“Division Street”, dos Ravens & Chimes

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Quando se tentam eleger “as melhores músicas pop de sempre”, as escolhas centram-se nos grandes êxitos dos nomes consagrados, mas não faltam canções tão boas ou melhores criadas por músicos obscuros
O prólogo ao livro de poemas Os conjurados (1985), a derradeira obra de Jorge Luís Borges, é tão precioso e iluminador como o melhor dos seus poemas. Escreve Borges, do alto da infinita sabedoria dos seus 86 anos: “Com o correr dos anos, observei que a beleza, tal como a felicidade, é frequente. Não se passa um dia em que não estejamos, um instante, no paraíso. Não há poeta, por medíocre que seja, que não tenha escrito o melhor verso da literatura, mas também os mais infelizes. A beleza não é privilégio de uns quantos nomes ilustres”.
Seguem-se dez comprovativos, não de como mesmo poetas medíocres são capazes de magníficos versos, mas de que existem criadores talentosos a viver longe dos holofotes, porque, pura e simplesmente, não existe uma relação entre talento e reconhecimento. São 10 músicas pop que poucos conhecem, mas todos deviam conhecer.
Os Tradlad, que têm base em Tóquio e nasceram em 2013, têm personalidade indefinida, e tanto cultivam uma power pop de alta energia, próxima do emo (“Dreaming Technique” é a mais conseguida nessa veia), como têm canções serenas e rendilhadas. “Goodbye to Everything”, do segundo mini-álbum da banda, Bridges (2017), faz parte das segundas: a estrofe é serena e fluida, embalada de forma gentil mas inexorável pela malha repetitiva da guitarra eléctrica, o refrão ergue-se até à alta atmosfera e o solo de guitarra leva a canção até às estrelas.
Se não fosse obra de uma entre mil bandas semi-anónimas de miúdos japoneses que lutam por arranjar concertos nos clubes de Shibuya, poderia estar destinada à imortalidade.
The Rite of Trio: André Bastos Silva (guitarra), Filipe Louro (contrabaixo) e Pedro Melo Alves (bateria) estrearam-se em disco com Getting All the Evil of the Piston Collar! (2015, Carimbo Porta-Jazz). Culturgest, quinta-feira 2 de Março, 21.30, 6€. Rodrigo Amado Quartet: O saxofonista lidera um grupo de improvisadores internacionais de primeiro plano, com Joe McPhee (sax e trompete), Kent Kessler (contrabaixo) e Chris Corsano. O quarteto pode ser ouvido em This Is Our Language (2015, Not Two). CCB, sábado 4 de Março, 21.00, 10-12€.
Em 1961, o guitarrista Charlie Byrd fez parte de uma embaixada cultural que foi ao Brasil mostrar o jazz norte-americano e ficou fascinado com a bossa nova, um género então ainda com poucos anos de vida – Chega de Saudade, o álbum de estreia de João Gilberto, fora editado apenas dois anos antes. De regresso aos EUA, mostrou os discos de bossa nova que comprara no Brasil ao saxofonista Stan Getz, que também ficou cativado e convenceu o produtor Creed Taylor, da Verve, a registar um disco. Taylor não se arrependeria da aposta, pois o disco, Jazz Samba, editado em 1962, trepou até ao primeiro lugar do top. Não era frequente que o jazz figurasse nos lugares cimeiros das vendas e logo vários outros jazzmen se apressaram a explorar o filão, por iniciativa própria ou empurrados pelas editoras. Oportunismos à parte, a verdade é que o jazz – e em particular o jazz mais cool – e a bossa nova tinham afinidades e o seu conúbio gerou frutos deliciosos. A partir de meados da década, o interesse do público declinou e o jazz tomou outro rumo. Em décadas mais recentes o namoro entre jazz e bossa nova seria retomado, mas agora na área do jazz vocal, embora com menos felicidade: o “jazz samba” cultivado pelas cantoras de hoje não passa de um smooth jazz com discretos condimentos tropicais.
A Austrália, uma ilha maioritariamente ocupada por desertos escaldantes, parece ser, tal como a Islândia, uma ilha maioritariamente ocupada por desertos glaciais, solo fértil para o talento musical. Passemos por cima de Crowded House, INXS, AC/DC, Men At Work, Midnight Oil, Kylie Minogue e Natalie Imbruglia, por serem sobejamente conhecidos e dispensarem publicidade adicional, e também por cima de The Birthday Party, Nick Cave, Dead Can Dance e SPK, por a sua área não ser a pop, e concentremo-nos no indie pop. Na falta de uma investigação científica que revele que viver de cabeça para baixo favorece a criação de canções perfeitas, maravilhemo-nos com 10 discos de 10 bandas que vale a pena conhecer entre a rica e pouco conhecida produção do Down Under, que é como o mundo anglo-saxónico costuma designar a Austrália e a Nova Zelândia.
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