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Dez versões de “My Funny Valentine”: vol. 2

Após a sugestão de dez versões clássicas deste standard de Rodgers & Hart, eis dez versões mais recentes e menos convencionais.

Escrito por
José Carlos Fernandes
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São bem conhecidas as leituras de “My Funny Valentine” por Chet Baker – que dela deixou gravadas uns 40 registos diferentes –, Frank Sinatra ou Ella Fitzgerald, mas a canção de Richard Rodgers e Lorenz Hart continuou a seduzir os músicos de jazz das gerações seguintes, de Keith Jarrett aos Bad Plus, e até gente muito distante do jazz como Nico e Girls Against Boys. Depois de dez versões gravadas entre 1953 e 1958 que se tornaram clássicos deste standard, voltamos à carga com uma segunda dezena de versões – mais recentes e menos convencionais do tema.

Recomendado: Dez versões clássicas de “My Funny Valentine”

10 versões de “My Funny Valentine”: vol. 2

Michel Petrucciani

Ano: 1984
Álbum: Note’n Notes (Owl)

Quando registou em piano solo esta comovente versão de “My Funny Valentine”, Petrucciani tinha apenas 22 anos mas parecia já ter toda a sabedoria do mundo (o que não é assim tão estranho, pois já tinha gravado oito álbuns antes deste).

Keith Jarrett

Ano: 1986
Álbum: Still Live (ECM)

O Standards Trio do pianista Keith Jarrett, com Gary Peacock (contrabaixo) e Jack DeJohnette (bateria), não poderia deixar de fora do seu repertório um standard como “My Funny Valentine”. Esta versão provém de um concerto em Munique, a 13 de Julho de 198, mas a canção surge também no álbum Up For It, gravado ao vivo em Juan-les-Pins, em 2002.

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Kenny Barron & Buster Williams

Ano: 1986
Álbum: Two As One (ECM)

Se, na década de 1950, “My Funny Valentine” foi divulgada sobretudo por trompetistas e saxofonistas, a partir dos anos 80 parecem ter sido os pianistas os seus mais empenhados advogados. Esta versão em duo do pianista Kenny Barron com o contrabaixista Buster Williams provém de um concerto no Teatro Morlacchi, em Perugia, no Umbria Jazz Festival.

Enrico Pieranunzi

Ano: 1989
Álbum: No Man’s Land (Soul Note)

O pianista italiano Enrico Pieranunzi (n. 1949) gravou por duas vezes com Chet Baker (1929-1988) na fase final da carreira deste e quer em Soft Journey (1979-80), co-liderado por Baker e Pieranunzi, quer em Silence (1987), creditado a Charlie Haden, há um “My Funny Valentine”, que se tornara numa composição-fetiche do trompetista. Não é de excluir que o convívio com Baker tenha contribuído para que Pieranunzi tornasse “My Funny Valentine” numa peça central do seu repertório. Esta arrebatadora versão provém de um álbum em trio, com Marc Johnson (contrabaixo) e Steve Houghton (bateria).

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Enrico Rava & Paolo Fresu

Ano: 1999
Álbum: Shades of Chet (Via Veneto)

Dez anos após a morte de Chet Baker, dois magistrais trompetistas italianos juntaram-se para lhe prestar homenagem, num álbum com repertório que lhe ficou associado. O lirismo e fluidez de Rava e Fresu e a subtileza da secção rítmica, com Stefano Bollani (piano), Enzo Pietropaoli (contrabaixo) e Roberto Gatto (bateria), convergem numa das mais poéticas versões de “My Funny Valentine” de sempre.

Jacky Terrasson

Ano: 2002
Álbum: Smile (Blue Note)

O trio do pianista Jacky Terrasson, com Sean Smith (contrabaixo) e Eric Harland (bateria), desconstrói “My Funny Valentine” de alto e baixo e injecta-lhe uma energia azougada. A “favorite work of art” é obviamente da escola cubista e tem os dois olhos do mesmo lado do nariz. Terrasson é um pianista franco-americano nascido em Berlim em que confluem a tradição do bebop – com Thelonious Monk e Bud Powell como figuras tutelares – e a música para piano francesa do início do século XX.

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Richard Galliano & Guillaume de Chassy

Ano: 2013

Esta versão não faz parte de álbum algum – provém de uma sessão no Studio 105 da Radio France – e tem uma instrumentação original: acordeão e piano. Nos últimos segundos, Galliano introduz uma breve citação de “La Vie en Rose” – o jazz vive destas liberdades e destes curto-circuitos entre universos.

The Bad Plus

Ano: 2001
Álbum: Blunt Object: Live in Tokyo (Columbia/Sony)

Ethan Iverson (piano), Reid Anderson (contrabaixo) e David King (bateria) são cirurgiões plásticos munidos de um perverso sentido de humor e de bisturis rombos e encarregam-se de fazer com que o perfil deste de “My Funny Valentine” seja seguramente “less than Greek”e “unphotographable”. O álbum Blunt Object restitui um concerto no clube Blue Note, de Tóquio, em 2004, mas “My Funny Valentine” é um bónus (ou um malus, consoante o ponto de vista) proveniente de uma gravação pirata de uma actuação em Nova Iorque em Outubro de 2001. Quando perguntaram ao trio se estavam a tocar os acordes da canção eles admitiram que... bem, não. “E Ethan estava a cantar escondido atrás do piano”.

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Nico

Ano: 1981
Álbum: Drama of Exile (Aura)

Esta versão é alheia ao mundo do jazz, mas não poderia faltar num balanço das versões de “My Funny Valentine”. Nico gravou dois álbuns logo após a participação como cantora no álbum de estreia dos Velvet Underground, em 1967, mas a sua carreira subsequente é muito rarefeita: quatro álbuns entre 1970 e 1985 e depois, em 1988, houve aquele estúpido acidente de bicicleta em Ibiza, e ela deixou este mundo. Mas é legítimo perguntar, ao ouvir a sua trágica, hierática e desolada versão de “My Funny Valentine”, se Nico alguma vez fez parte deste mundo.

Girls Against Boys

Ano: 1993
Álbum: Chairman of the Board (Grass Records)

Em 1993, alguém teve a ideia de fazer um pouco ortodoxo álbum de tributo a Frank Sinatra – Chairman of the Board: Interpretations of Songs Made Famous by Frank Sinatra – com obscuras bandas indie norte-americanas, com os Girls Against Boys, os Swell e os Flaming Lips a fazerem de cabeças de cartaz. Os Girls Against Boys apropriam-se completamente da canção e pouco sobra de reconhecível.

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