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Domenico Scarlatti
Domenico Scarlatti por Domingo Antonio Velasco, 1738

Nove obras de Domenico Scarlatti que precisa de ouvir

Há 300 anos chegava a Lisboa Domenico Scarlatti – sugerimos-lhe nove obras para ficar a conhecer o mais famoso compositor que viveu em Portugal.

Escrito por
José Carlos Fernandes
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A 29 de Novembro de 1719, apeava-se da mala-posta vinda de Madrid o compositor italiano Domenico Scarlatti (1685-1757), um nome maior da música europeia. Domenico era filho do afamado compositor Alessandro Scarlatti e, até há poucas semanas, ocupara o posto de mestre da Cappella Giulia, na Basílica de São Pedro, em Roma, e fora contratado por D. João V para assumir o cargo de “compositor régio” e assegurar a educação musical de D. António de Portugal, irmão mais novo do rei, e da princesa Maria Bárbara, filha de D. João V e Maria Ana da Áustria.

Durante os dez anos viveu em Lisboa, Scarlatti, que ficou conhecido pelo nome de Domingos Escarlate, compôs serenatas para festividades no Paço da Ribeira e música sacra para a Sé Patriarcal. Quando do casamento de Maria Bárbara com Fernando, Príncipe das Astúrias, em 1729, Scarlatti acompanhou a sua aluna – uma cravista dotada – para Sevilha e, depois, para Madrid. Em 1746, por morte de Filipe V, Fernando e Maria Bárbara ascenderam ao trono espanhol, e Scarlatti continuou a instruir a sua discípula e a compor sonatas para cravo até à sua morte, em Madrid, em 1757.

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Nove obras de Domenico Scarlatti que precisa de ouvir

1. Tolomeo ed Alessandro

Ano e local: 1711, Roma

A ópera Tolomeo ed Alessandro ovvero La corona disprezzata, foi composta para o teatro privado da rainha polaca Maria Casimira, que, após a morte do marido, em 1696, se instalara em Roma. Scarlatti dirigiu a música da corte de Maria Casimira entre 1709 e 1714, compondo para ela um total de sete óperas. O libreto, da autoria de Carlo Sigismondo Capece, poeta da corte de Maria Casimira, tem por cenário Chipre e trata, de forma fantasiosa e rocambolesca, de conflitos dinásticos entre os Ptolemeus que governaram o Egipto entre 323 a.C. e 30 a.C. O libreto, numa versão adaptada, seria musicado em 1728 por Handel, em Londres.

[Ária “Torna Sol Per un Momento”, da ópera Tolomeo ed Alessandro, por Ann Hallenberg (contralto, no papel de Tolomeo) e Il Complesso Barocco, com direcção de Alan Curtis (Archiv)]

2. Stabat Mater a 10 vozes

Ano e local: 1715?, Roma

Em 1714, Domenico Scarlatti tornou-se assistente de Tommaso Bai, mestre da Cappella Giulia, na Basílica de São Pedro. Bai faleceu a 22 de Dezembro de 1714 e Scarlatti foi nomeado para o seu lugar. A mais notável obra que compôs para a Cappella Giulia foi um Stabat Mater a 10 vozes (4 sopranos, 2 altos, 2 tenores e 2 baixos), onde a tradição coral do final da Renascença (que teve como expoente Giovanni Pierluigi da Palestrina) se mescla com marcas expressivas típicas do barroco.

[“Sancta Mater, Istud Augas”, pelos Melodi Cantores, com direcção de Elena Sartori (Tactus)]

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3. La Contesa delle Stagioni

Ano e local: 1720, Lisboa

É a mais antiga das (pelo menos) 11 serenatas que Scarlatti compôs para festividades da corte portuguesa entre 1720 e 1728, e abrilhantou as celebrações do 37.º aniversário da rainha Maria Ana de Áustria, a 7 de Setembro de 1720. O título significa “A contenda das estações”, mas o seu tema não são as alterações climáticas, mas uma disputa entre Primavera, Verão, Outono e Inverno, sobre qual delas tem precedência sobre as outras estações – acabam por concluir, no coro “Sia d’Autunno la Corona”, que tal distinção cabe ao Outono.

[Coro final “Sia d’Autunno la Corona”, por Kari Lövaas (soprano, Primavera), Regina Marheineke (soprano), Ria Bollen (mezzo-soprano), Heiner Hopfner (tenor), Solistas Vocais de Munique e Orquestra de Câmara de Munique, com direcção de Hans Ludwig Hirsch (Tudor)]

4. Te Deum a dois coros

Ano e local: 1721?, Lisboa

A obra foi cantada na Sé Patriarcal de Lisboa, embora não possa excluir-se que o compositor tenha reciclado uma peça composta para a Cappella Giulia, em Roma. Destina-se a dois coros a quatro vozes e baixo-contínuo e combina elementos do stile antico com marcas mais modernas.

[Pelo Immortal Bach Ensemble, com direcção de Morten Schuldt-Jensen (Naxos)]

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5. Sonata K.9

Ano e local: antes de 1738

Embora Scarlatti tivesse deixado Lisboa em 1729, há provas de que terá mantido contacto com a corte portuguesa, nomeadamente através do envio de sonatas para cravo de sua lavra. Talvez tenham sido essas remessas, bem como as lições de cravo que continuou a ministrar a Maria Bárbara, que justificam que, em 1738, D. João V tenha feito o compositor cavaleiro da Ordem de Santiago. Em retribuição, Scarlatti dedicou ao rei português a colecção de 30 sonatas para cravo que fez imprimir em Londres nesse mesmo ano, com o título Essercizi per gravicembalo, e que foram as únicas que publicou na sua carreira, embora tenha composto (pelo menos) 555. Estas 30 sonatas são também as mais antigas que dele se conhecem e receberam os números 1 a 30 no catálogo cronológico publicado em 1953 por Ralph Kirkpatrick.

[Por Scott Ross (Erato/Warner)]

6. Sonata K.175

Ano e local: 1752?, Madrid

Talvez o isolamento de Scarlatti em Lisboa e Madrid, lugares periféricos da Europa musical, tenha contribuído para que desenvolvesse nas sonatas para cravo um estilo muito pessoal. A K.175 destaca-se pelas ousadas dissonâncias, sem par na música da época.

[Por Jean Rondeau]

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7. Sonata K.517

Ano e local: 1757?, Madrid

Nas 555 sonatas para cravo de Scarlatti não faltam peças que exigem uma extraordinária agilidade digital, mas só uma tem a indicação Prestissimo: é a K.517.

[Por Pierre Hantai]

8. Sonata K.519

Ano e local: 1757?, Madrid

Uma inventividade torrencial, aliada à rejeição dos formatos tradicionais das peças para cravo e ao fascínio pela música popular ibérica, permitiram a Scarlatti compor 555 sonatas sem nunca se repetir. A K.519 combina vitalidade esfuziante e ritmos caprichosos de sabor espanhol e requer um cravista de alto gabarito.

[Sonata K.519, por Andreas Staier (Deutsche Harmonia Mundi/Sony Classical)]

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9. Salve Regina

Ano e local: 1757?, Madrid

É tida como a derradeira composição vocal de Scarlatti e é uma das poucas peças sacras que parece ter composto durante o seu período espanhol. Destina-se a voz solista, cordas e baixo contínuo.

[Por Marie-Nicole Lemieux (contralto) e Orquestra Barroca Tafelmusik, com direcção de Jeanne Lamon (Analekta)]

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