristofferson e Fred Foster, e que seria incluído no precioso Pearl, álbum editado no ano seguinte. Haveria de se tornar no segundo single póstumo da história a chegar ao topo do Billboard Hot 100 (o primeiro foi "The Dock of the Bay", de Otis Redding). Antes, porém, o próprio Kristofferson lançaria a sua própria interpretação da canção ainda em 1970. E antes ainda, em 1969, houve esta versão original gravada por Roger "King of the Road" Miller.

Roger Miller, “Me and Bobby McGee” (1969).

Robert Palmer, “Bad Case of Loving You (Doctor, Doctor)” (1979)

O maior êxito na carreira de Robert Palmer é também um cover. Um ano antes, "Bad Case of Loving You (Doctor, Doctor)" tinha já sido editado em single por Moon Martin no Reino Unido e em Espanha, onde não ficou para a história. Na voz de Palmer, a canção subiu ao n.º 14 da Billboard e tornou-se num caso sério de popularidade nos Estados Unidos. Curiosidade: Martin ganhou a alcunha “Moon” porque quase todas as suas letras incluíam essa palavra. Esta foi uma das excepções.

Martin Moon, “Bad Case of Loving You (Doctor, Doctor)” (1978).

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Madonna, “Ray of Light”

A transformação, neste caso, foi grande. Mas por debaixo da blindagem electrónica em estilo trance que Madonna e William Orbit lhe aplicaram, “Ray of Light” (do álbum homónimo, lançado em 1998) é apenas o cover de "Sepheryn", canção escrita e editada há 50 anos pelos Curtiss Maldoon. A versão original está no álbum de estreia deste duo folk britânico, lançado em 1971.

Curtiss Maldoon, "Sepheryn"

The Clash, “I Fought The Law” (1979)

Foi escrito por Sonny Curtis dos Crickets, uma banda de rock and roll texana que a editou em 1960, e ganhou fama pela primeira vez numa versão que os Bobby Fuller Four gravaram meia dúzia de anos depois, quando ascendeu ao top 10 de singles nos Estados Unidos. Mas para a maioria isso é arqueologia antiga e a única versão que ficou na memória foi o hino punk gravado em 1979 pelos The Clash.

Crickets, “I Fought The Law” (1960) 

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Elvis Presley, “Hound Dog” (1956)

Na voz de Elvis Presley, tornou-se num êxito avassalador, sagrou-se com um dos maiores hits rock 'n roll dos anos 50, vendeu mais de dez milhões de cópias, foi simultaneamente número um dos tops Billboard para r&b, country e pop (este por 11 semanas consecutivas), alcançou a posição 19 na lista das 500 melhores canções de sempre da Rolling Stone, e foi integrado no Grammy Hall of Fame. Mas “Hound Dog” teve já cerca de 250 versões diferentes, várias delas anteriores à do rei – só em 1953, houve pelo menos três feitas por cantores country. A primeira de todas, porém, foi gravada pela magnífica Big Mama Thornton ainda em 1952. Logrou vender meio milhão de cópias e alcançou o número um do top de r&b no ano seguinte.

Big Mama Thornton, “Hound Dog” (1952).

George Harrison, “I Got My Mind Set on You” (1987)

Em 1987, após cinco anos de silêncio, George Harrison regressava com o álbum Cloud Nine. Foi dele que se extraiu o single “I Got My Mind Set on You”, que rapidamente alcançou o número um no top de singles nos Estados Unidos e o número dois no Reino Unido. A canção foi escrita por Rudy Clark, a gravação original é 25 anos mais velha que a de Harrison e pode ser ouvida na voz de James Ray.

James Ray, “I Got My Mind Set on You” (1962).

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Cher, “The Shoop Shoop Song (It's In His Kiss)” (1990)

À boleia de Cher, "The Shoop Shoop Song (It's in His Kiss)" atingiu o topo do UK Singles Chart por cinco semanas consecutivas em 1990, e instalou-se noutros tops um pouco por todo o mundo: número um na Áustria, Irlanda, Nova Zelândia, Noruega e Espanha e Reino Unido, e top 10 em outros 14 países. Mas, como muita gente saberá, a canção escrita por Rudy Clark (sim, o mesmo compositor de “I Got My Mind Set on You”) foi também um sucesso três décadas antes, em 1964, na voz de Betty Everett. O que menos saberão é que o verdadeiro original data de um ano antes ainda, e foi interpretado pela cantora de soul e gospel Merry Clayton.

Merry Clayton, “The Shoop Shoop Song (It's In His Kiss)” (1963).

Cyndi Lauper, “Girls Just Want to Have Fun” (1983)

Esta, sendo um segredo mal guardado, é ainda surpresa para muita gente. O primeiro hit single de Cyndi Lauper e um dos maiores hinos pop feministas de sempre foi, afinal, escrito por um homem – e do ponto de vista de um homem. Foi gravada pela primeira vez em 1979 pelo músico new wave americano Robert Hazard e, originalmente, funcionava como a justificação de um rapaz aos seus pais para chegar a casa às tantas, dizendo que a culpa era das galdérias que só queriam era brincadeira. Uns anos depois, passou a ser uma canção de libertação feminina. Lauper lançou a música com estrondo no seu álbum de estreia, She's So Unusual (1983), com ligeiras e devidamente autorizadas modificações na letra. Onde se lia “Don't worry, mother dear, you're still number one”, passou a ler-se “Oh daddy dear, you know you're still number one / But girls they wanna have fun”.

Robert Hazard, “Girls Just Want to Have Fun” (1979).

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