Casper Clausen nasceu na Dinamarca, mas é um rapaz de Lisboa há cerca de três anos. Mudou-se para cá em busca de uma vida mais "tranquila", e é a partir daqui que lidera os Efterklang e desenvolve os seus outros projectos. Quarta-feira, vai estar com os Efterklang no Lisboa Ao Vivo, a apresentar o álbum Altid Sammen. Antes, passeámos com ele por Santos e acabámos a comer rolinhos de arroz num pequeno e pacato restaurante onde ele costuma parar, chamado OnigiriA, na Rua Vicente Borga.
Os Efterklang não lançavam um álbum há sete anos. Sei que nunca se separaram, e até começaram uma nova banda juntos, os Liima, mas é difícil não encarar este disco como um regresso. Só que voltaram diferentes. Tanto que agora até cantam em dinamarquês. Porquê?
Já era algo que queria fazer há muito tempo, e depois da nossa pausa decidi avançar com a ideia. Sempre me interessou cantar em dinamarquês, até por ser uma língua exótica para a maioria das pessoas. E isso vai ao encontro do que sempre quisemos fazer com os Efterklang, que era uma música universal e que queríamos que chegasse a todo o mundo.
Nunca tinhas cantado em dinamarquês?
Não. Sempre cantei em inglês. Quer dizer, já tinha cantado em dinamarquês em festas e assim, com amigos. Mas nunca com uma banda.
Estavas a dizer que querias que a vossa música chegasse a toda a gente. Não tens medo que aconteça o contrário? Que percas ouvintes por não cantares em inglês?
Pode acontecer, mas não tenho medo. Sempre ouvi música em alemão e português, até em islandês, e a língua nunca foi uma barreira. Se gosto da música não preciso de perceber as palavras. Espero que as outras pessoas pensem da mesma forma. E, caso alguém queira saber o que estamos a dizer, nós fizemos umas traduções para inglês muito porreiras.
Eu estou curioso: sobre o estás a cantar?
Sobre diferentes pequenas coisas. Mas há ideias de solidão e pertença que são transversais a várias canções. Por exemplo, o facto de sermos parte de algo maior, mesmo quando estamos sozinhos. A primeira canção, “Vi er uendelig” pode traduzir-se por “Somos eternos”, e é uma celebração daquilo que crias com alguém e que continua mesmo depois de as pessoas se separarem. É eterno. E o título do disco – Altid Sammen – quer dizer “sempre juntos”. Tem tudo a ver com esta ideia de união de que te falava, com o facto de qualquer coisa que fazemos juntos ser mais significativa do que aquilo que fazemos sozinhos. Não sei se foi por estar a cantar em dinamarquês, mas dei por mim a pensar muito nesta vaga de nacionalismo que assola o mundo, e na forma como as fronteiras estão a ser reenquadradas.
O nacionalismo também está a crescer na Dinamarca, certo? Sei que o Partido Social Democrata [de centro-esquerda] ganhou nas últimas eleições, e que formou um governo com o apoio da esquerda parlamentar. Mas tanto quanto sei os sociais-democratas tiveram de cooptar um discurso nacionalista para ganharem.
Sim. O Partido Social Democrata derrotou os Liberais, que estavam no governo com o apoio da direita. E ganharam, em parte, porque adoptaram um discurso anti-imigração. Além disso, também entraram para o parlamento novos partidos de direita ainda mais radicais.
É um mal generalizado. E achas que no próximo álbum vão continuar a cantar em dinamarquês ou vão voltar ao inglês?
Não sei. Às vezes penso nisso, mas por enquanto não faço ideia do que vai acontecer. Vamos gravar um pequeno EP brevemente, com mais canções dinamarquesas, na onda do Altid Sammen, e vamos continuar a cantar em dinamarquês, ao vivo e assim, durante pelo menos um ano. Mas quando começarmos a fazer o próximo disco, talvez daqui a um ano e meio, tudo pode acontecer. Podemos até cantar numa terceira língua, ou em várias. Está tudo em aberto.