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João Cabrita
©Ana ViottiJoão Cabrita

João Cabrita, de frente para a luz

João Cabrita sobe ao palco do Teatro Maria Matos na segunda-feira. Falámos sobre o concerto e sobre o que está para vir.

Escrito por
Tiago Neto
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Na música, como na escrita, há fenómenos de invisibilidade apenas identificados pelos mais atentos. Peças constantes e fundamentais do trabalho, que se diluem ora em projectos colectivos ora em páginas por eles escritas, sem nunca assumirem o foco directo da luz. Não é medo ou vergonha, é uma decisão consciente, resultado directo de um autoconhecimento profundo, e da crença no valor que podem trazer a cada novo desafio.

João Cabrita, músico, é um dos protagonistas nacionais destes fenómenos, mas não o é de agora. O saxofonista tem vindo a assinar, ao longo das últimas três décadas, trabalhos e colaborações que vão dos Kussondulola a Sérgio Godinho, de The Legendary Tigerman a Cais Sodré Funk Connection. Os Sitiados, Despe e Siga, os Dead Combo, todos marcados pelo trabalho do músico e compositor lisboeta.

O percurso, contudo, nunca se condensou num disco, num espaço verdadeiramente seu, mas isso está prestes a mudar. “Apercebi-me de que em 2019 fazia 30 anos de carreira. Como nessa altura estava a atingir um ponto de bloqueio criativo, queria [fazer] alguma coisa que funcionasse como um trigger. Foi aí que comecei a pensar nestes anos todos que tenho às costas e achei pertinente começar a chamar pessoas para este disco.”

Não que isso não o deixasse receoso; afinal, pela primeira vez, e apesar de conhecer de trás para a frente todo o processo de fazer um disco, este seria da sua inteira responsabilidade. Dele, que preferiu sempre ser a peça de engrenagem. “Assusta um bocadinho. É muito fácil fazeres as coisas quando estás no projecto de outra pessoa, para lhe potenciar o trabalho; não estás tu sujeito a julgamento do público, de crítica, dos teus colegas”, diz. No entanto, o impulso para compor deixou-o tranquilo – “porque tenho tido a sorte de ter carta branca em todos os projectos em que estive. E na verdade só não aconteceu mais cedo porque não calhou.”

Cabrita, disco homónimo, chega a 1 de Outubro deste ano (edição da Omnichord Records) e está recheado de talentos criteriosamente escolhidos consoante a necessidade de cada composição. Hélio Morais (Paus, Linda Martini), Gui (Xutos e Pontapés, que co-assina o primeiro single, “Whatever Blues”), João Gomes (Cais Sodré Funk Connection), Sam The Kid, Tó Trips (Dead Combo, e parceiro em “Dancing With Bullets”, o segundo single) ou Paulo Furtado (The Legendary Tigerman) são alguns dos nomes chamados a construir as faixas com ele. “É um disco povoado.” Em marcha está também o plano de unir os primeiros quatro videoclipes numa curta-metragem, assinada por Miguel Leão (Comicalate). “É um miúdo extremamente criativo e a quem eu dei liberdade total”, revela João Cabrita.

Entretanto, vai actuar no ciclo de espectáculos que marcam a reabertura do Teatro Maria Matos. Sobe ao palco a 3 de Agosto, segunda-feira. “O espectáculo é todo centrado nos temas do disco. Por essa altura já teremos três singles cá fora e, por lá, vou ter uma banda incrível a acompanhar-me, constituída pelo João Capinha, que toca com o Bruno Pernadas, o André Murraças e o Gonçalo Prazeres, que tem tocado com os Dead Combo. Depois tenho o João Rato, teclista e guitarrista, e o Filipe Rocha, baterista de Sean Riley & The Slowriders.” A estes, junta-se ainda Surma.

O concerto funciona como pré-apresentação de Cabrita, a derradeira oportunidade de o público ouvir o trabalho antes de este ser lançado em disco. Até porque o músico não gosta de se demorar muito nos temas, acabando por fazer quase tudo por instinto. E é assim que ele quer manter a sua música. “Eu sou conhecido por ser rápido a fazer as coisas, o meu método é: o primeiro take é o melhor, as segundas ideias já te fazem duvidar e a energia já lá não está. A música tem que ser viva, e para isso temos de pensá-la pouco. É muito instintivo.”

Teatro Maria Matos. Seg 21.00. 10€.

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