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Dez discos indie pop para ouvir de cabeça para baixo: volume 2

Nos antípodas há bandas que brotam, florescem e fenecem sem que o resto do planeta dê por isso.

Escrito por
José Carlos Fernandes
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A Austrália, uma ilha maioritariamente ocupada por desertos escaldantes, parece ser, tal como a Islândia, uma ilha maioritariamente ocupada por desertos glaciais, solo fértil para o talento musical. Passemos por cima de Crowded House, INXS, AC/DC, Men At Work, Midnight Oil, Kylie Minogue e Natalie Imbruglia, por serem sobejamente conhecidos e dispensarem publicidade adicional, e também por cima de The Birthday Party, Nick Cave, Dead Can Dance e SPK, por a sua área não ser a pop, e concentremo-nos na indie pop. Na falta de uma investigação científica que revele que viver de cabeça para baixo favorece a criação de canções perfeitas, maravilhemo-nos com dez discos de dez bandas que vale a pena conhecer entre a rica e pouco conhecida produção do Down Under, que é como o mundo anglo-saxónico costuma designar a Austrália e a Nova Zelândia.

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Dez discos indie pop para ouvir de cabeça para baixo: volume 2

Daddy’s Highway, The Bats

Ano: 1987

A fascinante mescla de pop, folk, psicadelismo e rendilhados de guitarras cristalinas criada na Califórnia de meados da década de 1960 pelos Byrds andou anos à deriva, cruzando todo o Oceano Pacífico até, na viragem dos anos 70-80, dar à costa em Sydney, na Austrália – com The Church – e em Dunedin, na Nova Zelândia – com o Dunedin Sound, um termo que designa várias bandas associadas à cidade universitário de Dunedin, a segunda maior cidade da Ilha Sul, quase todas elas editadas pela etiqueta neo-zelandesa Flying Nun. Na complexa e subjectiva taxonomia pop-rock, o Dunedin Sound pode ser visto como uma variante neo-zelandesa – e, no seu início, tendencialmente lo-fi – do “jangle pop”.

Entre as bandas mais dignas de nota do Dunedin Sound estão The Bats, com alguns membros originários de Christchurch, a maior cidade da Ilha Sul, mas com fortes laços com Dunedin – até porque Robert Scott, o guitarra-ritmo, era à data baixista nos “dunedinenses” The Clean. Foi em Dunedin que os The Bats deram o seu primeiro espectáculo em 1982 e dois anos depois lançavam o primeiro EP, By Night. A estreia no formato longa duração deu-se com Daddy’s Highway, parcialmente gravado, de forma artesanal, num gravador de oito pistas, em Glasgow, a meio da primeira tournée britânica da banda.

Os The Bats cessaram actividade em 1995 – Robert Scott reassumiu funções de baixista nos The Clean – mas dez anos depois, após alguns reencontros pontuais, voltaram a lançar um álbum de originais e têm-se mantido em actividade regular desde então, mantendo os quatro membros da formação inicial.

[“Treason”]

Brave Words, The Chills

Ano: 1987

Kaleidoscope World, de 1986, era uma compilação de singles e participações em dois EPs colectivos do Dunedin Sound, e só no ano seguinte surgiu o seu álbum de estreia “a sério”, Brave Words. Em 2015, a banda lançou Silver Bullets, o primeiro álbum de originais em 19 anos.

 

 

 

 

[“Brave Words”]

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The Slow Crack, Steve Kilbey

Ano: 1989

frontman dos The Church, banda veterana da indie pop australiana, com 38 anos de existência ininterrupta (salvo algumas zangas e mudanças de baterista) e uma vintena de álbuns de originais (o mais recente saiu em Outubro passado) mais uma mão-cheia de álbuns de covers e outtakes, tem espalhado a sua criatividade pelos The Hex, Curious, Gilt Trip, Mimesis, Jack Frost, Isidore, Polaroid Kiss e Fake, pelas colaborações com Martin Kennedy (uma dezena de álbuns!) e ainda por uma quinzena de álbuns em nome próprio (Kilbey tem a seu crédito a autoria ou co-autoria de 750 canções).

Alguns dos discos a solo dos anos 80-90 são um pouco prejudicados pela frieza das caixas de ritmos e programações, mas boa parte do material é indistinguível das canções dos The Church – The Slow Crack é um dos seus melhores discos a solo.

[“Something That Means Something”]

Vehicle, The Clean

Ano: 1990

Os The Clean formaram-se em 1978 em Dunedin, Nova Zelândia, e têm como núcleo central os irmãos Hamish e David Kilgour e Robert Scott. Em 40 anos, a banda lançou apenas cinco álbuns de originais, o que se explica pela sua actividade muito intermitente, já que David Kilgour tem canalizado a sua criatividade também para outros projectos – The Great Unwashed, Stephen, Heavy Eights e sete álbuns em nome próprio. Aliás, foi só após David Kilgour ter posto fim aos The Great Unwashed que os The Clean se voltaram a reunir em 1989 e lançaram o seu primeiro álbum, Vehicle, gravado em apenas três dias, a meio de uma tournée pela Grã-Bretanha.

[“Draw(in)g to a (W)hole]

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Danger in the Past, Robert Forster

Ano: 1990

Os The Go-Betweens, talvez a mais popular das bandas indie pop da Austrália, tiveram duas vidas, uma em 1977-89 e outra em 2000-06. No interregno, os seus dois notáveis cantores e songwriters, Grant McLennan e Robert Forster (a dupla Lennon-McCartney do Down Under), não ficaram parados, lançando cada um deles quatro álbuns em nome próprio. O primeiro de Forster, Danger in the Past, foi gravado na Alemanha, onde Forster iria viver nos anos seguintes, e foi produzido por Mick Harvey (The Birthday Party, The Bad Seeds, Crime & the City Solution).

[“The River People”]

Watershed, Grant McLennan

Ano: 1993

Pelo seu lado, McLennan juntou-se a Steve Kilbey, dos The Church, nos Jack Frost e após o álbum de estreia deste projecto, surgido em 1990, lançou o seu primeiro disco em nome próprio, Watershed, em 1993. Ele e Forster reactivariam os Go-Betweens em 2000, mas um ataque cardíaco aos 48 anos, em 2006, pôs fim à sua vida.

 

 

 

 

[“Haven’t I Been a Fool”]

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Drift, The Apartments

Ano: 1992

Os The Apartments nasceram em Brisbane em 1978 e mantêm-se em actividade – embora com um interregno entre 1999 e 2007 – o que faz deles decanos da indie pop australiana. Apesar da longevidade, sempre se mantiveram abaixo do limiar da popularidade, até mesmo no seu país natal. Da formação inicial resta apenas o frontman, Peter Milton Wash (voz e guitarra), que, nos primeiros tempos, chegou a ser, efemeramente, guitarrista nos The Go-Betweens, também de Brisbane, que na altura estavam também a dar os primeiros passos (e lograriam, mais tarde, alcançar maior visibilidade do que os The Apartments.

O álbum de estreia, The Evening Visits... and Stays Forever, lançado em 1985, depois de Walsh se mudar para Londres (tal como The Go-Betweens), é uma gema por lapidar mas o segundo, Drift, que foi o primeiro a ter edição também na Austrália, já é um diamante refulgente.

[“Knowing You Were Loved”]

Love Walked In, The Earthmen

Ano: 1997

Formaram-se em Melbourne em 1991, unidos pelo fascínio pela pop psicadélica dos anos 60 (os Byrds são, sem dúvida, a banda mais influente da indie pop da Austrália e Nova Zelândia) e pelos muros de guitarras saturadas de efeitos e que então estavam em ascensão na Grã-Bretanha – a energia da secção rítmica e a adstringência das guitarras afasta-os da dream pop mais vaporosa e aproxima-os dos shoegazers Ride. Infelizmente, apenas nos deixaram alguns singles e EPs e o álbum Love Walked In, que foi eleito pela crítica australiana como o álbum revelação de 1997. Infelizmente, as grandes promessas ficaram por concretizar, pois a banda dissolveu-se em 1999, quando entrara em estúdio para gravar o seu segundo álbum.

Em 2014, a editora PopBoomerang conseguiu convencer os membros da banda a regressar ao estúdio e a gravar versões acabadas das demos desse álbum abortado – o resultado foi o álbum póstumo College Heart (2016). Quanto ao “álbum revelação” de 1997, quem o queira ter terá de desembolsar uma quantia apreciável por um exemplar em segunda mão da edição japonesa.

[“Whoever’s Been Using This Bed”]

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Naturaliste, The Lucksmiths

Ano: 2003

Se a indie pop australiana tende a ser negligenciada no resto do mundo, poucas bandas foram mais injustiçadas do que os Lucksmiths, fundados em 1993 em Melbourne e que se despediram das lides musicais em 2009, com um concerto na sua cidade natal, após oito álbuns de originais, boa parte deles hoje impossíveis de encontrar na Europa. O seu songwriting, com afinidades com os seus compatriotas The Go-Betweens e com The Smiths, foi ganhando elaboração e subtileza com o passar dos anos e atingiu o zénite nos quatro discos lançados no presente século, entre os quais se conta este Naturaliste.

[“Stayaway Stars”]

Purplene, Purplene

Ano: 2004

Os Purplene formaram-se em 1996 em Newcastle, uns 160 quilómetros a noroeste de Sydney, cidade onde estabeleceriam base alguns anos depois. A sua sonoridade vive de malhas de guitarras sobrepostas, que, nalgumas canções evocam o math rock. A discografia dos Purplene é magra: alguns EPs e dois álbuns, Ruining It for Everybody e Purplene, tendo o segundo sido produzido pelo lendário Steve Albini e alcançado algum reconhecimento internacional. A banda dissolveu-se pouco depois e os seus dois álbuns tornaram-se em peças de colecção.

[“Swords Down”]

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