A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
Hot Chip
DR

Hot Chip: "Quando oiço o primeiro disco, parece-me tonto"

Faltavam poucas semanas para o concerto no NOS Alive quando nos sentámos à conversa com Owen Clarke e Joe Goddard dos Hot Chip. Só vão actuar a meio da madrugada, mas trazem novidades e disco novo na mala.

Cláudia Lima Carvalho
Escrito por
Cláudia Lima Carvalho
Publicidade

Ao sétimo disco, os britânicos Hot Chip ainda surpreendem. No sucessor de Why Make Sense (2015), decidiram fazer tudo diferente e pela primeira vez trabalharam com produtores de fora: Philippe Zdar (Phoenix, Cassius), que morreu tragicamente no mês passado, quando saiu A Bath Full of Ecstasy, e Rodaidh McDonald (The XX, David Byrne). Uma decisão aplaudida por fãs e crítica. Owen Clarke, Joe Goddard, Al Doyle, Felix Martin e Alexis Taylor não querem fazer mais do mesmo. Estão mais velhos, mas nem por isso deixam de nos pôr a dançar.

Nunca estiveram tanto tempo sem um disco novo. O que aconteceu?
Joe Goddard: Não foi planeado. O Al Doyle esteve a escrever o disco dos LCD Soundsystem e andou em digressão durante cerca de dois anos, e queríamos esperar por ele. E tanto eu como o Alexis lançámos discos a solo. Mas até soube bem fazer uma pausa mais prolongada porque quando nos juntámos outra vez soube a novo, foi entusiasmante.

Este disco está mais maduro. Foi consciente?
JG: Não sei, provavelmente acontece porque estamos realmente mais velhos. Na maior parte do tempo, não me sinto uma pessoa madura. Mas quando agora oiço o primeiro disco que gravámos parece-me um bocado tonto. Havia muita brincadeira. Muitas pessoas falaram disso na altura, de como não nos levávamos demasiado a sério. Acho que ao longo dos anos nos fomos afastando disso, até porque à medida que vamos envelhecendo sentimos que é cada vez mais estranho tocar essas músicas. Talvez, subconscientemente, essa seja a razão. A música continua a ser divertida, apesar de liricamente estar mais madura, mas isso também se deve aos tempos em que vivemos politicamente. É um momento sério. Alguns de nós já têm filhos. E isso leva-nos para um caminho mais maduro.

É por isso que o disco é mais pequeno?
JG: Isso foi a nossa editora. Disseram-nos que era muito longo.
Owen Clarke: Mas as músicas até são bastante grandes.
JG: Tínhamos mais músicas. Um dia, combinámos um jantar em minha casa para celebrar o facto de termos acabado o disco. E depois a editora disse que tínhamos de tirar músicas.

Como é que reagiram?
JG: Não foi bom. Foi um bocado um choque. Mas no final o disco ficou melhor.
OC: A verdade é que 13 canções é muito. Não precisa disso.
JG: Sim, alguns dos nossos discos antigos deviam claramente ter sido mais curtos.
OC: Ninguém nos disse nada [risos].
JG: Acho que acontece com todas as bandas, querermos mostrar que conseguimos fazer uma enorme variedade de música e pôr tudo num disco.

Pela primeira vez, foram buscar produtores de fora. O que é que queriam mudar?
JG: Depois de termos feito seis discos por nós, acho que acaba por ser previsível. Queríamos ser desafiados. Eles levaram-nos a trabalhar mais duro, apresentaram-nos novas opções em termos de equipamentos ou software que nem sabíamos que existiam. Algumas das coisas foram só isso, outras foi levarem- -nos a tentar melhorar as músicas. Além disso, quando há cinco de nós na banda, não há uma pessoa que tome todas as decisões. Tentamos que seja um processo democrático e por isso é bom ter alguém de fora a fazer sugestões e a ter o poder de dizer que vamos fazer isto porque é melhor. Nenhum de nós na banda tem realmente autoridade para dizer isso.

Saíram da vossa zona de conforto.
JG: Acho que sim. Às vezes, fizeram-nos sugestões a que torcemos o nariz. Por exemplo, na “Spell” há uma quebra enorme no meio, são cerca de dois minutos. Isso foi uma coisa que o Phillipe sugeriu que incluíssemos e eu não estava seguro. Estava sempre a perguntar se ele tinha a certeza. Mas vai ser assim tão longo? Tens a noção que isto é longo? Agora, fico muito satisfeito por termos confiado. Já vi acontecer com outras bandas, quando contratam um produtor e lhe pagam imenso dinheiro mas depois rejeitam tudo o que sugere. Isso é um disparate e por isso tentámos estar de mente aberta. A verdade é que isso fez com que o disco soasse diferente das coisas que fizemos no passado.

Como é que tem sido tocar o novo material ao vivo?
OC: Acho que ainda estamos a tentar perceber como é que o tocamos.

E como tem sido o feedback?
OC: Terrível [risos]. Sempre que dizemos que vamos tocar coisas novas, o público fica na dúvida. Sabe que provavelmente vai ser bom, mas é uma questão de confiança. É mais fácil e confortável quando se conhecem as músicas.
JG: Mas tem corrido bem. Estamos ansiosos por tocar mais canções deste disco na época dos festivais.

Já que falam nisso, por que é que só vêm a Portugal em festivais?
JG: É muito difícil fazer com que concertos em salas fechadas funcionem para nós em termos económicos. Adoraríamos fazer uma série de concertos desses em Portugal, mas iríamos perder dinheiro. Se calhar é o que temos de fazer, mas é difícil garantir que funcione. O que é uma pena.

O que podemos esperar do concerto no NOS Alive?
OC: Temos as três músicas novas.
JG: Já estamos a trabalhar em mais. Vamos adicionando novos temas [no alinhamento] à medida que o álbum sai e as pessoas começam a conhecer. Temos trabalhado muito para os concertos, desenvolvemos novas versões de músicas antigas e temos feito uma cover de “Sabotage” dos Beastie Boys, que são uma banda importante para nós. Isso tem sido incrível. Quando a tocámos em Londres, até fiquei preocupado porque se formou um moche. Não estamos habituados.

Foram notícia por terem tocado essa música.
JG: É verdade e tem sido muito divertido tocá-la porque a maior parte do nosso set é música disco. Toda a gente na banda fica muito excitada por tocar a “Sabotage”.

E porquê essa música?
JG: O Alexis tinha sugerido que fizéssemos uma cover. No passado, fizemos versões de Springsteen e Prince, e achámos que seria uma coisa invulgar para fazermos agora.
OC: Além disso é muito curta, são dois minutos e meio. E todos adoramos tocá-la, o baixo é divertido de tocar, a bateria, a guitarra. É muito simples. E tem piada porque parece que as pessoas só se apercebem que a tocámos no fim. Isto acabou de acontecer? É óptimo.
JG: Mas agoratoda a gente está à espera que a toquemos porque está na internet. 

+ NOS Alive: dez concertos a não perder

Música falada

  • Música

Com os Sonic Youth, Thurston Moore revolucionou a arte do ruído. Alterou o curso do rock entre fúrias experimentais e epifanias espirituais, torturou guitarras e estraçalhou cordas em busca dos sons mais viscerais. Em três décadas com a sua antiga banda e uma discografia com centenas de edições a solo, em colaborações ou com outros projectos, Thurston Moore adicionou subversão a tudo o que fazia. 

  • Música

A história de Milton Nascimento é uma síntese da beleza, do sofrimento e da diversidade do povo brasileiro. Nasceu em 1942 na Tijuca, no Rio de Janeiro, filho de uma empregada doméstica que foi abandonada grávida pelo namorado. Antes de completar dois anos, a sua mãe morreu com tuberculose. Foi adoptado por um casal de classe média e mudou-se para Três Pontas, em Minas Gerais. Sendo uma das poucas crianças negras naquela pequena cidade, sofreu diariamente com o preconceito. A música indígena e as canções rurais do seu estado adoptivo influenciaram os anos de crescimento e reverberaram nas suas canções.

Publicidade
Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade