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Vento Norton

Falámos com os Norton para antecipar o novo álbum, ‘Heavy Light’, que será editado no início de Julho

Escrito por
Tiago Neto
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Um álbum pode ser muita coisa, se o soubermos ouvir: um recado, um manifesto, um testemunho, um diário de bordo não planeado. Heavy Light, o quinto álbum de estúdio dos albicastrenses Norton, que será editado a 3 de Julho, não foi pensado para qualquer uma destas hipóteses. Mas ao percorrer as nove faixas, e ao mergulhar sob a ondulação das guitarras e vozes, estão recortes líricos que, mais do que em canções, podiam estar inscritos em cadernos manuscritos. “A única coisa pensada nesse aspecto, que quisemos mudar, foi a nível lírico”, diz Rodolfo Matos, um dos fundadores do grupo e o responsável pelo baixo e pelas teclas. “Queríamos fazer uma coisa mais directa, com que as pessoas se pudessem identificar, mas é interessante ver o que as pessoas podem tirar.”

A verdade é que a música tem dentro essa beleza do limbo: se hoje sair do estúdio e chegar a um disco, no futuro é tanto do público como de quem a imaginou e compôs. Os Norton parecem confortáveis com a ideia de partilhar essa responsabilidade – agradecem-na até. “Acaba por ir ao encontro de uma coisa que costumamos dizer: que fazemos música mais com o coração do que com a cabeça. É genuíno e honesto.” Manuel Simões, guitarrista, o último a integrar a banda, em 2009, diz que “é assim que se dá nova vida às canções”, e Pedro Afonso, o autor das letras, concorda. “Há aqui um significado muito forte e pessoal em cada letra. Cada canção remete para um cenário, e é natural que as pessoas se identifiquem”, afirma o também vocalista e guitarrista.

Heavy Light não foi um disco difícil de fazer, apesar das circunstâncias. Mesmo que o intervalo temporal o negue (o antecessor, Norton, é de 2014), Rodolfo Matos justifica o interregno com o tempo de estrada entre 2014 e 2016, que acabou por empurrar a composição para segundo plano. Mais recentemente veio a pandemia, um outro desafio, mas aí o plano já estava em curso. “Enviávamos coisas uns aos outros e trabalhávamos as ideias em sala. Outras canções surgiram com o Pedro, em casa. Vamos reinventando a composição, é sempre nova a cada disco, e isso é importante”, diz Manuel. Pelo meio, na construção, passaram também por Lisboa, Vila Velha de Ródão, Castelo Branco e pela vila alentejana de Mértola, onde seria gravada a parte final do disco.

A banda tem hoje quase duas décadas de existência, que serão celebradas em 2022, e pelo caminho ficou o trabalho de Pictures From Our Thoughts (2004), Kersche (2007), Layers of Love United (2011) e Norton (2014). Numa altura em que a internet impera como o principal meio de consumo de música, seria de esperar que Heavy Light fosse, também ele, um produto digital. Mas não. Ou não completamente. Para os rapazes, há um valor intrínseco no toque, na experiência, um “romantismo” – descrito por Pedro Afonso –, que lhes valeu a decisão. “Heavy Light é isso, o equilíbrio do peso das coisas, teres um disco na mão, folheares. Isso é a história da banda, também. Há uma parte romântica à volta disto”, corrobora Rodolfo. “Acabamos por ter essa parte romântica porque somos nós que tratamos de tudo, não temos uma editora por trás. Ainda há 15 dias estivemos a embalar vinis. Há esse romantismo, tratar as coisas com carinho, isso tem um significado especial.”

Ainda lhes falta muito caminho, diz Manuel. E a cada novo disco “abre-se outra porta e essa porta dá-nos outras oportunidades”, mas do alto destes anos, olhando para o que foi feito e para o que está pela frente, a vontade de tocarem juntos mantém-se ilesa, “nem que seja para chegar à sala e estar duas horas à conversa”. Nem que para isso tenham de mudar de vida, como fez Pedro Afonso, ao trocar Lisboa por Castelo Branco para se dedicar à música, e para ver florescer a banda como um projecto de raízes ainda mais fortes.

“Isso é outra das leituras para o nome do disco, contra aquela rapidez com que as coisas acontecem. Nós achamos que a viagem é mais interessante do que o destino, e é esse Heavy Light, as coisas mais difíceis são as melhores de conseguir”, termina Rodolfo.

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