Por toda a cidade há concertos. Há bandas de rock e suas derivações, artistas populares de diferentes proveniências, metais leves e pesados, música portuguesa e estrangeira, inevitavelmente americana mas não só. Há concertos para todos os gostos e carteiras, é o que queremos dizer. Só que nem todos são iguais.
★★☆☆☆
Muita da porosa escrita sobre Assume Form, o mais recente disco de James Blake, prende- se com o facto de, aparentemente, ser um disco mais feliz e luminoso. Segundo esta narrativa, o cantor, compositor e produtor britânico trocou Londres por Los Angeles e está feliz, ou pelo menos apaziguado, numa relação com uma actriz conhecida da televisão, Jameela Jamil, dá-se com uma data de artistas famosos – Kendrick Lamar, Frank Ocean, Kanye West, Beyoncé, Jay-Z, etc. – e começou a ter mais cuidado com a saúde mental. A té faz tweets todo indignado, a queixar-se por o caracterizarem como “um rapaz triste”. Está um homem novo, dizem, e até é capaz de verdade. Mas dizer que o novo álbum é radicalmente diferente do que veio antes é mentira.
A música de James Blake, obviamente, mudou com os anos e há uma grande diferença entre o pós-dubstep dos primeiros EP e a pop electrónica do presente. Mesmo assim, muitas destas faixas podiam perfeitamente aparecer num disco anterior de Blake. O que não seria um problema se os discos anteriores dele não fossem uma seca. James Blake sempre foi um chato. E chato continua em Assume Form. As letras são confessionais e solipsistas, a toada é geralmente melancólica, falta força e vigor à base instrumental e às produções, mesmo quando até são teoricamente interessantes. A maior parte das canções sucedem-se e confundem-se umas com as outras, indiferenciadas e inconsequentes.
No meio disto tudo, o melhor são mesmo os convidados. Moses Sumney não é brilhante, mas a batida trap arabesca da faixa em que ele entra, “Tell Them”, é das melhores coisinhas do álbum; Travis Scott é óptimo em “Mile High”, com a sua voz a salvar a canção do marasmo blakeano; e André 3000 é simplesmente genial em “Where’s The Catch”, que tem qualquer coisa de Wu-Tang Clan, e as suas rimas mais parecem uma injecção de adrenalina no coração. O problema é que André 3000 depois se cala e ficamos sozinhos com James Blake. Outra vez. Ainda há que aguentar mais quatro faixas, e é difícil não pensar: por que é que não estamos a ouvir um CD dos Outkast, o duo de André 3000 and Big Boi, em vez disto? Nem é preciso de gostar de Outkast, mas sempre vai ser melhor.