Cole Porter
©DRCole Porter ao Piano

Dez versões clássicas de “What Is This Thing Called Love”

Entrou definitivamente no repertório do jazz em 1938, com Artie Shaw, e nunca mais o deixou. Eis dez versões clássicas de “What Is This Thing Called Love”.

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“O que vem a ser isto a que chamamos amor?/ Que estranha coisa é esta a que chamamos amor?/ Quem poderá resolver este mistério?/ Porque fará ele de mim um tolo?”. A letra de “What Is This Thing Called Love?” faz muitas perguntas candentes mas não esboça uma sombra de resposta. Cole Porter compôs a canção para o musical Wake Up and Dream, estreado a 27 de Março de 1929 em Londres, com apreciável sucesso – 263 representações –, e que, a 30 de Dezembro desse mesmo ano, se estreou na Broadway, onde teria 136 representações (a New Yorker rotulou-o como “um dos mais maçadores espectáculos de sempre”).

A primeira intérprete da canção, no contexto do musical, foi Elsie Carlisle, mas em Janeiro de 1930, poucos dias depois da estreia nova-iorquina, já havia músicos de jazz – como o pianista James P. Johnson – a gravar o tema. Seria com o registo de 1938 por Artie Shaw que “What Is This Thing Called Love?” entraria definitivamente no repertório do jazz.

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1. Billie Holiday

Ano: 1945
Álbum: American Decca Recordings (Decca)

Billie Holiday gravou a canção pela primeira vez com a orquestra do contrabaixista Bob Haggart, com Joe Guy (trompete), Bill Stegmeyer Armand Camgros, Hank Ross e Stan Webb (saxofones), Sammy Benskin (piano), Tiny Grimes (guitarra), Specs Powell (bateria) e um sexteto de cordas. Holiday tem a arte de instilar na canção um mistério e melancolia que contrasta com a abordagem da maioria dos cantores, que prefere assumir uma postura despreocupada perante os insondáveis enigmas do amor.

2. Dave Brubeck

Ano: 1950

Antes de, em 1951, ter formado o quarteto que lhe trouxe fama planetária, Brubeck liderou um octeto – de que já faziam parte dois futuros membros do quarteto, Paul Desmond e Ron Crotty – que gravou vários 78 rpm para a Fantasy, logrando apreciável sucesso de vendas. Entre eles está esta orquestração elaborada e original de “What Is This Thing Called Love?”.

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3. Charlie Parker

Ano: 1952
Álbum: Big Band (Clef)

As faixas coligidas em 1954 no álbum Big Band foram gravadas entre 1950-52, ainda tendo em vista a edição em discos de 78 rpm, o que determinava uma duração máxima de 3 minutos e, logo, solos concisos. Seria interessante saber o que faria Charlie Parker com “What Is This Thing Called Love?” fora do espartilho da duração limitada e do contexto de big band, mas esse é, como o amor, um enigma sem resposta.

4. Frank Sinatra

Ano: 1955
Álbum: In the Wee Small Hours (Capitol)

In the Wee Small Hours, o terceiro álbum da superlativa série que Frank Sinatra e o arranjador Nelson Riddle gravaram para a Capitol na década de 1950, tem como fio condutor os temas da paixão extinta, da solidão e da depressão, pelo que “What Is This Thing Called Love?” ganha tonalidades mais melancólicas do que é usual.

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5. Clifford Brown & Max Roach

Ano: 1956
Álbum: At Basin Street (EmArcy)

Os músicos de bebop transformaram “What Is This Thing Called Love?” de balada de tempo médio-lento num veículo para improvisação a velocidade vertiginosa: é o caso desta leitura fogosa e faiscante pelo (tragicamente efémero) quinteto co-liderado por Brown e Roach, com Sonny Rollins (saxofone), Richie Powell (piano) e George Morrow (contrabaixo).

6. Ella Fitzgerald

Ano: 1956
Álbum: Sings the Cole Porter Song Book (Verve)

Este foi o álbum que inaugurou a histórica série de “Song Books” de Ella para a Verve e foi também o primeiro disco editado pela Verve – a editora que Norman Granz criou para suceder à Clef e à Norgran. O duplo álbum, com arranjos e direcção de Buddy Bregman, é um marco da história do jazz e contém uma versão de “What Is This Thing Called Love?” muito mais cool e descontraída do que a de Holiday.

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7. Sonny Rollins

Ano: 1957
Álbum: A Night at the Village Vanguard (Blue Note)

Na longa carreira do saxofonista Sonny Rollins – que, aos 89 anos, ainda se mantém no activo – o período entre 1955-58 é mais inspirado e relevante do que toda a sua produção nos 60 anos que se seguiram e as sessões que gravou a 3 de Novembro de 1957 no clube Village Vanguard representam um dos cumes desse período. Rollins tem, nesta versão nervosa e intensa de “What Is This Thing Called Love?” (não incluída no LP original e só tornada acessível quando da reedição de 1999 em duplo CD das sessões integrais), a cumplicidade do contrabaixista Wilbur Ware e do baterista Elvin Jones (bateria).

8. Gerry Mulligan & Ben Webster

Ano: 1959
Álbum: Gerry Mulligan Meets Ben Webster (Verve)

Entre meados da década de 1950 e início da década de 1960, o saxofonista barítono Gerry Mulligan gravou vários discos em regime de co-liderança com outros nomes grandes do jazz e os resultados são quase todos memoráveis. É o caso deste álbum com o saxofonista tenor Ben Webster, na companhia de Jimmy Rowles (piano), Leroy Vinnegar (contrabaixo) e Mel Lewis (bateria), que contém esta aveludada e lírica leitura de “What Is This Thing Called Love?” (que não constava do LP original e só “emergiu” quando da reedição em CD).

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9. Bill Evans

Ano: 1959
Álbum: Portrait in Jazz (Riverside)

Portrait in Jazz foi o quinto disco de Evans como líder e o primeiro com Scott LaFaro (contrabaixo) e Paul Motian (bateria), trio que, apesar de ter tido vida breve, marcou o jazz de forma indelével. Para quem associe este trio de Evans a música lânguida, tem aqui um “What Is This Thing Called Love?” vigoroso e assertivo.

10. Julian “Cannonball” Adderley

Ano: 1960
Álbum: At the Lighthouse (Riverside, reed. Capitol)

Embora tenha sido gravado com vista para o Oceano Pacífico, ao vivo no clube The Lighthouse, em Hermosa Beach, Califórnia (nos arredores de Los Angeles), a música do quinteto do saxofonista Julian “Cannonball” Adderley é típica do hard bop da Costa Leste, como é bem patente nesta versão tensa e efervescente de “What Is This Thing Called Love?”, tocada por Nat Adderley (corneta), Victor Feldman (piano), Sam Jones (contrabaixo) e Louis Hayes (bateria). No final da peça, ouve-se “Cannonball” comentar: “Ninguém sabe realmente [o que é o amor], mas tentamos comportar-nos como se soubéssemos o que é realmente. Mas há tantas coisas que não sabemos”.

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