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The Beatles
©EMI

Nove canções dos Beatles recriadas pelo jazz

No ano em que se assinalam os 50 anos de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, é bom lembrar que os Beatles têm sido uma fonte de inspiração para os músicos de jazz

Escrito por
José Carlos Fernandes
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A irrupção dos Beatles na cena musical foi um fenómeno avassalador e teria, no médio prazo, consequências funestas para o jazz, desviando parte do seu público jovem para a órbita do pop-rock. Alguns jazzmen exprimiram publicamente o seu distanciamento (e até desprezo e hostilidade) em relação à pop, mas outros apressaram-se a tentar tirar partido da popularidade das suas canções. Há que reconhecer que, salvo raras excepções, nos primeiros tempos nem todas as apropriações das canções dos Beatles foram felizes e que foi preciso esperar pelo final dos anos 90, para uma abordagem mais subtil e original.

Nove canções dos Beatles recriadas pelo jazz

“All My Loving”, por Duke Ellington

O original: With the Beatles (1963, Parlophone)

A versão: Ellington ’66 (1965, Reprise)

Um ano depois da “invasão” dos EUA pelos Beatles, Duke Ellington incorporou duas canções dos Fab Four (a outra é “I Want To Hold Your Hand”) em Ellington ’66, álbum com programa assaz ecléctico, que junta clássicos de sua lavra, como “Satin Doll”, a êxitos de Henry Mancini e Sacha Distel. Poderá estranhar-se a menção a 1966 num disco lançado em 1965, mas o título rege-se pelo princípio então seguido pela indústria automóvel americana, de datar os modelos com um ano de avanço sobre o seu lançamento.

“Do You Want To Know a Secret?”, por Count Basie

O original: Please Please Me (1963, Parlophone)

A versão: Basie’s Beatle Bag (1966, Verve)

Basie foi mais longe que Ellington e em 1966 consagrou um álbum a versões de Beatles; repetiria o exercício com Basie on the Beatles, em 1969, numa altura em que o jazz passava por terríveis apuros devido à deserção maciça do seu público e ao consequente desinteresse das editoras. A ingénua “Do You Want To Know a Secret?” ganha sofisticação e sensualidade nesta versão para big band, em que Basie troca o piano pelo órgão (como, aliás, no resto do álbum).

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“Norwegian Wood”, por Buddy Rich

O original: Rubber Soul (1965, Parlophone)
[não disponível na internet, por questões de direitos de autor]

A versão: Big swing face (1967, Pacific Jazz)

A partir de 1966, o fenomenal baterista Buddy Rich consagrou-se quase exclusivamente ao formato big band. Big Swing Face, o segundo álbum da Buddy Rich Big Band capta a excitação de um concerto ao vivo no Chez Club, em Los Angeles.

“Blackbird”, por Brad Mehldau

O original: The Beatles (1968, Parlophone)

A versão: The Art of the Trio vol. 1 (1997, Nonesuch)

The Art of the Trio vol. 1 marca a entrada na maturidade do trio de Mehldau (com o contrabaixista Larry Grenadier e o baterista Jorge Rossy), confirmando as promessas de Introducing Brad Mehldau (1995). “Blackbird” é a única canção pop do programa, ao lado de originais de Mehldau e standards, mas os álbuns seguintes do trio viriam a ser pontuados por canções de Radiohead, Nick Drake, Paul Simon, Oasis, Nirvana, Soundgarden, Alice In Chains, Sufjan Stevens e mais Beatles.

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“For No One”, por Fred Hersch

O original: Revolver (1966, Parlophone)

A versão: Sunday Night at the Vanguard (2016, Palmetto)

A canção – uma das melhores de McCartney – faz parte do álbum registado ao vivo no Village Vanguard, em Março de 2016, pelo pianista Fred Hersch com John Hébert (contrabaixo) e Eric McPherson (bateria). A versão acima provém de um concerto dos mesmos músicos no Funchal Jazz uns meses depois.

“Eleanor Rigby”, por Espécie de Trio

O original: Revolver (1966, Parlophone)

A versão: Por Outras Palavras (2016, Carimbo Porta-Jazz)

“Eleanor Rigby” é um dos momentos mais inspirados de McCartney e beneficia de um magnífico arranjo para duplo quarteto de cordas por George Martin. Foi reinventada por um trio portuense formado por Hugo Raro (piano), Filipe Teixeira (contrabaixo) e António Torres Pinto (bateria), num álbum integralmente preenchido por criativas versões de canções pop. A versão acima provém de um concerto no 6.º Festival Porta-Jazz, no Teatro Rivoli, em Dezembro de 2015.

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“She’s Leaving Home”, por Brad Mehldau

O original: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967, Parlophone)

A versão: Day Is Done (2005, Nonesuch)

Outra canção assente num soberbo arranjo de cordas, que desta vez, excepcionalmente, não foi de George Martin, o arranjador e produtor da banda, mas de Mike Leander (o que deixou Martin magoado). O trio de Brad Mehldau recriou-a em Day Is Done, um álbum sem composições originais do pianista e que é o primeiro com Jeff Ballard, no lugar de Jorge Rossy na bateria – no contrabaixo mantém-se Larry Grenadier. A versão acima foi captada ao vivo no festival Jazz Baltica, no Norte da Alemanha.

“Within You Without You”, por Django Bates

O original: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967, Parlophone)

A versão: Saluting Sgt. Pepper (2017, Edition Records)

Uma das mais audaciosas canções dos Beatles – de toda a pop. Foi composta por George Harrison, sob a influência da sua temporada na Índia a estudar com Ravi Shankar e os restantes membros do quarteto não participaram na gravação. Em 2016, o pianista, teclista e compositor britânico Django Bates recriou na íntegra o álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, com a Frankfurt Radio Big Band e o trio Eggs Laid By Tigers, em Saluting Sgt. Pepper. A versão acima provém de um concerto de Bates e dos seus colaboradores na Alten Oper Frankfurt, a 26 de Outubro de 2016.

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“And I Love Her”, por Brad Mehldau

O original: A Hard Day’s Night (1964, Parlophone)

A versão: Blues and Ballads (2016, Nonesuch)

Mais uma incursão do trio de Mehldau pelos Beatles, numa versão de extraordinária contenção e subtileza. Mehldau tem a cumplicidade de Larry Grenadier (contrabaixo) e Jeff Ballard (bateria).

Um festim de jazz

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Em 1961, o guitarrista Charlie Byrd fez parte de uma embaixada cultural que foi ao Brasil mostrar o jazz norte-americano e ficou fascinado com a bossa nova, um género então ainda com poucos anos de vida – Chega de Saudade, o álbum de estreia de João Gilberto, fora editado apenas dois anos antes. 

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É verdade que o jazz se presta particularmente a fomentar o diálogo e o respeito e compreensão mútuos, pois a sua componente improvisativa requer que os músicos se ouçam atentamente e desenvolvam um poder empático – que, nos melhores jazzmen pode mesmo ser telepático – que permite, em fracções de segundo, adivinhar as intenções dos parceiros e ajustar o discurso musical em tempo real, concedendo-lhes espaço ou complementando as suas ideias. 

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